ATIVIDADE CARIOGÊNICA EM ESCOLARES DE 4 a 14 ANOS DE IDADE DO MUNICÍPIO DE JARAGUÁ do SUL - SC 1994
No município de Jaraguá do Sul - Santa Catarina, vem sendo realizado desde alguns anos atrás um acompanhamento dos níveis de flúor existentes nas águas de abastecimento público que servem à população da cidade. Essa atividade de vigilância sanitária do flúor tem demonstrando que nos anos de 1993 e 1994 o flúor não tem sido agregado nos níveis recomendados pela Organização Mundial de Saúde e pelo Ministério da Saúde do Brasil.
Preocupada com esta situação, e ciente de que, a fluoretação das águas de abastecimento público é uma medida de importante impacto em todas as faixas socio-econômicas da população, a Secretaria Municipal de Saúde, vem tomando algumas medidas no sentido de que este problema seja resolvido, e ao mesmo tempo de colocar ao alcance da população outras formas de utilização de flúor.
Num estudo recente, a Secretaria Municipal de Saúde realizou um levantamento epidemiológico de cárie dentária (CPO-D) em 6100 escolares, segundo a metodologia proposta pela Organização Mundial de Saúde para este tipo de levantamento. Também foi realizada uma análise da percentagem de crianças que apresentavam sinais clínicos de atividade cariogênica em uma amostra de 66,5% deste grupo estudado. No município de Jaraguá do Sul, estudam atualmente 13280 alunos na rede municipal e estadual de ensino de primeiro grau.
No estudo referente à atividade cariogênica foram examinados 4056 alunos, incluídos nas faixas etárias entre 4 e 14 anos de idade, representando uma amostra de 30,5% da população escolar total do município. A preocupação por se realizar este tipo de estudo foi devido a que os conceitos científicos mais recentes descrevem o processo da cárie dentária como um processo dinâmico e constante, e por serem inúmeros os autores que, por sua vez, criticam a forma de se medir a prevalência de cárie através dos índices CPO-D por considerá-los estáticos e pouco sensíveis a mudanças. Através da análise dos dados obtidos, podemos constatar qual é a percentagem de crianças e jovens que apresentavam por ocasião do exame, sinais clínicos evidenciando um estado de desequilíbrio em relação ao processo de desmineralização-remineralização dentária, assim como, analisar o comportamento dos índices CPO-D em grupos com ou sem evidências de atividade cariogênica.
Este desequilíbrio clinicamente observado, foi denominado neste estudo como processo de "atividade cariogênica positiva".
Os 4056 escolares pertencentes a 11 escolas de rede municipal e estadual de ensino de primeiro grau foram examinados no mês de março do corrente ano, nos consultórios do Serviço Odontológico Municipal, por 11 Cirurgiões-Dentistas previamente treinados e calibrados para a realização deste levantamento.
Todos os exames foram realizados em consultórios da rede, com o uso de luz artificial (refletor odontológico) e ar comprimido (seringa tríplice), espelho clínico e nos casos necessários sonda exploradora. Previamente ao exame, todos os escolares passaram por escovação dental supervisionada com creme dental fluoretado.
Os sinais clínicos que foram observados pelos profissionais no diagnóstico de atividade cariogênica foram a presença de manchas brancas ativas e ou cáries agudas.
Os examinadores classificaram os escolares individualmente com carioativos (atividade cariogênica positiva), quando apresentavam manchas brancas ativas e ou cáries agudas ou como não carioativos (atividade cariogênica negativa) quando nenhum sinal clínico desta natureza era encontrado.
Através da sistematização dos dados obtidos podemos
observar que 2743 escolares não apresentavam sinais clínicos
de atividade cariogênica, representando uma porcentagem de 67,7%
dos examinados. Em relação aos carioativos, 1313 escolares
apresentavam sinais clínicos de atividade cariogênica positiva,
representando por sua vez uma percentagem de 32,3% dos examinados.
PREVALÊNCIA DA CÁRIE:
Os resultados de prevalência de cáries encontrados nos escolares examinados são relacionados na tabela 1, comparando-os aos dados levantados pelo Ministério da Saúde em 1986.
Tabela 01 - Dados comparativos dos índices de prevalência
de cárie CPO-D do Brasil/1986 e de Jaraguá do Sul-SC/1994
em escolares de 6 a 12 anos de idade.
