Jaime A. Cury
A idéia de materiais liberadores de flúor é apropriada, pois, ao mesmo tempo que compensaria o não uso de flúor pelo paciente, se enquadra perfeitamente nos conceitos de que o efeito cariostático do flúor é aperfeiçoado por concentrações baixas, mas permanentes no meio ambiente bucal. Por outro lado, essa propriedade anticariogênica de liberar flúor pode ser deseducativa, pois poderia levar a uma menor atenção com as demais medidas preventivas. Em acréscimo, a sua utilização indiscriminada pode estar ainda apegada a um conceito em extinção da necessidade de ter ingerido flúor durante a formação dos dentes, para se ter resistência à cárie, desconsiderando o atual e abrangente auto-uso de flúor a partir da escovação com dentífrícios fluoretados.
Desse modo se multiplicam as ofertas de produtos liberadores de flúor. Materiais restauradores, forradores, endodônticos, selantes, adesivos etc estão sendo continuamente oferecidos à classe Odontológica. Diferentes apelos são feitos para enaltecer suas qualidades. Do ponto de vista de cárie são apresentados dados de liberação de flúor in vitro na água ou in vivo na saliva. Por outro lado, enquanto o primeiro não simula o meio bucal, o segundo não representa a interface dente-placa onde o flúor deveria estar presente para execer seu efeito cariostático. Independente disso, resultados significativos de redução de cárie são observados com materiais liberadores de flúor, entretanto nenhum deles isoladamente é capaz de impedir totalmente o seu desenvolvimento, o que exigiria uma liberação de 250 micrograma de F/cm2, até o momento não atingida pelos mesmos. Assim, eles devem ser levados em consideração, porém no contexto de um conjunto de medidas visando à manutenção da saúde bucal de acordo com a necessidade individual.
Jaime A. Cury é
Professor Titular de Bioquímica da FOP - UNICAMP