COMENTÁRIO
Uma Visita ao Programa de Nexo
Estive na ilha de Bornholm, na Dinamarca, após o WCPD'93 em setembro
passado, a convite de Anders Thylstrup. Fui recebido com muito carinho
pelo casal Christiansen, dentistas que trabalham diariamente na clínica
de Nexo (uma das sete comunidades da ilha). Como todos podem imaginar,
mesmo na "roça dinamarquesa", essa clínica, que atende a
2000 crianças, possui uma excelente estrutura com 3 consultórios,
sala com pias e espelhos para escovação.
O Método de Nexo é bastante simples e objetivo. Devemos
analisá-lo, no entanto, dentro de um contexto social de um país
rico e bem organizado. E, paralelo ao que acontence no dia-a-dia da clínica,
algumas informações devem ser consideradas:
-
a Educação para a saúde bucal é dada também
através da escola (os professores e dentistas dão aulas sobre
prevenção de cárie) e da comunidade (através
de jornal, rádio, reuniões com os pais nas sedes admi-nistrativas,
com freqüência de 90%);
-
toda criança que nasce na Dinamarca tem direito a uma enfermeira
(public nurse) que dá assistência à mãe até
a criança completar um ano de vida. Essas enfermeiras informam sobre
os cuidados com a boca e lhes dão escovas e pastas;
-
as crianças saem da escola através de transporte público
para a clínica (raramente faltam ao programa);
-
a responsabilidade do Estado pela saúde das pessoas é total,
com atendimento odontológico grátis de 0 a 18 anos. Mesmo
com toda a redução de cárie que conhecemos, os dentistas
se dedicam e lidam com problemas com uma preocupação bastante
exagerada.
Dentro desse contexto de promoção de saúde, o programa
de Nexo se orgulha de sua nova estratégia adotada a partir de 1987,
que resultou no menor índice de cárie do país. Destaco
alguns pontos de importância do Metodo de Nexo que coincidem com
o nosso programa aqui no Rio:
-
a atenção dada ao controle de placa, principalmente durante
a erupção dentária (esta preocupação
vem dos resultados de uma pesquisa feita por uma brasileira, Joana de Carvalho);
-
trabalho educativo com os pais;
-
a visão do processo evolutivo da cárie (segundo orientação
de Thlystrup).
Sistematizamos um programa de saúde oral para creches e pré-escolas
(0 a 6 anos), tornando-as auto-suficientes. As medidas principais envolvem
o treinamento dos professores para o controle de placa com pasta fluoretada,
revisão e orientação da dieta junto à nutricionista
e trabalho educativo com os pais. Nosso papel como dentistas é educar
e supervisionar o programa. Estamos no quarto ano de trabalho, conseguindo
um resultado de 97,5% de crianças livres de cárie (120 crianças
- faixa de 0 a 6 anos - Creche-Escola UERIRI - Botafogo - Rio de Janeiro).
São muitas as discussões acadêmicas, quase sempre
muito boas, no entanto, pouco práticas. Na tentativa de montar a
melhor estratégia para a prevenção da cárie
dentária (seja a nível individual ou coletivo) estamos correndo
o risco de nos distanciarmos cada vez mais do simples e óbvio. Já
conhecemos bastante para informar. Precisamos discutir no momento a me-lhor
forma de veicular as informações que obtivemos.
CARLOS ALBERTO DJAHJAH - sócio da ABOPREV