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6 anos |
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7 anos |
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8 anos |
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9 anos |
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10 anos |
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11 anos |
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12 anos |
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6-9 anos |
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10-12 anos |
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6-12 anos |
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Fontes: Ministério da Saúde- Brasil, 1986 e Secretária
Municipal de Saúde - Jaraguá do Sul - SC 1994
PREVALÊNCIA de CÁRIE e ATIVIDADE CARIOGÊNICA:
Comparando os dados de prevalência de cáries dentárias
nos integrantes dos grupos de escolares "com" e "sem" atividade cariogênica
positiva podemos constatar diferenças estatisticamente significantes.
A tabela 02 relaciona estas duas realidades encontradas;
Tabela 02 - Dados comparativos dos índices de prevalência
de cárie (CPO-D) encontrados em 4056 escolares de 4 a 14 anos de
idade, em relação à atividade cariogênica diagnosticada.
Jaraguá do Sul - SC, 1994.
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04 anos |
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05 anos |
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06 anos |
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07 anos |
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08 anos |
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09 anos |
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10 anos |
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11 anos |
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12 anos |
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13 anos |
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14 anos |
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No de examinados e % |
(100%) |
(32,37%) |
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(67,63%) |
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Como podemos observar os escolares com atividade cariogênica negativa possuem índices de prevalência de cáries significantemente menores aos escolares que, no momento do exame, evidenciavam estar sofrendo um processo de atividade cariogênica positiva. Estes índices de prevalência de cáries encontrados foram 64,45% menores que para o grupo "não carioativos" aos 6 anos, e 42,15% menores aos 12 anos de idade.
Observando os percentuais de escolares de 12 anos de idade "com" e "sem"
atividade cariogênica segundo o CPO-D encontrado, e sendo divididos
em 3 grupos (de escolares que já atingiram a meta pela OMS para
o ano 2000, escolares com índices abaixo da média nacional,
e escolares som índices iguais ou maiores à média
nacional para esta idade), as diferenças encontradas também
nos permite constatar a importância da manutenção dos
pacientes individualmente e da comunidade como um todo dentro de um equilíbrio
no processo de desmineralização e remineralização
dentária. A tabela 03 nos permite constatar a situação
encontrada.
Tabela 03 - Comparativo do percentual dos 614 escolares de 12 anos de
idade do Município de Jaraguá do Sul - SC, examinados e divididos
em grupos em índices de CPO-D de 0 a 3, de 3 a 6 e igual ou acima
de 6, e segundo a atividade cariogênica diagnosticada.
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Em relação a esta tabela, podemos observar que o município atualmente em média 29,19% dos escolares de 12 anos de idade atingiram a meta proposta para esta idade no ano 2000 (CPO-D = 3,0), 44,25% dos escolares estão abaixo da média nacional e que apenas 26,56% destes ainda apresentam índices de prevalência de cáries igual ou maior ao índice nacional para esta idade.
Em relação aos grupos de escolares "carioativos" ou "não carioativos" estas diferenças são muito grandes, chegando a inverter a situação de prevalência encontrada em cada grupo estudado.
Os dados sistematizados estão sendo utilizados na avaliação dos serviços prestados à comunidade, assim como, no planejamento das futuras ações da equipe do Serviço Odontológico da Secretaria Municipal da Saúde do município.
Fica evidente a necessidade de conseguir manter a percentagem possível da população num equilíbrio entre os processos de desmineralização e remineralização dentária. Este equilíbrio, à nossa forma de ver, passa por processo de educação em saúde, agregação correta e constante de flúor nas águas de abastecimento público, uso de técnicas clínicas de adequação do meio bucal, controle mecânico da placa, assim como pelas mudanças possíveis na dieta e o uso racional do flúor segundo as necessidades de cada indivíduo.
A equipe que compõem o Serviço Odontológico Municipal
da Prefeitura de Jaraguá do Sul vem trabalhando neste sentido, sempre
norteada pelo objetivo principal de "promoção de saúde
da comunidade".
WALTER VÄZQUEZ CLAVERA
Coordenador do Setor de Epidemiologia Bucal - Prefeitura Municipal de Jaraguá do Sul
Professor de Odontologia Social e Preventiva - FAOVI-UNIVALI, Itajaí - SC