George Stookey

Resumo de curso



No último mês de novembro, George Stookey, Professor de Odontologia Preventiva em Indianopólis - USA, esteve em Joinville-SC, participando do III Encontro Catarinense de Prevenção e I Seminário de Odontologia Comunitária da ABOPREV. Stookey, que agradou pela apresentação e pela originalidade de um bem cuidado bigode, ministrou um curso abordando os conceitos atuais para o controle da cárie.
Discutindo os fatores etiológicos da cárie dental - microrganismos acidogênicos, carboidratos fermentáveis, superfície dental suscetível e tempo - chamou a atenção para o estado físico dos alimentos. Após a ingestão de açúcar na forma líquida, há uma queda de pH da placa dental que em 5 minutos atinge valor crítico para o esmalte, mas em 20 minutos volta ao normal. Entretanto, quando se ingere açúcar na forma sólida, por exemplo bolachas ("cookies"), é preciso 2 horas para que o pH da placa volte ao normal. Um trabalho realizado na Austrália constatou 32% de redução de cárie quando se eliminou sacarose na forma sólida oferecida nas escolas. Alguns produtos, em princípio não cariogênicos, como batata "chips", por conter o amido parcialmente degradado pelo processamento industrial, atualmente são considerados altamente cariogênicos. As medidas preventivas relativas à dieta devem ainda abordar as possibilidades de diminuição da ingestão total de sacarose, diminuição da ingestão de guloseimas entre as refeições e aumento do fluxo salivar após as refeições.
O pH crítico para o esmalte é de 5,5, mas para a dentina é de 6,2, o que torna a superfície radicular exposta de maior risco. Além disto, é difícil rever-ter uma cárie radicular quando a matriz de colágeno foi degradada. Já a cárie primária de esmalte, por desenvolver-se subsuperficialmente, possibilita a reversão, tendo em vista a manuten-ção da zona superficial. O desenvolvimento de cáries secundárias em esmalte, entretanto, deve ser diferente das cáries primárias devido à orientação dos prismas de esmalte.
Com relação ao tempo, relatou que os dois primeiros anos de erupção são críticos em relação ao desenvolvimento da cárie, pois o dente não está totalmente mineralizado, requerendo atenção do ponto de vista preventivo. Também descreveu que o tempo necessário para a evolução de uma lesão de cárie, de mancha branca à cavidade, é de 18 meses. Entretanto, quando o flúor está presente são necessários 42 meses.
Apesar do declínio de cárie observado nos Estados Unidos a partir de 1971, a cárie continua sendo um pro-blema. Embora 49% de pessoas na faixa etária de 5-17 anos sejam livres de cáries, após os 12 anos de idade observa-se aumento de 1 superfície/ano. Além do contínuo aumento de cárie coronária, a cárie radicular após os 55 anos apresenta um aumento de 0,57 superfíces/ano. Em acréscimo se enfrenta o problema da cárie secundária. Na clínica da Universidade de Indiana, avaliou-se durante 10 dias as causas da substituição de restaurações: 47% das substituições de restaurações de amálgama e 67% das de compósito eram devido às cáries recorrentes.
Nos EUA a cárie continua sendo a  responsável maior por perdas dentais, por isso as medidas preventivas teriam por objetivo: 1) diminuir o desafio cariogênico, através da modificação da dieta e controle da placa dental e 2) aumentar a resistência do dente, através do uso de flúor e selantes. O controle mecânico de placa em relação à cárie é de benefício inquestionável, porém sua magnitude é difícil de ser definida. Não tem sido possível prevenir cárie dental somente com controle mecânico de placa, porque geralmente a escovação não é muito eficiente e há limitações físicas inerentes, independente do tipo de escova que se utilize. Daí a importância de substâncias terapêuticas nos dentifrícios, quer seja ação anticárie do flúor, como de substâncias anti-tártaro-placa gengi-vite. Entretanto, a regularidade da higienização bucal deve ser enfatizada, para favorecer a ação remineralizante da saliva. Demonstrou-se que em 10 minutos a saliva remineraliza o esmalte sob uma placa de 12 horas de formação. Porém, na presença de placas dentais de 48 horas de organização, são necessárias 4 horas.
Por último falou da importância de flúor no controle da cárie e das medidas de segurança para seu uso, concluindo que há efeito aditivo quando a água já é fluoretada e que a freqüência do uso de métodos tópicos deve ser feita de acordo com as necessidades dos pacientes. Na Universidade de Indiana utiliza-se o seguinte programa: 1) crianças com lesões de cárie: 4-5 aplicações/ 4-6 semanas e manuten-ção a 3-6 meses; 2) crianças com poucas lesões e bom controle de placa: 1 aplicação/6 meses; 3) adultos com atividade de cárie: tratamento inicial igual à de crianças com muitas lesões de cárie, manutenção a cada 6 meses; 4) adultos com pouca atividade de cárie: uma aplicação a cada 12 meses.