Danilo M. Zanello Guerisoli
C.D., Especialista em Endodontia, Pós-graduando em Endodontia
pela Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto - Universidade de São
Paulo.
e-mail
Prof. Dr. Manoel D. Sousa Neto
Professor Titular de Endodontia da Faculdade de Odontologia da
Universidade de Ribeirão Preto - UNAERP.
e-mail
Prof. Dr. Jesus Djalma Pécora
Professor Titular de Endodontia da Faculdade de Odontologia de Ribeirão
Preto - Universidade de São Paulo.
e-mail
IntroduçãoInstrumentos
manuais em aço
Instrumentos rotatórios em aço
Instrumentos mecânicos
em aço
Instrumentos sônicos e ultra-sônicos
As ligas de níquel-titânio
Instrumentos manuais
em nitinol
Instrumentos rotatórios em nitinol
Características dos instrumentosSistema
Lightspeed
Sistema Quantec
Sistema ProFile
Técnicas de instrumentaçãoSistema
Lightspeed
Sistema Quantec
Sistema ProFile
Os
instrumentos rotatórios em níquel-titânio apresentam um padrão
de desgaste dentinário diferente dos instrumentos em aço, devido à
sua cinemática de utilização e a natureza superelástica
do nitinol. O fato das limas de níquel-titânio não
necessitarem de pré-curvatura determina um desgaste irregular em canais
curvos, com quase nenhuma ação no lado interno da curva e um
desgaste excessivo do lado externo.
SCHÄFER
et al. (1995), comparando alargadores, limas tipo K e Flexofile em aço
inoxidável e limas tipo K em níquel-titânio relata que
nenhum dos instrumentos foi capaz de limpar completamente a porção
interna da curva, criando deformações em maior ou menor grau no
trajeto original do canal.
BRYANT
et al. (1998b), analisando as limas do sistema ProFile taper .04 padrão
ISO, reporta um maior desgaste na porção externa em canais com
curvatura de 40º. Este autor afirma, ainda, que de maneira geral o
transporte se dá para o lado exterior a partir da curvatura, enquanto na
porção reta do canal o desgaste é simétrico.
THOMPSON
& DUMMER (1998b), utilizando o sistema Quantec série 2000 relatam
resultados semelhantes aos encontrados por BRYANT et al. (1998b).
Uma
das maneiras de se avaliar o padrão de desgaste que estes instrumentos
imprimem ao canal é através da utilização de canais
simulados em resina. Estes canais permitem a comparação das formas
inicial e final, sobreposição das imagens e quantificação
do desgaste promovido pelo instrumento. É um método utilizado por
diversos autores, com grande sucesso (SPENST & KAHN, 1975; LIM & WEBBER,
1985; ALODEH et al., 1989; ALODEH & DUMMER, 1989; THOMPSON & DUMMER,
1997a, b, c, d).
Realizou-se
um experimento para verificar o padrão de desgaste de instrumentos rotatórios
em níquel-titânio dotados de ponta ativa cortante (Quantec series
2000) e ponta romba (NT Sensor / McXim). Blocos de resina foram construídos
de acordo com o método descrito por DUMMER et al. (1991). Primeiramente,
em uma fôrma rasa e larga, colocou-se uma espessura de 20 mm de agar-agar
e esperou-se o tempo necessário para que este solidificasse. Em seguida,
cones de prata número 20, pré-curvados em 30º, foram
colocados perpendicularmente à camada de agar, com o lado mais fino para
cima.
Um
tubo descartável de espectrofotometria, quadrado, com 1cm de lado (10 mm
macro-cuvettes, LIP Equipment Ltd., Reino Unido) tinha seu fundo removido e era
colocado cuidadosamente na superfície do agar, envolvendo o cone de
prata. Uma nova camada de agar era despejada na bandeja, selando a base dos
tubos.
Feito
isto, resina epóxi (Stycast 1266, Hitek Electronic Materials Ltd., Reino
Unido) era despejada nos tubos, envolvendo totalmente o cone de prata contido em
seu interior. Após 24 horas, os cones de prata eram retirados do interior
da resina solidificada e estas eram sacadas do molde.
Os
canais simulados eram preenchidos com tinta nanquim e fotografados em uma câmera
digital acoplada a um computador. Após a instrumentação, os
blocos eram colocados novamente em posição e fotografados. As
imagens eram então sobrepostas para observação do padrão
de desgaste.
A
Figura 14 mostra os canais simulados antes e após
a instrumentação. A Figura 15 mostra
as imagens sobrepostas.
Foram
utilizados vinte canais simulados separados aleatoriamente em dois grupos. O
primeiro foi instrumentado com limas Quantec série 2000 e o segundo com o
Sistema NT / McXim, de acordo com as recomendações do fabricante.
Com
o auxílio do software Image Tools (UTHSCSA ImageTool, versão
1.27, desenvolvido pela University of Texas Health Science Center at San
Antonio, EUA, disponível para download gratuito em
ftp://maxrad6.uthscsa.edu), foram
feitas medidas das regiões de ápice, zip apical, cotovelo e ponto
máximo da curvatura.
THOMPSON
& DUMMER (1997b) definem o zip como sendo uma área ampliada
irregularmente pela lima de memória no terço apical do preparo,
com remoção excessiva de material no lado externo da curva.
