Marisa Maltz
O tratamento das afecções dentais, durante vários
séculos, foi a extração dentária. A cárie
tem sido historicamente considerada como uma doença inevitável.
Com o desenvol-vimento da ciência odontológica, o surgimento
de métodos de corte de dente e materiais restauradores, foi possível
interromper a progressão da lesão de cárie ( mas não
a instalação da doença). O tratamento da seqüela
era considerado o tratamento da doença.
Conceitos equivocados como "defeito de esmalte de hoje será
a cavidade de cárie de amanhã" (Hyatt 1933) eram considerados
como verdadeiros. Esses conceitos dão origem à odontoplastia
profilática, às res-taurações preventivas e
à extensão preventiva. A terapia direcionada ao sintoma da
doença ( a restauração da cavidade) era visto como
o único viável para o paciente.
Nas décadas de 50 e 60 foi estabelecido como causa da cárie
as bactérias na placa dentária. Nesta época é
conhecido o efeito protetor do flúor e o papel da saliva na proteção
dos tecidos orais. Aumenta o estudo sobre mineralização dos
tecidos. A partir daí avançamos muito no conhe-cimento do
processo da cárie. Sabemos hoje como a cárie se desenvolve,
como impedir e controlar o seu estabelecimento. Em suma, o conhe-cimento
atual da cariologia permite afirmar que a cárie é uma doença
passível de ser controlada. O diag-nóstico da cárie
dentária não se res-tringe mais à simples enumeração
das lesões, mas compreende a avaliação da presença
ou não dos fatores causadores da doença. Conseqüentemente,
o tratamento da cárie se dá através da eliminação
ou controle dos fatores que, naquele paciente, estão cau-sando o
desenvolvimento de lesões.
Existe conhecimento acumulado sobre cárie. Não obstante,
a prática e o ensino odontológicos brasileiros ainda estão
baseados na falta de aplicação dos avanços da ciência.