DIAGNÓSTICO CLÍNICO-RADIOGRÁFICO DE LESÃO DE CÁRIE INTERPROXIMAL
O tratamento da doença cárie deve basear-se no controle do processo saúde-doença. Uma vez que a doença tenha como conseqüência a formação de uma lesão que evolua até a cavitação, o tratamento desta seqüela consistirá na tentativa de inativação desta lesão ou um tratamento restaurador.
A decisão entre o tratamento restaurador e o processo de inativação da lesão baseia-se na possibilidade de controle do acúmulo de microorganismos sobre a lesão, necessidades estéticas e funcionais e integridade dos tecidos pulpares. Devido à localização das superfícies proximais, a lesão de cárie cavitada nesta superfície é inacessível a uma higienização. A impossibilidade do controle de placa desta cavidade torna a inativação da lesão difícil, sendo necessário um tratamento restaurador. Dessa forma, é importante o diagnóstico da presença ou não de cavidade na superfície interproximal.
A presença do ponto de contato entre as superfícies proximais dificulta a visualização da lesão cariosa. Por essa razão, o exame radiográfico é um excelente auxiliar diagnóstico de cárie interproximal.
O exame radiográfico subestima a extensão do processo de desmineralização. Os trabalhos histológicos mostram a falta de exatidão da radiografia na observação das lesões cariosas. Aproximadamente 0,5 mm de esmalte são desmineralizados antes de serem visualizados pelo exame radiográfico e apenas quando toda a espessura do esmalte é envolvida pelo processo carioso é que se detecta a presença de uma zona radiolúcida. Clinicamente é importante saber que, quando a imagem radiolúcida atinge a junção amelodentinária, uma reação a nível de dentina está ocorrendo sem que necessariamente exista qualquer cavitação no esmalte. Comparando-se a avaliação clínica com a radiográfica, observa-se que a radiolucidez não corres-ponde necessariamente à presença de cavidade. Quando a área radiolúcida chega até a junção amelo-dentinária, apenas uma pequena proporção destas imagens correspondem à cavidade, entretanto, quando chega até a metade externa da dentina, esta proporção é aumentada. Quando a zona radiolúcida está na metade interna da dentina, a totalidade das lesões apresentam cavitações.
Frente às observações de que a radiolucidez não indica obrigatoriamente cavidade, os critérios usados pelos cirurgiões-dentistas para o tratamento restaurador tem se modificado. A presença de zona radiolúcida não determina necessariamente uma cavidade, e portanto um tratamento restaurador como era preconizado. A visualização da superfície é muitas vezes desejada para comprovação de diagnóstico, podendo ser realizada através do afastamento dos dentes por elástico ortodôntico.
MÁRCIA C. FIGUEIREDO & MARISA MALTZ Professoras da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.