Sugestões Para A Realização
de Penetração Desinfetante
Endodontics - Endodoncia
Prof. Dr. Jesus Djalma Pécora e Equipe


A necrose pulpar é o resultado
final das alterações inflamatórias da polpa dental.
O tipo mais comum de necrose
pulpar é a gangrena. A decomposição proteica da polpa
pode resultar nos seguintes tóxicos: gas sulfídrico, amônio,
ptomainas, CO2 e H2O. Os produtos intermediários
dessa decomposição protêica são: indol, escatol,
putrecina e cadaverina. O odor desagradável característico
dos canais necrosados advem desses produtos.
Os microrganismos predominantes
na necrose pulpar e nas alterações periapicais são
as bactérias anaeróbias (Bacteróides e os Fusobacterium).
As bactérias anaeróbias mais comumente encontradas são:
Bacteroides gengivalis, Bacteroides
intermedium e Bacteroides endodontalis.
Ao penetrar em um canal radicular
contaminado, você deve tomar todo cuidado para não levar,
por meio dos instrumentos, os produtos tóxicos para a região
periapical (extrusão via ápice).
Um dente com polpa necrosada
pode ou não apresentar manifestações periapicais e,
estas, podem ser do tipo agudo ou crônico. Você estudará
isto com mais detalhe no capítulo do Diagnóstico das periapicopatias.
Então, para realizar o
tratamento endodôntico de um dente que apresente canais contaminados,
o cuidado deve ser grande para evitar complicações pós-operatórias,
que consiste na agudização de situações crônicas
ou produzir lesões agudas onde não existia nada.
Os americanos usam o termo Flare
up para designar a agudização
que surge, principalmente, entre as sessões de tratamento de canais
radiculares.
Apesar de todo cuidado, o
Flare up
pode ocorrer pela simples mudança de pressão durante a abertura
de uma câmara pulpar de um dente contaminado.
Tenha em mente que a área
que você vai atuar está contaminada e qualquer descuido pode
provocar extrusão de produtos tóxicos e bactérias
para a região periapical.
Esse ato operatório é
delicado e exige atenção e muita concentração.
Procuraremos, aqui, relatar modos
de realizar a penetração desinfetante:

Canais retos:
- Abertura coronária correta.
Caso a câmara já esteja aberta ou exposta, corrige os erros
de abertura.
- Isolamento absoluto e desinfecção
do campo.
- Irrigação abundante
com hipoclorito de sódio. Você pode colocar algumas gotas
de H2O2 na câmara e observar a reação
efervescente ao entrar em contato o NaOCl e o H2O2.
- Após a irrigação
abundante, localize a entrada do canal radicular. Com um instrumento (lima
ou alargador) bem fino, penetre alguns milímetros no interior do
canal (10mm), Irrigue abundantemente.
- A radiografia de diagnóstico
dará a você uma idéia do comprimento aparente do dente.
Esse comprimento não é o real, mas serve para iniciar o tratamento.
Tome a medida radiográfica do dente e subtraia 4 mm. Desse modo
você reduzirá a possibilidade de erro. Essa medida será
seu comprimento provisório de trabalho. Assim, por exemplo, se o
dente medir 22 mm na radiografia, subtraia 4 mm e trabalhe com o comprimento
provisório (18mm).
- Use um alargador ou uma lima
com diâmetro que penetre nesses 10 mm e adapte às paredes
do canal radicular. Por exemplo, neste caso, uma lima ou alargador 45.
Os alargadores são melhores, pois sua cinemática favorece
o trabalho. O alargador 45 prende-se sem forçar nas paredes do canal.
Gire-o suavemente 1/2 volta no sentido horário e retire-o. O alargador
45 prende-se sem forçar nas paredes do canal. Gire-o, suavemente,
1/2 volta no sentido horário e retire-o. Deixe o alargador usado
na esponja com desinfetante. Use, agora, um alargador 40 até onde
ele penetrar, sem forçá-lo nas paredes do canal. gire-o no
sentido horário 1/2 volta (180o) e retire-o.
- Você tem um comprimento
provisório de trabalho que é de 18 mm, portanto, seus instrumentos
devem estar com o cursor nesta medida.
- Irrege abundantemente essa porção
do canal radicular com hipoclorito de sódio e algumas gotas de água
oxigenada.
- Prepare o alargador 35 e repita
a operação já explicada. A seguir use o alargador
de número 30,25. Observe se isto é possível no caso
em questão.
- Repete-se a operação
até o cursor atingir os 18 mm. Quando isto ocorrer, irrigue abundantemente
o canal e faça a odontometria.
- Use brocas de Gates Glidden
(GG), número 1 ou 2. Essa broca é colocada no micro-motor
e ela entra acionada no canal radicular. Penetre com essa broca apenas
alguns milímetros (12mm) e retire-a. O movimento é de penetração-remoção.
Não é para esta broca ficar alisando o canal radicular. Feito
isso, irrigue o canal. A seguir, se o caso permitir, use a GG 3 .
O comprimento de trabalho work
lenght vai desde um ponto situado de 0,25
a 0,5 mm do ápice até o ponto de referência. Marque
bem o ponto de referência. O sucesso do tratamento dependerá
de sua atenção. Lembre-se que o tratamento endodôntico
é um tratamento micro-cirúrgico, portanto, a atenção
deve ser a máxima possível.
- Após determinar o comprimento
de trabalho (CT),
você sabe o quanto já limpou do canal e o quanto falta limpar.
Supondo que o canal apresente um CT
de 24 mm, falta ainda 6 mm para completar a limpeza, pois você já
trabalhou em 18 mm.
- Volte ao início da instrumentação
Faça a re-capitulação, começando, agora, com
um alargador 50 ou 60. Inicie tudo de novo. Coloque o alargador 60, 50,
45, 40, 35 e asssim por diante até atingir o CT.
Tire uma radiografia para confirmá-lo.
- Uma vez atingido o CT,
prepare a parte apical.
A cinenática do alargador
é: penetração-1/2 volta sentido horário-tração.
A lima tipo K
: penetração-1/8 de volta sentido horário-1/8 de volta
sentido anti-horário movimentos de vai e vem. Os movimentos de vai
e vem são curtos, não mais que 1 mm. Portanto, quando você
observa alguem instrumento agitadamente, você está diante
de uma pessoa que não conhece a cinemática dos instrumentos.
As limas Hedströn
são excelentes para se trabalhar em canais retos, mas sua cinemática
é de penetração-tração. Não tente
usá-la como alargador, porque ela fraturará. Uma vez realizada
a penetração desinfetante, o canal deve estar pronto para
receber a obturação, mas devemos realizar um curativo com
hidróxido de cálcio para inativar as bactérias que
podem, ainda, estar presentes, por mudança de pH.

