SUPLEMENTAÇÃO DE FLÚOR
Jaime A. Cury
Até pouco tempo considerava-se necessário e indispensável
fazer a suplementação de flúor na forma de comprimidos
ou gotas, quando da inexistência de fluoretação da
água, ou quando da presença de flúor natural subótimo.
Entretanto, com as mudanças de conceito a respeito de uma ação
principal local do flúor, ainda não consolidada, o assunto
tem suscitado dúvidas e incertezas. Em primeiro lugar, deve-se ressaltar
que o flúor ingerido durante a formação dos dentes
tem efeito. Entretanto, isto não está relacionado com a formação
de fluorapatita, mas sim de esmalte com apatitafluoretada, que liberaria
o flúor quando do fenômeno de desmineralização,
funcionando, portanto, como um reservatório de flúor e sendo
a primeira defesa do dente frente ao desenvolvimento da cárie. Além
disso, haveria um efeito indireto do flúor sistêmico, tendo
em vista o fato de que o esmalte de quem ingeriu água fluoretada
apresenta menos carbonato (o qual deixa o dente menos solúvel )
do que o formado na ausência de flúor. Por outro lado, embora
isto seja um fato, se o indivíduo que utilizou flúor sistêmico
durante a formação dos dentes deixar de fazê-lo, o
efeito será perdido. Portanto, a ação local (tópica)
de ingestão freqüente de flúor é fundamental
para garantir o efeito cariostático. Aí surgiria um dilema,
ou uma pergunta: como compensar com método tópico, por exemplo,
dentifrício fluoretado, o efeito sistêmico? A explicação
seria de que o uso de flúor sistêmico implica na utilização
de uma única medida preventiva, enquanto que escovação
com dentifrício fluoretado envolve o uso de flúor com controle
de placa. Assim, quando uma criança escova os dentes, embora
dificilmente ela os limpe, a placa é pelo menos reduzida em espessura.
Desse modo esperar-se-ia um sinergismo de efeito simplesmente porque a
desmineralização do esmalte sob placas espessas é
duas vezes maior que sob as finas. Isso é explicado do ponto de
vista físico-químico devido ao menor produto iônico
nas placas espessas e/ou porque a atividade remineralizante da saliva seria
dificultada. Desse modo, quando uma criança escova os dentes, reduz
placa e aplica flúor, o que compensaria a ingestão isolada
de flúor.
Por outro lado, ao mesmo tempo que é difícil entender
a resistência das pessoas, quando da opção suplementos
vs dentifrícios, há grande preocupação com
o problema da fluorose dental. Sabe-se que crianças menores de 05
anos ingerem aproximadamente 30% da pasta por escovação.
Entretanto, dados epidemiológicos atuais mostram que o risco de
fluorose dental está mais fortemente associado aos comprimidos de
flúor do que ao uso de dentifrícios fluoretados.