NORMAS & PRODUTOS

 Dentifrícios Múltipla Ação

Jaime Aparecido Cury


O nome comercial de fantasia depende da criatividade de cada um. Vistos até pouco tempo atrás como essencialmente cosméticos, utilizados durante a escovação para remover restos alimentares da boca e ter um bom hálito, os dentifrícios são considerados atualmente como método de Saúde Pública. Isso graças a um único ingrediente, o flúor.

Assim, a redução de cárie observada nos últimos anos nos países desenvolvidos tem sido atribuída à agregação abrangente dessa subs-tância aos dentifrícios a partir da década de 70. Nesses países, a população tem qualidade de vida, escova os dentes e portanto usa flúor em termos coletivos. O papel do flúor tem sido inclusive comparado à importância da suplementação vitamínica do leite, manteiga ou pão.

Nos dentifrícios o flúor pode estar na forma iônica (geralmente NaF) e ionizável (SMF = MFP = monofluorfosfato de sódio). As duas formas são eficientes no controle do desenvolvimento da cárie. O flúor na forma de MFP é indispensável quando o abrasivo contém cálcio (carbonato de cálcio e/ou fosfato dicálcio), devido à incompatibilidade química de solubilidade entre o flúor iônico e cálcio. Isso é importante em termos de Brasil. Os dois dentifrícios do mercado brasileiro com 80% de vendas contêm cálcio como abrasivo e logo flúor na forma de MFP.

Se levados por publicação relatando ligeira superioridade carios-tática do NaF em relação ao MFP, a troca do flúor implicaria na mudança do abrasivo. Como conseqüência, o preço do produto teria um acréscimo de 2-3 vezes e a superioridade, se é que existe, seria perdida em relação custo/benefício em termos de Saúde Pública.

Com relação à concentração do flúor nos dentifrícios, o convencional é 1000 a 1100 ppm . Entretanto concentrações maiores são discretamente eficientes e as de menor concentração não têm sido ainda recomendadas. Tendo em vista a preocupação com o aumento da fluorose dental, o desafio é desenvolver um produto com menor concentração de flúor e mesma eficiência que 1000 ppm.

Desse modo, flúor foi a primeira substância terapêutica (anti-cárie) a ser utilizada eficientemente nos dentifrícios. Reduz cárie, os pacientes escovam os dentes, porém nem todos os limpam perfeitamente e como conseqüência poderão ter gengivite devido ao acúmulo de placa dental.

Idealizou-se a adição de substâncias quimioterápicas nos dentifrícios com finalidades antiplaca-gengivite. Dessas, sucesso tem sido obtido com triclosan associado a zinco ou gantrez na redução de placa e gengivite. Entretanto, em muitos pacientes calcifica-ções dentais (tártaro) se formam rapidamente. Substâncias inibidoras de mineralização com finalidade anti-tártaro foram estudadas. Dessas, zinco, gantrez e pirofosfato têm mostrado eficiência na redução de cálculo supragengival.

Em conclusão, em termos de saúde, a mais importante substância terapêutica dos dentifrícios é a ação anticárie do flúor. Para indiví-duos com dificuldade de uma boa limpeza dos dentes haveria os dentifrícios antiplaca-gengivite. Aqueles com propensão para formação de cálculo dental teriam os antitártaro. Tudo isso pode estar numa única formulação com múltipla ação. Só não evoluímos, produtores e consumidores, numa única coisa. Para limpar, escovamos usando abrasivos e detergentes. Imediatamente após, por mais paradoxal que seja em termos farmacocinéticos, lavamos a boca com água jogando para fora muito das substâncias terapêuticas.