Curso: Cyril Meyerowitz




A terceira idade deveria ser a fase da vida onde o indivíduo desfrutaria, com saúde, do pleno amadurecimento pessoal e do acúmulo de conhecimentos. Entretanto, nessa idade muitos apresentam doenças sistêmicas. Nos EUA, de 65 a 74% dos idosos com mais de 65 anos fazem uso de algum medicamento, com uma média de 3,94 medicamentos por pessoa. A ação desses medicamentos acaba trazendo disfunções salivares - hiposalivação ou xerostomia - e tem efeitos muitas vezes dramáticos, que podem ser responsáveis tanto pela sensação de boca seca quanto pelas infecções agressivas ao paciente.

A hipofunção glandular pode ser observada através de achados clínicos, como mucosa e lábios secos, ausência de saliva quando de palpação e fluxo salivar não estimulado menor que 0,12-0,16 ml por minuto. Em geral é induzida por medicamentos muito utilizados por idosos (anticonvulsivantes, antidepressivos, anti-histamínicos, anti-hipertensivos, diuréticos, descongestionantes, narcóticos, hipnóticos, sedativos, tranqüilizantes maiores ou menores, antipsicóticos, relaxantes musculares, agentes antiparksonianos, antinflamatórios não esteroidais) e quanto maior o número de drogas, menor o fluxo salivar.

Os casos de xerostomia - que é o agravamento do quadro clínico da hiposalivação - também podem ser induzidos por drogas ou estar associados às doenças auto-imunes, como a síndrome de Sjögren. Mas a principal causa está ligada à radioterapia. Os pacientes em tratamento oncológico necessitam de maiores cuidados, pois nesses casos há grande chance de ocorrer mucosite, lesões nos lábios, na língua e alterações das glândulas salivares e da polpa. Além desses sinais, pode haver relatos de maior sensibilidade dos dentes, diminuição do paladar, dificuldade para mastigar e deglutir ou halitose. Outras complicações envolvem a mudança da microbiota, levando a um aumento dos fungos, actinomices, lactobacilos e estreptococos do grupo mutans. Esse desequilíbrio propicia o aparecimento de candidíase e de cárie dental.

Em pacientes com xerostomia, a abordagem clínica deve começar com um bom levantamento da história médica, do uso de medicamentos. Os questionamentos relacionados às funções salivares devem incluir perguntas sobre as dificuldades para falar e deglutir principalmente alimentos secos. Em casos especiais, avaliações mais específicas podem requerer hemograma completo, velocidade de hemosedimentação, perfil imunológico, biópsia ou sialoquímica.

É conveniente lembrar que nesses pacientes o pH da placa dental permanece baixo, por um período prolongado, após a ingestão de carboidratos. A resposta de alteração de pH, com maior retenção de ácido, é um fator significante em termos de cárie dental. Mas o alto desafio cariogênico pode ser controlado com algumas medidas.

O importante no tratamento dos pacientes com disfunções salivares é que as modificações sejam razoáveis para que, apesar de todas as dificuldades, as implicações orais de doenças sistêmicas e suas conseqüências possam ser controladas.
 
 


CYRIL MEYEROWITZ , da Universidade de Rochester USA, ministrou este curso de Odontogeriatria durante a Jornada Odontológica de Piracicaba, realizada em outubro