Atividade Cariogênica Encontrada em Escolares de 4 a 14 Anos de Idade do município de Jaraguá do Sul - SC. 1994


WALTER V. CLAVERA



 
 

A odontologia como ciência tem se caracterizado, especialmente nas últimas décadas, pela contínua evolução na compreensão e tratamento das principais doenças que atingem a população global. Esse processo evolutivo diferencia indiscutivelmente as práticas de promoção de saúde por muitos utilizadas hoje, das técnicas essencialmente curativistas que há alguns anos eram tidas como modelo de atenção à saúde. Dentro desse novo paradigma, e baseando as suas práticas no fato de que são cinco os fatores determinantes do aparecimento da doença cárie e doenças periodontais (microbiota, substrato, hospedeiro, tempo e a condição sócio-econômica), podemos verificar que muitos são os movimentos que localmente vêm surgindo no nosso país e que estão de fato baseando suas práticas comunitárias em medidas reais de "Promoção de Saúde".

No município de Jaraguá do Sul, recentemente foi realizado um estudo epidemiológico da prevalência de cárie dental em 66,5% da população total (13.280 escolares) de 4 a 14 anos de idade do município. Também foi analisada a percentagem de jovens dessa faixa etária que apresentavam, por ocasião do exame, sinais clínicos de desequilíbrio no processo de desmineralização e remineralização dentária o qual será citado neste artigo como "atividade cariogênica" positiva ou negativa. Para possibilitar a realização do estudo mencionado uma equipe de profissionais foi submetida a um treinamento específico a fim de basear o levamento de informações na metodologia proposta pela Organização Mundial de Saúde (1991). Todos os escolares foram examinados em consultórios da rede odontológica municipal, com auxílio de seringa de ar, instrumental apropriado e luz artificial.

Em relação aos dados obtidos, no que diz respeito à prevalência de cárie observamos que os índices CPO-D encontrados eram de 0,32 para a idade de 6 anos, 1,92 para os 9 anos e de 4,48 aos 12 anos de idade. Isso evidenciou diferenças favoráveis em relação aos dados obtidos em 1986 pelo Ministério da Saúde para as mesmas idades.

Quando observadas as percentagens de jovens que apresentavam, por ocasião do exame, "atividade cariogênica" positiva ou negativa, os resultados foram os seguintes: 67,7% dos escolares examinados não apresentaram sinais clínicos de atividade cariogênica (cáries agudas e ou manchas brancas ativas) enquanto 32,3% do total de escolares examinados possuíam sinais claros de estarem sofrendo um processo de desmineralização avançado.

Baseando nossa observação nos conceitos científicos mais recentes que definem o processo de cárie como um processo dinâmico e constante, e por serem inúmeros os autores que, por sua vez, criticam a forma de se medir a prevalência de cárie através dos índices CPO-D, por considerá-los estáticos e pouco sensíveis a mudanças, passamos a comparar dados de prevalência de cárie com o fato de as crianças examinadas possuírem ou não sinais clínicos de "atividade cariogênica" na hora da realização do exame, o qual possivelmente tornaria os dados obtidos mais próximos da realidade observada em cada pessoa naquele determinado momento em que foi avaliada.

Os dados obtidos através da comparação da prevalência de cárie por idade (CPO-D) em relação ao fato dos jovens apresentaram sinais de "atividade cariogência positiva" ou de atividade cariogê-nica negativa são apresentados no quadro abaixo

Analisando estes dados, observamos que foram significativamente menores os índices de prevalência de cáries encontrados nos escolares que se apresentavam sem sinais clínicos de desequilíbrio no processo DES-RE na hora do exame realizado. Essas diferenças encontradas atingem valores até 81,25% menos cáries para as crianças de 5 anos de idade com "atividade cariogênica negativa", diminuindo para 64,45% aos 6 anos, 44,49% aos 9 anos e sendo de 42,15% aos 12 anos de idade. >

>Outro dado importante obtido através desta comparação de dados foi que dos 614 escolares de 12 anos de idade examinados no município, 29,19% apresentavam índices CPO-D no intervalo entre 0 2 3 (indicado pela OMS como meta a ser atingida até 2000 em todas as crianças dessa idade), 44,25% possuíam um CPO-D entre 3 e 6, e que 26,56% dos escolares de 12 anos de idade do nosso município atingiam níveis de doença cárie igual ou acima do CPO-D 6. Comparando esses dados e intervalos em relação aos escolares com "atividade cariogênicas positiva" essas percentagem foram de apenas 15,92% dos escolares de 12 anos carioativos com índices CPO-D entre 0 e 3, enquanto que 43,31% possuíam CPO-D entre 3 e 6 e 40,77% apresentavam CPO-D igual ou acima de 6. Nos escolares com carioatividade negativa, essas percentagens foram de 42,46% dos escolares com índices CPO-D entre 0 e 3 , de 45,20% com CPO-D entre 3 e6 (ou seja, abaixo da média nacional de 1986) e apenas 12,34% dos escolares apresentavam CPO-D iguais ou acima de 6.

Através da análise de todos esses dados, fica evidente a necessidade de se conseguir dar condições a nossa população de se manter num equilíbrio entre os processos de desmineralização e remineralização dentárias. Esse equilíbrio, na nossa forma de ver, passa por conseguirmos interferir em todos os cinco fatores determinantes das principais doenças bucais e pela implantação nos serviços públicos de processos de educação em saúde, agregação correta e constante de flúor nas águas de abastecimento público, assim como a realização de uma efetiva vigilância sanitária desses níveis de flúor por parte das Secretarias Municipais de Saúde, uso de técnicas clínicas de adequação do meio bucal, controle mecânico de placa, assim como pelas mudanças possíveis na dieta e o uso racional de flúor, segundo as necessidades de cada indivíduo e da comunidade como um todo.


WALTER VÁZQUEZ CLAVERA é Professor de Odontologia Social e Preventiva - FAOVI-UNIVALI - SC