Jesus Djalma PÉCORA
Professor Titular do Departamento de Odontologia Restauradora da Faculdade
de Odontologia de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo.
Manoel D. SOUSA-NETO
Professor Titular da Faculdade de Odontologia da Universidade de Ribeirão
Preto.
Danilo
M. Zanello GUERISOLI
Aluno de Pós-graduação, Bolsista FAPESP, Faculdade
de Odontologia de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo.
Melissa
Andréia MARCHESAN
Aluna de Pós-graduação, Bolsista FAPESP, Faculdade
de Odontologia de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo.
Departmento de Odontologia Restauradora
Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto
Universidade de São Paulo.
Av. do Café s/n
Ribeirão Preto, SP
14040-904
A cirurgia de acesso foi executada segundo os princípios endodônticos e a instrumentação foi feita da seguinte forma: o comprimento de trabalho foi considerado como o comprimento total do dente. Após a determinação do diâmetro anatômico apical instrumentou-se o canal radicular com mais duas limas subseqüentes. Procedeu-se a instrumentação com a técnica step-back, e as soluções irrigantes utilizadas para cada grupo foram: hipoclorito de sódio nas concentrações de 0,5; 1,0; 2,5 e 5,0% puros e associados a 0,1% de tensoativo aniônico (lauril dietilenoglicol éter sulfato de sódio). Água destilada e deionizada foi utilizada como controle. O tempo de instrumentação padronizado foi de um minuto para cada instrumento e a irrigação do canal radicular foi realizada com 10,8 ml de solução testada. Após a instrumentação, todos os canais receberam uma irrigação final com 10,8 ml da solução testada.
Em seguida, esses dentes tiveram a superfície externa revestida com duas camadas de cianoacrilato.
Foi utilizada a técnica de FEIGL5 para spot-tests modificada para determinar a permeabilidade dentinária. Os reagentes envolvidos nesta reação são o ácido rubeânico em solução alcoólica, hidróxido de amônia e sulfato de cobre.
Após o preparo de uma solução aquosa de sulfato de cobre a 10%, era adicionado a esta 25 ml de hidróxido de amônia a 25%. Cada grupo de raízes era imerso nesta solução e vácuo era aplicado por 5 minutos para eliminação de eventuais bolhas de ar no interior do canal radicular. As raízes permaneciam nesta solução por mais 25 minutos, após o que eram removidas do recipiente e secas com toalhas de papel absorvente e os canais radiculares com cones de papel. Feito isso, as raízes eram imersas em outro recipiente contendo solução alcoólica de ácido rubeânico a 1,0%, recebendo então tratamento idêntico ao descrito anteriormente. O sulfato de cobre presente nos canalículos dentinários, em contato com o ácido rubeânico, produz uma coloração intensa, que varia do azul escuro ao negro.
Após o ensaio histoquímico, as raízes eram incluídas em resina acrílica de rápida polimerização para confecção dos blocos a serem cortados. Secções sagitais de 500 µm de espessura representativas das regiões cervical, média e apical das raízes foram obtidas. Durante o processo de secção, tanto os blocos de resina com as raízes incluídas quanto o disco diamantado recebiam um jato de água para refrigeração, evitando a queima da dentina. De acordo com um critério previamente estabelecido, 2 amostras eram usadas para representar cada região do canal - o primeiro e o quarto corte serial de cada terço radicular. Os cortes eram então lixados sob água corrente e então colocados em um recipiente para lavagem, eliminando assim restos de pó de dentina ou de lixa. Feito isso, as secções eram desidratadas em três banhos de álcool absoluto, diafanizadas em três banhos de xilol e montadas em lâminas de microscopia com Entellan (Merck). A morfometria foi executada em um microscópio dotado de grade de integração com distância inter-pontos de 500 µm e jogo de lentes proporcionando um aumento de 12x, o que permitia uma visão panorâmica do corte histológico. A grade permitia uma avaliação da área observada, usando como referência o número de pontos (p) presentes na área e a distância entre eles. Apesar da área ter contorno irregular, pode ser considerada como um círculo geometricamente regular para permitir a comparação com a base de um denominador comum, ou seja, o raio. Assim, a área circular correspondente à toda a superfície observada foi chamada de At, com raio Rt; a área correspondente ao canal radicular foi chamada de Ac, com um raio Rc e a área externa que recebeu a pigmentação foi chamada de Am, com um raio Rm. A equação para determinação de área do círculo foi aplicada: A=pR2. Uma série de cálculos algébricos elementares para determinação da porcentagem de dentina manchada pela reação histoquímica reduziu a equação inicial para a seguinte fórmula:
onde: PM = pontos na área manchada, PT = total de pontos, and PC = pontos na área do canal.
Tabela 1: Média dos valores, em porcentagem, da profundidade
de infiltração do complexo rubeanato de cobre na dentina
radicular.
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Terços radiculares |
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+ Tensoativo |
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+ Tensoativo |
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+ Tensoativo |
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+ Tensoativo |
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Cervical |
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Médio |
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Apical |
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A análise de variância mostrou diferenças estatisticamente significantes (p < 0.01) entre as soluções testadas e entre os três terços radiculares.
A adição de 0,1% de lauril dietilenoglicol éter sulfato de sódio às soluções foi suficiente para reduzir os valores de tensão superficial em quase 50%.
O teste de Tukey acusou que todas as soluções de hipoclorito de sódio estudadas, quer puras quer associadas com o tensoativo aniônico lauril dietilenoglicol éter sulfato de sódio foram mais efetivas do que a água em promover o aumento da permeabilidade dentinária. Também observa-se que as soluções de hipoclorito de sódio associadas ao tensoativo promovem um maior aumento da permeabilidade dentinária do que as soluções puras.
No que concerne aos terços das raízes, o teste de Tukey elucida que no incisivo central superior o terço médio é mais permeável que o terço cervical e o terço apical mostrou-se como o menos permeável.
A permeabilidade dentinária foi aumentada significantemente pela adiçào de tensoativo às soluções de hipoclorito de sódio (vide teste de Tukey). Este teste também constata um aumento da permeabilidade dentinária nos dentes submetidos à irrigação com hipoclorito de sódio quando comparados àqueles irrigados com água.
Esses resultados podem ser explicados com base nos seguintes fatos: a) a água apresenta tensão superficial muito alta (71,31 dinas/cm) e não atua quimicamente sobre os componentes orgânicos e inorgânicos presentes no interior do canal radicular; b) o hipoclorito de sódio a 0,5% apresenta tensão superficial próxima à da água (68,8 dinas/cm) e as demais soluções de hipoclorito de sódio estudadas, tensão superficial maior do que a da água, porém atuam sobre componentes orgânicos. A adição de 0,1% de lauril dietilenoglicol éter sulfato de sódio reduz, em muito, a tensão superficial das soluções estudadas; c) A redução da tensão superficial das soluções de hipoclorito de sódio favorece a umectação, ou seja, a capacidade de molhar a superfície das paredes dos canais radiculares. Possibilitando um maior contato, pela redução da tensão superficial, ocorrerá maior ação química do hipoclorito de sódio8, 10.
No que diz respeito aos terços das raízes, estes são diferentes entre si e o terço apical mostrou a menor permeabilidade dentinária.