Ivene P.R.de Souza
Avaliando após uma década os registros da AIDS no Brasil,
observamos um aumento de casos em crianças especialmente nas de
pouca idade, em decorrência do incremento de transmissão vertical
(mãe-filho), resultante da disseminação da doença
entre mulheres na menacme (período reprodutivo). Cerca de 80% dos
casos de AIDS pediátrica são ocasionados pela transmissão
perinatal. As características da síndrome na criança
diferem das encontradas em adultos, o que levou o CDC (Center of Disease
Control) a elaborar uma classificação especial em 1987, baseada
em critérios clínicos e laboratoriais. Essa classificação
foi revista e, em 1994 o CDC divulgou outra baseada no estado da infecção,
estado clínico e imunológico. Dentre as alterações
de tecidos moles orais mais comuns nos pacientes amenamente sintomáticos,
observamos a parotidite e linfadenopatia; nos moderadamente sintomáticos,
a candidíase orofa-ringeal persistente (em crianças maiores
de 6 meses) e o herpes simples recorrente (mais de 2 episódios em
1 ano). Em recente pesquisa na UFRJ as duas patologias mais observadas
foram a linfadenopatia e candidíase. Neste grupo foi observada também
uma alta prevalência de cárie (ceo 5,21 - média de
16,10 dentes decíduos), e certamente para isso contribuíram
os hábitos inadequados de higiene oral, a dieta altamente cariogênica
e alta freqüência de ingestão de medicamentos que contêm
sacarose, ou são ingeridos com bebidas adocicadas. A criança
contaminada perinatalmente geralmente é tratada desde o nascimento
por uma equipe médica multidisciplinar. É importante a presença
de um odontopediatra na equipe, transmitindo aos responsáveis noções
de prevenção de cárie, que melhorarão a qualidade
de vida desses pacientes, evitando também o surgimento de focos
de infecção, que agravariam o estado geral da saúde
já debilitada.
Ivete Pomarico Ribeiro de Souza é Prof. Adjunta e Coordenadora do Curso de Mestrado em Odontopediatria da FO-UFRJ