Utilizados com grande freqüência na prática médica e odontológica, os antibióticos são, de forma indiscriminada, acusados de serem responsáveis pelo desenvolvimento de dentes mais suscetíveis à instalação e progressão da cárie dental. Vários agentes químicos realmente podem interferir na odontogênese, como antibióticos e flúor. Quando observamos clinicamente uma relação positiva entre alterações dentárias e uso de agentes químicos, devemos abordar dois aspectos: o tipo e a época de sua utilização. Dos antibióticos empregados, o único cientificamente comprovado, capaz de interferir no processo de mineralização dos tecidos dentários duros, através de sua propriedade de quelação com o cálcio, é a tetraciclina, em suas variadas formas de apresentação. Por sua ação não desejável de causar pigmentação dentária, além de problemas ósseos, e também devido à descoberta e utilização de substitutos, esta não vem sendo mais prescrita para crianças e gestantes. Esse tipo de antibiótico apenas comprometerá as estruturas dentárias, caso sua utilização tenha sido concomitante à fase de formação dos dentes que apresentam as alterações clínicas, representadas principalmente por hipoplasia de esmalte. O profissional deve sempre ter em mãos tabelas cronológicas que indicam as várias fases da odontogênese, para que ele possa fazer a associação correta, inclusive do desenvolvimento dentário intra-uterino. Também deve ser observado o grupo de dentes envolvidos, pois como os antibióticos atuam sistemicamente, necessariamente todos os dentes em desenvolvimento na mesma época estarão afetados, embora possam apresentar diferentes graus de hipoplasia. Esses pontos devem ser esclarecidos constantemente, principalmente aos responsáveis pela criança que, em muitas situações, acusam os antibióticos por problemas que, provavelmente, são de sua própria responsabilidade, como falta de controle da dieta e hábitos de higiene bucal.

JOSIMERI HEBLING COSTA é professora da disciplina de Odontopediatria da Faculdade de Odontologia de Araraquara - UNESP