Curativo
de Espera
Para realizar o curativo,
siga os seguintes passos:
- Seque o canal radicular ( para
secar, você deve aspirar o canal com o suctor e em seguida usar cones
de papel absorvente. Desse modo você economizará muito papel
absorvente).
- Misture um pouco de hidróxido
de cálcio com água destilada e leve-o ao interior do canal
radicular. Com cones de papel absorvente, você pode levar o hidróxido
de cálcio até a região apical.
- Coloque Paramonocloro fenol
canforado ou tricresol formalina em um algodão e seque-o bem. Um
mínimo de substância antisséptica deve estar neste
algodão. Essa solução evitará a conta-minação
do canal, via cimento obturador provisório.
- Coloque esse algodão,
na câmara pulpar. Esse algodão deve ser pequeno, de modo a
sobrar espaço para a colocação de uma pequena camada
de guta-percha (utilize o Aplicador de guta-percha para ganhar tempo).
Sobre a guta-percha, coloque o cimento obturador provisório (óxido
de zinco, cotosol, cimpact, cavit, lumicon, etc).
- Remova o isolamento absoluto.
- Teste se o dente não
ficou em supra-oclusão ou com trauma de lateralidade.
Quando você utiliza H2O2
(água oxigenada 3% ou 10 v) associado ao NaOCl
(hipoclorito de sódio- Dakin) ou,ainda,
Cremes como o RC-PREP
e Endo PTC, os
seguintes cuidados devem ser tomados:
Coloque primeiro o NaOCl
e depois a água oxigenada,
a seguir o NaOCl.
Uma reação
química de efervescência e exotermia vai ocorrer.
Essa associação vai ser repetida, durante todo o tratamento.
No final,
você deve irrigar muito com o hipoclorito de sódio para anular
a presença da água oxigenada, pois se esta for deixada no
interior do canal radicular, provocará acidentes desagradáveis,
como o edema.

Canais
curvos:
O problema do canal curvo é
a perda da curvatura e isto pode ser evitado se você prestar muita
atenção durante o ato operatório nos seguintes passos:.
- Abertura coronária
- Forma de conviniência
(não deixe paredes da câmara pulpar atrapalhando a entrada
do instrumento.
- Preparo da entrada do canal,
principalmente nos molares. Localize o canal com um instrumento bem fino.
Estude como ele é, qual o seu diâmetro e quais as dificuldades
encontradas. Se a entrada do canal for muito atrésica, use uma lima
especial para alargá-lo, A seguir tente dilatá-lo com o dilatador
(espaçador) de orifício. Todos esses passos devem ser realizados
com muita irrigação. A radiografia de diagnóstico
dá a você a idéia do comprimento aparente do dente,
da direção e grau de inclinação da curvatura.
esses dados devem ser estudados antes de iniciar a preparo do canal. Certifique-se
o quanto você pode trabalhar na área reta do canal (10, 15,
12, 18 mm ?). Todo o pre-paro da área reta do canal pode ser feita
como explicado para canal reto. Após você ter limpado a área
reta do canal, com um instrumento fino, vá penetrando na região
além da curvatura, sempre com a câmara pulpar inundada de
solução de hipoclorito de sódio. Não force
o instrumento, vá limpando suavemente até o seu instrumento
estar no local apropriado para realizar a odontometria. Feita a odontometria,
realize o preparo da região apical com cuidado. Preste atenção
nas seguintes informações:
- Não force o instrumento
para a região apical.
- Procure atingir a área
crítica apical sem exercer pressão.
- Uma vez detectado o CT, procure
instrumentar de acordo com a cinemática dos instrumentos.
- Não realize movimentos
de vai e vem longos. Procure usar movimentos rotatório nos alargadores
e movimentos oscilatórios quando utilizar as limas tipo K. O movimento
oscilatório consiste em rotação sentido horário
e depois anti-horário com uma amplitude não maior que 1/8
de volta. Assim que dominar a região de trabalho, use as limas 10,
depois a 12 e a seguir a 15. Use alargador 15 e a seguir a lima 17 e depois
a 20 e seguir a 22. ao atingir esse grau de instrumentação,
confira o CT. Se precisar diminuir ou aumentar, realize, nesta fase. Complete
a instrumentação.

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