Estatística Prática para Docentes e Pós-Graduandos
de Geraldo Maia Campos

4. As repetições e o experimento-piloto

O número mais adequado de repetições.

    O estabelecimento do número de repetições põe novamente em cena a mesma velha pergunta: qual o número mais adequado de repetições? E a resposta seria ainda a mesma já dada anteriormente: não existe tal número. Pelo menos não existe nenhum número mágico — poder-se-ia dizer mesmo cabalístico — que pudesse servir indiferentemente a qualquer experimento. O que há, na verdade, é um número mais adequado de repetições para cada experimento — um número que varia de um experimento para outro, e que precisa portanto ser calculado para cada um deles.

A variabilidade dos dados experimentais.

    Mas como fazer esse cálculo? Que leis regem a escolha desse número? A isto, sim, é possível responder: o que rege a escolha do número de repetições mais adequado a um experimento qualquer é a variabilidade dos seus dados experimentais. Mas — poderá objetar alguém — se o experimento ainda não foi realizado, como se pode conhecer o seu grau de variação, ou avaliar a sua variabilidade?
    É precisamente aí que entram dois novos elementos igualmente muito importantes na execução de qualquer experimento: o experimento piloto e a verificação preliminar da variabilidade dos dados experimentais.

O experimento piloto.

    O experimento piloto é aquele que se faz previamente à realização da pesquisa propriamente dita, e visa a testar o método de trabalho e os processos técnicos envolvidos na execução dos experimentos. Em geral o piloto segue o mesmo plano geral de trabalho, que orienta a investigação como um todo. Todavia, difere dele num ponto: no número de repetições — e o faz exatamente porque, a essa altura, o número mais adequado de réplicas ainda não foi fixado de forma definitiva.
    No experimento piloto, a variável é a mesma já definida, os fatores de variação são os mesmos já estabelecidos para a pesquisa, mas em geral o número de repetições é pequeno, para não tornar o experimento-piloto muito trabalhoso ou muito demorado.

O número inicial de repetições.

    É bastante comum a escolha de 3 repetições, como um bom número para começar. Isto porque o número 3 evita a invariabilidade do número 1, foge ao perigo da repetição coincidente representado pelo número 2, e já apresenta alguma variação, a qual no mais das vezes já é suficiente para testar a variabilidade determinada pelos fatores de variação e pelas próprias repetições.

A variabilidade dos dados no experimento piloto.

    A verificação preliminar da variabilidade dos dados experimentais é feita após a execução do experimento-piloto. Para isso, faz-se uma análise de variância dos dados obtidos nesse piloto, sem qualquer preocupação quanto ao tipo de distribuição dos dados, e seja lá qual for o número de repetições nele fixado. Realizada essa análise de variância preliminar, faz-se então o teste estatístico para determinar, especificamente para esse experimento, qual seria aquele misterioso e tão procurado número mais adequado de repetições.

O número mais adequado de repetições.

    Esse teste é do tipo iterativo e requer um programa de computador, pois de outra forma ele seria muito demorado e trabalhoso. O teste é chamado iterativo porque, partindo do número inicial de repetições do experimento-piloto, ele calcula um novo número de repetições, e volta a introduzir no teste esse número calculado, à guisa de novo valor inicial, recalculando tudo e achando outro número de repetições. Assim, sucessivamente, vai recalculando até que o número de entrada do teste seja igual ao número de saída. 
    Quando essa igualdade ocorre, o teste é dado por terminado, e esse último número de repetições constitui o número mais adequado de repetições para aquele experimento. O teste sugere pois que, para aquela variação detectada pelo experimento-piloto, é necessário aquele número mínimo de réplicas, para que se possam perceber diferenças estatisticamente significantes entre os fatores de variação estudados.

Esta página foi elaborada com apoio do Programa Incentivo à Produção de Material Didático do SIAE, Pró-Reitorias de Graduação e Pós-Graduação da USP.