FORMAÇÃO DA PLACA CARIOGÊNICA

Jaime Cury




A cariogenicidade da placa dental depende do acúmulo de bactérias sobre os dentes. Esse acúmulo é conseqüência da não desorganização ("remoção") regular das bactérias aderidas, o qual é agra-vado pelo consumo de sacarose. Assim, o consumo de sacarose (açúcar comum) facilita a aderência das bactérias, levando à formação de placas dentais mais espessas. Pesquisas mostram que a desmineralização do esmalte sob placas espessas é duas vezes maior do que em relação a placas finas. Quanto maior a espessura da placa, maior será a dificuldade da saliva em remineralizar o esmalte. Em acréscimo, quando a placa se organiza, na presença de sacarose, sua estrutura é porosa e, portanto, sua capacidade desmineralizante é maior, pois todo carboidrato fermentável ingerido facilmente atin-girá a interface dente placa. Além do mais, de acordo com tese realizada na FOP-UNICAMP por Maria Augusta Bessa Rebelo da Universidade Federal do Amazonas, a placa formada na presença de sacarose apresenta uma menor concentração inorgânica (seis vezes menos flúor, três vezes menos cálcio e dez vezes menos fosfato) o que tornaria o meio com menor capacidade de resistir aos desafios desmineralizantes.

Assim, uma placa não tão espessa, formada na presença de sacarose, ou residuais de placa deixados pela escovação na tentativa de limpar os dentes, podem ser de alto potencial cariogênico. Talvez isto ajude a explicar a pequena relação entre escovação (sem flúor) e redução de cárie, o que por outro lado enfatiza a necessidade de reforços educativos para uma limpeza mais perfeita dos dentes.
 


JAIME A. CURY é Professor Titular de Bioquímica da FOP-UNICAMP