Curso Per Axelsson


Per A.T. Axelsson, chefe do Departamento de Odontologia Preventiva do Serviço Público de Saúde Bucal de Varmland e professor da Escola de Higienista Dental de Karlstad na Suécia, ministrou o curso "Prevenção da Cárie e Doença Periodontal".

Ao mostrar a prevalência de cárie no mundo e sua evolução desde 1969 até 1993, Axelsson chamou a atenção para a queda da incidência dessa doença nos países industrializados, salientando que no caso da Suécia isso só foi possível devido à "prevenção + prevenção + decisão política".

O programa de prevenção na Suécia inclui a utilização de higienistas muito bem treinados e leva em conta a auto-motivação do paciente para o auto-cuidado, um dos pontos principais do programa, fazendo que o indivíduo se sinta responsável pela sua saúde bucal. A escovação diária em seu país é um hábito que está bem sedimentado (100% das crianças e jovens adultos escovam diariamente seus dentes).

A avaliação do risco de cárie é feita baseada no número de mutans na saliva e no índice de formação de placa (acúmulo de placa 24 horas após a limpeza profissional). Para a classificação também são levados em conta os hábitos de higiene oral, o nível de lactobacilos na saliva, a prevalência de cárie, a taxa de secreção salivar e a ingestão de açúcar na forma de alimentos que aderem aos dentes. Baseado nesses dados, os pacientes são classificados em vários níveis de risco, recebendo o tratamento adequado.

No Brasil, Axelsson recomenda o índice de formação de placa, mas não a contagem de mutans porque esta, segundo um estudo realizado aqui, é muito alta. Além disso, o índice de formação de placa pode ser implementado facilmente, pois não requer equipamentos especiais.

Ao falar sobre a prevenção de cárie, destacou que o açúcar é um fator modificante e não etiológico e que o controle da cárie, através do controle da ingestão de açúcar, é difícil de ser feito.

Uma proposta interessante é a remoção da placa antes do indivíduo se alimentar. Em indivíduos com alto risco de cárie, Axelsson recomenda a escovação antes da alimentação e o uso de goma de mascar com flúor. Dessa forma, os pacientes entendem que não são os restos de comida, mas a placa já formada que vai resultar em desmine-ralização e cárie. Uma outra razão para a escovação prévia à alimentação é que, se forem ingeridos alimentos ácidos como coca-cola, limão etc, a escovação pós-alimentação, devido ao abrasivo da pasta, pode aumentar mais ainda a desmineralização provocada pelos ácidos.

Os fluoretos sob várias formas (tópico: dentifrício, bochecho, gel, verniz, ionômero de vidro e sistêmico: água, comprimido, sal e leite) também são de extrema importância na prevenção da cárie.

Segundo Axelsson, se for possível manter as fissuras livres de cárie durante a erupção, é grande a chance das mesmas se manterem íntegras, daí a indicação do selamento com ionômero de vidro.

Especificamente com relação ao tratamento da cárie interproximal, se a lesão estiver subsuperficial, ou seja, sem cavitação, recomenda-se limpeza profissional da superfície com instrumento rotatório e fio dental e aplicação de clorexidina de liberação lenta e flúor (ou seja, tratamento preventivo). Se a cavitação atingiu a dentina, após o tratamento já descrito, deve-se separar os dentes com um elástico ortodôntico, remover a cárie manualmente e colocar ionômero de vidro. Axelsson não indica restauração em túnel.

Nas fissuras, a cárie pode ser paralisada, mesmo quando a avalição radiográfica sugere comprometimento dentinário, se não houver cavitação na dentina.

Assim como a cárie, a doença periodontal também é causada por bactérias que colonizam a superfície dental. Após 3 ou 4 dias sem escovação, já se obtém uma gengivite inicial e, quanto mais velha a placa, mais específica ela se torna em termos de microorganismos. A primeira linha de defesa não específica contra esses microorganismos são os leucócitos polimorfonucleares. Em várias doenças como diabetes, síndrome de Down, AIDS e leucemia, há uma depressão dessas células, conferindo a seus portadores um maior risco de doença periodontal.

Outro fator importante na doença periodontal é o fumo. Existe uma relação direta entre a quantidade de cigarros consumidos e a perda de inserção.

Na Suécia, a perda de dentes por doença periodontal é maior entre os homens, habitantes da zona rural, fumantes, indivíduos sem instrução e com cuidados bucais irregulares.

O tratamento da doença periodontal continua a ser a raspagem e alisamento radicular criteriosos, tomando-se o cuidado de não remover quantidades excessivas de cemento. O uso de antibióticos deve ficar restrito aos casos renitentes. De fundamental importância, porém, é o controle da placa.