AVALIAÇÃO "IN VITRO" DO pH DE ALGUNS CIMENTOS ENDODÔNTICOS QUE CONTÊM HIDRÓXIDO DE CÁLCIO

Evaluación "ïn vitro" de algunos cementos endodóticos que cotienen hidroxido de calcio

In vitro" evaluation of the ph of some endodontic sealers containing calcium hydroxide

FIDEL,RAS: SILVA, RGS; BARBIN, EL; SPANÓ, JCE; PÉCORA, JD

RESUMO & SUMMARY- INTRODUÇÃO - MATERIAL E MÉTODO - RESULTADOS - CONCLUSÕES - REFERÊNCIAS

Resumo

Estudou-se o pH dos cimentos endodônticos Sealer 26, Apexit, CRCS e Sealapex, todos contendo hidróxido de cálcio em suas fórmulas. Para tanto, confeccionaram-se corpos de prova, que foram armazenados em frascos contendo 50ml de água destilada e deionizada, lá permanecendo por uma semana. Procederam-se às medidas dos valores de pH. Todos os cimentos testados apresentaram um pH alcalino. Unitermos: pH, cimento endodôntico, hidróxido de cálcio.

SUMMARY

The pH of the endodontic sealers Sealer 26, Apexit, CRCS, Sealapex, all of them containing calcium hydroxide in their formulas was studied. Body evidences were stored for one week in glass containers with 50 ml distilled and deionized water. Determinations of the pH values were effected. All tested sealers presented alkaline pH.

Uniterms: pH, endodontic sealers, calcium hydroxide.

INTRODUÇÃO

A busca de um material ideal para obturar canais radiculares constitui uma tarefa ainda não resolvida pelos pesquisadores e clínicos.

TRONSTAD "et alii"7 (1981) estudaram a mudança de pH após tratamento endodôntico em dentes de macaco, concluindo que o hidróxido de cálcio atua ao redor das áreas de reabsorção, impedindo a atividade dos osteoclastos e estimulando o processo de reparação dos tecidos.

HYDE4 estudou "in vitro" o pH dos cimentos Sealapex, CRCS, Tubliseal e Roth 601. Os cimentos Sealapex e CRCS, que contêm hidróxido de cálcio, provocaram um aumento significante no pH da água na qual estavam submersos.

LEONARDO "et alii"6 estudaram "in vitro" a dosagem de íons de cálcio e o pH do hidróxido de cálcio associado ao paramonoclorofenol canforado (PMCC) e ao paramonoclorofenol (PMC), constatando que o pH foi semelhante nas duas associações, independentemente da presença da cânfora. Contudo, na sua presença, a liberação de íons de cálcio foi mais lenta.

ESTRELA "et alii"1 estudaram a difusão pela dentina dos ions hidroxila das pastas de hidróxido de cálcio preparadas com diferentes veículos, constatando que o pH de todas as pastas analisadas permaneceu constante por um período de 6 dias no interior dos canais radiculares.

O objetivo do presente trabalho consiste em estudar o pH de alguns cimentos endodônticos que contêm hidróxido de cálcio nas suas composições, no momento de sua espatulação até uma semana após, quando submersos no meio aquoso.

MATERIAL E MÉTODO

Avaliou-se o pH dos cimentos endodônticos Sealer 26, CRCS, Sealapex e Apexit.

Adotaram-se as relações pó/líqüido e pasta/pasta, tempo de espatulação e tempo de endurecimento dos cimentos endodônticos determinados por FIDEL2.

Primeiramente, media-se o pH imediatamente após a espatulação. Para tanto, colocava-se uma porção de 2g do cimento em um tubo de ensaio contendo 9 mililitros de água destilada e deionizada. Submetia-se esse tubo de ensaio à centrifugação por cinco minutos a 3000 r.p.m., para só então ser efetuada a medida.

Posteriormente, confeccionaram-se moldes circulares de teflon com 20 milímetros de diâmetro interno e 1,5 milímetro de espessura. Colocavam-se os moldes sobre uma lâmina de celofane sustentada por uma placa de vidro, preenchendo-os com o cimento a ser testado, inserindo-se um fio de nylon na massa do material ainda amolecido.

Posicionava-se outra placa de vidro, envolvida por uma lâmina de celofane, sobre o molde preenchido de material. Sobre a segunda placa de vidro, colocava-se uma massa de 100 gramas.

Transportava-se todo o conjunto para um ambiente à 37oC e umidade relativa de 95%.

Removia-se a massa do cimento do molde e, após retirar quaisquer resíduos ou partículas perdidas, os corpos de prova estavam prontos para o início dos testes.

Posicionavam-se os corpos de prova no interior de recipientes de vidro contendo 50ml de água destilada e deionizada, com um valor de pH igual a 6,3, de tal maneira que a amostra não tocasse as superfícies internas do recipiente e ficasse totalmente imersa no líqüido. Fechavam-se os recipientes cuidadosamente, armazenando-os em uma estufa a 37oC. Decorridas três horas, fazia-se a primeira medida do pH. Tomavam-se as medidas subseqüentes com intervalos de 24 horas, durante uma semana. Faziam-se as medições em dois corpos de prova para cada cimento e obtinha-se a média aritmética entre elas, que expressava o resultado obtido para cada material testado. Obtiveram-se os valores de pH através de um aparelho pH-meter da marca Digimed.

