Parte II - Toxicidade Aguda
JAIME APARECIDO CURY
Na edição anterior do nosso jornal foi descrito como transformar unidades de concentração de flúor em termos de quantidade para prever riscos de intoxicação. Assim, se uma criança de 22 Kg beber um copo (250 ml) de NaF a 0,2%, ela ingerirá 225 mg de íon flúor (F), o que dividido pelo peso da mesma fornecerá a dose de 10 mg F/Kg à qual foi submetida a pessoa. Até pouco tempo atrás essa dose não seria preocupante, pois não era superior à estabelecida Dose Seguramente Tolerada (8 a 16 mg F/Kg). Entretanto, no presente se estabeleceu uma dose para maior segurança (5,0 mg F/Kg) chamada Dose Provavelmente Tóxica (DPT), tendo em vista acidentes fatais com crianças que ingeriram comprimidos de flúor e foram submetidas a doses inferiores às no passado consideradas seguras.
Em primeiro lugar, os sintomas de intoxicação aguda por flúor dependem da dose, mas vão desde problemas gastro-intestinais a arritmias. Assim, náuseas e vômitos ocorrem devido ao fato de que, sendo o flúor absorvido principalmente no estômago, quantidades altas ingeridas irritam a mucosa gástrica. Morte é conseqüência de paralisia cárdio-respiratória. Desse modo, quais são os riscos a que estamos expostos com os métodos de utilizar flúor?
FLÚOR SISTÊMICO - Água fluoretada ou sal fluoretado são totalmente seguros. Entretanto há risco com os suplementos, tendo sido relatados casos fatais com ingestão de comprimidos ou soluções. Para segurança da prescrição, não mais que 50 comprimidos de 1,0 mg F podem estar ao alcance de crianças, assim como não mais que 10 ml do convencional NaF a 1% devem ficar expostos.
FLÚOR TÓPICO - Embora haja segurança com relação à letalidade, para maior segurança algumas medidas são recomendadas. Ao se preparar soluções, essas devem estar devidamente rotuladas quanto à identificação do que é, sua finalidade e recomendações. Na aplicação tópica profissional, por exemplo gel (12300 ppm F), o paciente deve cuspir exaustivamente (30 segundos a 1 minuto) após a aplicação.
Em segundo lugar, embora acidentes fatais com flúor tenham sido comuns no passado, quando o NaF era usado como raticida, no presente felizmente eles são raros, o que, por outro lado, pode fazer com que haja um despreparo para reverter quadros de intoxicação. Assim, a tabela abaixo publicada no JADA 110 (2), 1985, procura dar uma orientação de tratamento emergencial quando de sobredose.
Concluindo, utilizando adequadamente os produtos fluoretados à disposição, haverá segurança total quanto à fatalidade, pois o paciente poderá ser submetido a doses inferiores a 5,0 mg F/Kg. Acidentes têm ocorrido, como por exemplo, ingestão de 200 comprimidos de 1,0 mg F, ou uso inadvertido de pasta desensibilizante (150.000 ppm F) para aplicação tópica profissional. Na aplicação tópica profissional com gel, mesmo utilizando moldeiras, o paciente poderá ser submetido à dose de 0,7 mg F/Kg, portanto totalmente segura quanto à letalidade. Procedimentos clínicos para minimizar os problemas gastro-intestinais devem ser adotados. Deve ser enfatizado que a absorção de flúor é rápida e em 1 hora praticamente 90% do ingerido atinge o sangue. No próximo número deste jornal será abordada a intoxicação crônica por flúor. Aguarde com prevenção.