Os
mesmos autores definem o cotovelo (elbow) como sendo uma aberração
concomitante ao zip, criando uma região mais estreita no conduto.
Esta deformação é também referida como "canal
em ampulheta".
O
ponto máximo da curvatura é a região da "zona de
perigo", onde deve-se evitar desgastes excessivo sob risco de perfuração
de furca. A Figura 16 ilustra estas regiões
As
medidas foram feitas no lado interno e externo da curvatura, além do
desgaste total. Os resultados estão expressos em forma de tabela para uma
melhor visualização (Tabela 3).
Tabela 3. Valores médios do desgaste dos blocos de resina após instrumentação com limas Quantec e McXim (em milímetros, ± desvio padrão).
Lima | ||||||
Quantec | NT Sensor / McXim | |||||
Posição | Total | Externo | Interno | Total | Externo | Interno |
Ápice | 0.35 ± 0.07 | 0.10 ± 0.06 | 0.05 ± 0.02 | 0.31 ± 0.05 | 0.09 ± 0.06 | 0.02 ± 0.02 |
Zip Apical | 0.72 ± 0.10 | 0.44 ± 0.09 | 0.00 ± 0.00 | 0.58 ± 0.03 | 0.18 ± 0.03 | 0.03 ± 0.04 |
Cotovelo | 0.64 ± 0.03 | 0.24 ± 0.02 | 0.05 ± 0.09 | 0.58 ± 0.02 | 0.13 ± 0.03 | 0.12 ± 0.03 |
Ponto máx. curvatura | 0.68 ± 0.02 | 0.25 ± 0.03 | 0.05 ± 0.02 | 0.72 ± 0.03 | 0.11 ± 0.02 | 0.24 ± 0.04 |
O
teste de aderência à curva normal, aplicado aos dados
experimentais, acusou uma natureza paramétrica da amostra. A análise
de variância foi aplicada a cada uma das medidas, obtendo os seguintes
resultados:
A
quantidade total de resina removida pelas limas Quantec e McXim foi
estatisticamente semelhante no ápice do canal simulado. Entretanto, o
desgaste na porção externa da curva foi maior do que na porção
interna (p<0,05), tanto para as limas Quantec como para as McXim.
As
limas Quantec removem uma quantidade muito maior de resina quando comparadas às
limas McXim na região onde se formou o zip apical. A tendência é
o desgaste para o lado externo da curva, com pouca ação no lado
interno.
As
limas McXim mostraram um desgaste uniforme do canal, tanto na parte interna da
curvatura quanto na externa.
O
total de resina removida nesta região pelas duas limas foi
estatisticamente semelhante, porém novamente o padrão de maior
desgaste no lado externo para as limas Quantec se repetiu, enquanto as limas
McXim promoveram um desgaste uniforme das paredes do canal.
Nesta
região, houve uma alteração no padrão de ação,
pois as limas Quantec desgastaram uma quantidade menor de dentina do que as
limas McXim. Enquanto o primeiro sistema continuou agindo mais no lado externo
da curva, as limas McXim atuaram em seu lado interno com maior intensidade.
Os
resultados mostram que as limas Quantec promovem um desgaste acentuado na porção
externa da curva, com pouca ou nenhuma ação no lado interno. Este
padrão é diferente das limas McXim, que desgastam a resina das
paredes do canal simulado de modo mais uniforme, exceto na região do
ponto máximo da curva.
Este
fato pode ser explicado pela ponta agressiva das limas Quantec, que têm ação
cortante e tendem a desviar o canal para o lado anti-curvatura, devido ao efeito
memória do nitinol. A Tycom, fabricante destas limas, introduziu no
mercado há pouco tempo dois tipos de limas visando substituir a Quantec série
2000. São conhecidas como Quantec SC (ponta cortante) e Quantec LX (ponta
romba).
As
limas NT / McXim, possuindo ponta romba, ficam mais centradas no interior do
conduto. Assim, a ocorrência de desvios é bem menor, porém
deve-se observar um maior desgaste na região de ponto máximo da
curvatura. Uma possível explicação para este fato seria a
tentativa da lima retornar à sua posição original (efeito
memória), porém às custas da parte central da lima e não
da ponta (que é romba e, portanto, sem capacidade de criar um novo
caminho para acomodar-se). Os resultados obtidos neste experimento estão
de acordo e complementam os achados de THOMPSON & DUMMER (1997a, b; 1998 a,
b).
A
tentativa de simplificar a técnica de utilização dos
instrumentos rotatórios criando-se uma seqüência de limas a
ser seguida é perigosa, na medida em que instrumentar-se-ia todos os
canais da mesma forma, sem avaliar sua curvatura, amplitude e comprimento. A
filosofia de tentar adequar o canal à lima é errônea e deve
ser descartada pela indústria, deixando a responsabilidade do preparo
biomecânico ao cirurgião-dentista e não à mercê
do instrumento.
Esta página foi elaborada com apoio do Programa Incentivo à Produção de Material Didático do SIAE - Pró-Reitorias de Graduação e Pós-Graduação da USP. Copyright 1999, Departamento de Odontologia Restauradora da Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo.