No último dia do Seminário Internacional "SAÚDE BUCAL Para Todos". Alice Horowitz, do NIH (Instituto Nacional de Saúde - EUA), falou sobre Educação e Promoção de Saúde.
A cárie é a doença humana mais disseminada no mundo. O risco de sua incidência tem motivado a tentativa de ensinar as pessoas a não consumirem açúcar e a adotarem métodos de higiene oral. É importante relatar as dificuldades encontradas nessas tentativas, pois a solução do problema cárie não está centrada somente em atitudes individuais. O governo e a comunidade também devem ter responsabilidade.
No que se refere à dieta, pode-se verificar que o comércio de açúcar cresceu neste século, o que implica dizer que houve aumento de consumo. O reflexo disso está nas escolas, onde há cantinas que vendem produtos cariogênicos. Uma pesquisa americana recente mostrou o que os estudantes fazem com seu próprio dinheiro: 68% compram doces. Os escolares escolhem aquilo de que mais gostam, condicionados aos estímulos visuais e às propagandas. Apesar dos esforços em educação e da crescente preocupação com saúde e alimentação, a ingestão não inteligente de alimentos contendo açúcar é ainda um problema.
O maior acúmulo de placa resultante do consumo freqüente de açúcar não tem sido solucionado com escovação. É sabido que não existe remoção completa de placa dental, principalmente em fissuras. Para superar as deficiências no controle de placa, utiliza-se flúor, que tem se mostrado capaz de reduzir cárie em todo o mundo. Mas, embora efetivo em todas as superfícies dentais, o uso de flúor confere maiores benefícios às superfícies lisas. Por isso, nos EUA existe um interesse especial por selantes. Mes-mo adultos jovens podem ter seus dentes selados, para assegurar que determinadas superfícies não sejam ataca-das e também prevenir sobre-tratamentos. Os selantes, portanto, previnem cáries e iatrogenias.
Apesar das alternativas terapêuticas, muitas vezes não se consegue controlar a cárie, pois sem transferência de conhecimentos não há resultado eficaz. Conhecimento é a palavra chave. É o poder de um indivíduo, de um grupo ou de uma comunidade. A educação deveria ser o fundamento de qualquer programa de saúde pública, para qualquer tipo de doença. Contudo, evidências consideráveis indicam que as informações transmitidas, freqüentemente, não consideram o conheci-mento científico disponível e muitas vezes são incorretas.
O papel do conhecimento é um conceito fundamental em educação para a saúde e promoção de saúde, por ser essencial para que as pessoas possam tomar decisões conscientes. Durante qualquer procedimento, o profissional deve esclarecer o que está fazendo e a efetividade esperada.
A educação para a saúde pode ser definida como qualquer combinação planejada de aprendizado, que predispõe, capacita ou reforça o comportamento voluntário, levando à saúde do indivíduo, do grupo ou da comunidade. Difere da promoção de saúde, que é a combinação planejada de ações educacionais, políticas, regulatórias e organizacionais, que atuam na condição da saúde do indivíduo, do grupo ou da comunidade. Deve-se também diferenciar disseminação de informações de educação para a saúde. A educação se caracteriza por ser delineada para uma população, usando métodos elaborados, tais como: repe-tição, reforço, contato pessoal e adequação das informações aos níveis de aprendizado apropriados.
Dentre os instrumentos educacionais utilizados em saúde destacam-se: audiovisuais, programas educativos, jogos, simulações, desenvolvimento de habilidades, discussão em grupos, aprendizado programado, modificação de comportamento, planejamento e ação social, organização e desenvolvimento da comunidade. Vale ressaltar o poder da televisão como veículo de comunicação e de modificação de comportamento. Entre os fatores que influenciam o comportamento, destacam-se as justificativas, a capacitação, a motivação e o reforço contínuo ou incentivo. Todavia, para que as mudanças de comportamento possam ser permanentes, é preciso usar métodos múltiplos de educação.
Um aspecto importante em educação para saúde é a organização comunitária, ou seja, o conjunto de processos e procedimentos pelos quais uma população e suas instituições mobilizam e coordenam recursos, para solucionar problemas mútuos ou para alcançar um objetivo comum. As medidas mais efetivas relacionadas à saúde ocorrem quando programas comunitários, fundamentados e significativos, são implementados e mantidos. Entretanto, o modelo de atenção à doença deve ser substituído pelo modelo de promoção de saúde e prevenção de doenças.
Para a implementação de um programa desse tipo deve-se, inicialmente, diagnosticar as necessidades da comunidade, através de estudos epidemiológicos dos problemas biomédicos e sócio-demográficos. Objetivos e prioridades devem, então, ser estabelecidos, considerando a população alvo, para que se possa formular um plano de ação.
A manutenção do programa, por sua vez, depende da utilização de procedimentos válidos, de se prover informações corretas e precisas, de atendimento e aconselhamento.
Avaliações devem ser conduzidas, considerando o que foi feito, os efeitos do programa e os recursos empregados. É a partir das avaliações que novas metas, que possam efetivamente ser alcançadas, serão estabelecidas.
Educação deve ser parte de cada uma das etapas descritas. Embora por si só não possa ser considerada uma medida preventiva, a educação para a saúde deve ser parte essencial de qualquer programa, visando promoção de saúde.