O aparecimento de doenças que são, no momento, incuráveis, causadas por agentes infecciosos, nos obriga a pensar seriamente em uma metodologia de trabalho no consultório odontológico. Uma vez que o cirurgião dentista raramente faz algum procedimento onde não esteja presente o risco de contato com sangue, saliva e secreções - veículos nobres para vírus, bactérias e outros microrganismos - ele tanto pode trabalhar em um campo contaminado com limites precisos e sob seu controle como ser um semeador de microrganismos em todos os lugares e nas pessoas com as quais entra em contato.
Conscientes do risco de exposição a secreções contaminantes, ao qual os profissionais de saúde se submetem durante os procedimentos clínicos, aliado ao fato de que, cotidianamente, esses procedimentos são realizados com instrumentos cortantes e/ou perfurantes, pesquisadores de todo mundo voltaram sua atenção para a criação de uma prática segura tanto para os profissionais como para os pacientes, e para isso estabeleceram as barreiras universais de controle de infecção. Elas nos possibilitam trabalhar com segurança dentro de um campo contaminado, restringindo-o ao menor espaço possível necessário, além de impedir que os resíduos e secreções, ao saírem deste "campo operatório", possam contaminar qualquer objeto ou pessoa até seu destino final.
À medida que estudamos e conhecemos os mecanismos de transmissão das doenças, mais capacitados e confiantes nos tornamos para realizar uma prática eficiente; além disso, as técnicas para um atendimento clínico seguro, dentro do conhecimento atual, são facilmente realizáveis e estão disponíveis em inúmeros manuais e trabalhos publicados. Elas nos auxiliam a realizar um atendimento diferenciado e seguro, porque o conhecimento afasta nossos preconceitos e temores, além de estabelecer limites precisos das nossas possibilidades de trabalho. É inegável que os pacientes estão atentos a esse cuidado profissional, exigindo cada vez mais procedimentos que não os exponham a riscos. Quanto mais "biosseguro" for nosso atendimento, mais possibilidades de trabalho teremos, pois estaremos aptos para atender qualquer pessoa, portadora ou não de qualquer moléstia, sem colocarmos sob risco de contaminação quaisquer pacientes, nossos auxiliares e nós mesmos.
Quando baseamos nossas técnicas nas informações
que temos dos pacientes e, sobretudo, na nossa opinião pessoal a
respeito deles, estamos seguramente errando, pois quantos de nós
sabemos do nosso estado imunológico? Quantos de nós conhecemos,
por exemplo, nosso status imunológico em relação à
Hepatite B, a doença viral que pode afetar os dentistas? E quantos
dentistas são, hoje, vacinados contra essa doença? Baseado
nestas respostas é que acredito que só com o uso irrestrito
das barreiras universais de controle de infeção poderemos
nos tornar dentistas irrestritos para pacientes irrestritos.
SÉRGIO FUNARI estagiou no Guys Hospital, Londres, e atua no Hospital Emílio Ribas.