A cárie dental é um tipo especial de doença infecciosa bacteriana cuja expressão clínica - perdas minerais localizadas - depende do rompimento do equilíbrio dinâmico que existe entre os tecidos mineralizados e demais componentes do ecossistema bucal. Isso ocorre, quando certos grupos específicos de bactérias da placa são ativados por dietas ricas em carboidratos, em especial a sacarose. O consumo freqüente desse açúcar e a sua transformação em ácidos parece ser, simultaneamente, o mais potente determinante ecológico na transformação de placas básicas em cariogênicas e na indução de um desequilíbrio duradouro no processo da des-remineralização, operando em favor dos episódios de desmineralização. Estudos bem controlados mostraram que o tempo de permanência (biodisponibilidade) do açúcar nas placas é a mais relevante variável nesse processo, e que ele é maior quando o carboidrato é consumido entre as refeições, principalmente na forma sólida e/ou pegajosa. Assim se entende porque no estudo de Vipeholm (Suécia) uma média de 330g de sacarose podia ser consumida diariamente às refeições sem produzir o dramático aumento na incidência de cárie observado com ingestões fracio-nadas de quantidades muito menores entre as refeições. O consumo inteligente de açúcar, em bases realísticas, é uma das pedras angulares na prevenção e tratamento das perdas minerais no modelo de promoção de saúde e se contrapõe às "cruzadas contra o açúcar" empreendidas pelos que "fazem prevenção" dentro dos referenciais da odontologia cirúrgico-restauradora. Dentro desse contexto, eis algumas sugestões para aqueles que desejarem materializar o consumo inteligente de açúcar para seus pacientes.

limite o número de exposições à sacarose para no máximo 4 vezes ao dia;

observe um intervalo não inferior a 3 horas entre as exposições;

reduza gradualmente o número de ingestões em crianças acostumadas ao uso freqüente de açúcar, especialmente em forma sólida e aderente;

combata o açúcar "vicioso" do tipo: "estou com fome, quero um pedaço de bolo";

pipoca salgada, amendoim, frutas e seus sucos, queijos, entre outros, são alimentos atraentes para substituir alimentos cariogênicos;

use racionalmente os substitutos do açúcar, mormente em guloseimas;

garanta a presença constante de flúor ativo nos fluidos bucais e melhore o padrão de higiene oral.

 SÉRGIO DE C. WEYNE é presidente eleito da ABOPREV para o biênio 95-97.