RESULTADOS

As médias aritméticas dos potenciais hidrogeniônicos obtidos durante os testes, estão ilustrados na

Figura 1

Procedeu-se à análise estatística, sendo utilizado o teste de Correlações Múltiplas entre os valores de pH obtidos em função do tempo. O Sealer 26 e o Sealapex apresentaram correlação ao nível de 1%, sendo que o valor de "r" calculado foi de -0,9661 e -0,9664, respectivamente, para 7 graus de liberdade e probabilidade de Hf igual a 0,00%. O CRCS e o Apexit não apresentaram correlação, sendo o valor de "r" calculado igual a 0,5745 e 0,1300, respectivamente, para 7 graus de liberdade.

O CRCS apresentou pH de 10,8 no momento da espatulação e, a seguir, elevou-se para 11, assim permanecendo durante todo o experimento.

O Sealer 26 elevou o pH da água no período imediatamente após espatulação para 11,4 e, depois de seu período de endurecimento, forneceu pH alcalino após 24 horas, sendo que perdeu lentamente sua capacidade de alcalinizar o meio e, no final do experimento, apresentou um valor de pH 8,2.

O Sealapex apresentou pH alcalino desde o momento da espatulação, ou seja, pH de 12,3, declinando até o final do experimento. Já o Apexit apresentou-se inicialmente com pH de 10,8, chegando ao final com o mesmo valor.

DISCUSSÃO

O pH é o logaritmo, de base dez, da recíproca da concentração do íon hidrogênio (VOGEL8). Portanto, quanto maior o pH, maior a concentração de ions hidroxila.

O hidróxido de cálcio em solução aquosa se dissocia em um cátion (Ca++) e um ânion (OH-), que é responsável por tornar o meio alcalino. A manutenção do pH alcalino favorece a ação bactericida (LEONARDO & LEAL5). A adição de hidróxido de cálcio em cimentos endodônticos é realizada na tentativa de melhorar o reparo apical em dentes tratados endodonticamente.

HYDE4 observou que as mudanças do pH da água proporcionadas pelos cimentos Sealapex e CRCS eram similares, diferindo do presente estudo.

Em muitas situações clínicas, atribui-se o sucesso do tratamento das perfurações, reabsorções, proteções pulpares e apicificações ao uso do hidróxido de cálcio, embora os mecanismos de ação que levem à cura ainda não estejam totalmente elucidados. Uma das teorias afirma que o hidróxido de cálcio desenvolve um pH que possibilita ambiente favorável para a atividade da fosfatase alcalina (TRONSTAD "et alii"7 e GORDON "et alii"3).

O teste de pH foi realizado no intuito de avaliar e ter noção da alcalinidade que os cimentos endodônticos testados provocam no meio que estão submersos. Observou-se que a adição do hidróxido de cálcio nos cimentos obturadores de canais radiculares promove um pH alcalino ao meio aquoso.

Estes testes foram realizados "in vitro" e no meio aquoso. Fica difícil tentar extrapolar os resultados para a situação clínica, onde cimentos entram em contato com o tecido conjuntivo vivo que apresenta um sistema tampão, neutralizando as variações de pH. Ainda mais, quando a obturação do canal radicular está confinada nos seus limites (do canal), o contato do material obturador com o tecido vivo é pequeno.

CONCLUSÕES

Com base na metodologia empregada e nos resultados obtidos, é lícito concluir que:

1 - Todos os cimentos testados apresentaram pH alcalino.

2 - O Sealapex apresentou o pH mais elevado que os demais cimentos testados, no momento da espatulação.

3 - O Sealapex e o Sealer 26 apresentaram seus valores de pH inversamente proporcionais à duração do experimento, ou seja, à medida que decorria o tempo, decresciam os seus valores de pH.

4 - O CRCS e o Apexit apresentaram seus valores de pH entre 10 e 11,2 por todo tempo decorrido do experimento.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1-ESTRELA, C.; SYDNEY, G. B.; PESCE, H. F.; FELIPPE JÚNIOR, O. Dentinal diffusion of hydroxyl ions various calcium hydroxide paste. Braz Dent. J., v. 6, n. 1, p. 5-9, 1995.

2-FIDEL, R.A.S. Estudo das propriedades físico-químicas de alguns cimentos obturadores de canais radiculares contendo hidróxido de cálcio. 169p. - Tese de Doutorado apresentada à Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, 1993.

3-GORDON, T.M.; ALEXANDER, J. B. Influence on pH level of two calcium hydroxide root-canal sealers "in vitro". Oral Surg., Oral Med., Oral Phatol., v.61, n. 6, p. 624-8, 1986.

4-HYDE, D.G. Physical properties of root canal sealer containing calcium hydroxide. Michigan, 1986. 80p. Thessis (Master of Science) - University of Michigan.

5-LEONARDO, M.R. & LEAL, J.M. Endodontia: tratamento dos canais radiculares. 2. ed. São Paulo, Panamericana, 1991. 594 p.

6-LEONARDO, M.R.; SILVA, R. da; SILVA, L.B. da, ASSED, S. Determinação de íons cálcio, pH e solubilidade de pastas à base de hidróxido de cálcio contendo PMC e PMCC. Rev. Bras. Odontol., v.50, n.1, p.5-9, 1993.

7-TRONSTAD, L.; ANDREASEN, J.O.; HASSELGREN, O.; KRISTERSON, L.; RIIS, I. Ph changes in dental tissues after root canal filling with calcium hydroxide. J. Endod., v.7, n.1, p.17-21, 1981.

8-VOGEL, A. Vogel: análise inorgânica quantitativa; incluindo análise instrumental elementar/Vogel. traduzido por Aïda Espinola. - 4. ed. - Rio de Janeiro: Guanabara, 1986.