Honra versus Amor

Dialogo entre um pai e um mago

 

Jesus Djalma Pécora

 

 

Um pai, desesperado pelos problemas familiares, procurou um mago, para sábias orientações, e respeitosamente, disse:

-Caro mago, estou angustiado, pois hoje vejo com clareza que não conheço meu filho! – Nunca o conheci!  O que fazer?

            O mago, com um olhar bondoso e cheio de paz e piedade e com uma voz serena, falou: - É o que todos os pais dizem, e eu também. Isto não é um problema de gerações, de alguns anos separando pais e filhos. Não é, ainda, um problema de experiência, sabedoria, determinação, teimosia juvenil, cegueira e revolta! É, na verdade, a expressão da natureza humana.

            O mago parou de falar e dirigiu um olhar, com compaixão, ao pai desesperado e continuou:

-Nenhum homem conhece o outro! É uma infelicidade os homens acreditarem que, em virtude de um filho ter nascido de suas entranhas, tenham grande intimidade, uma compreensão afetiva, como se fosse um só!

            O mago parou, ficou pensando com o olhar dirigido ao infinito, e serenamente disse com uma voz baixa e pausada:

            -Um amigo, mais moço ou mais velho, freqüentemente tem uma visão mais profunda e afetuosa do seu coração e pensamentos que um filho, pois a afinidade não é problema de sangue, mas de espírito. Oh! Bendito é o homem que descobre no seu filho um amigo!

            O pai arregalou os olhos e, assustado, perguntou:

-Então nossos filhos são estranhos para nós?

O mago dirigiu um olhar firme nos olhos do consulente, respondendo:

            -Quase invariavelmente. Sábio é o pai que sabe disto deste o começo. Seu filho é a carne de sua carne, mas ele não é filho de sua alma. Você pode cultivar a amizade do filho como pode cultivar a de um estranho. E, se ela for repudiada, não deve ser exigida, pois que homem pode ser amigo de outro se não há simpatia, e esta não pode ser forçada.

            O pai desesperado perguntou rispidamente: - Você nega o amor paterno?

            -Oh! Meu caro amigo, claro que não nego o amor paterno. Mas o amor filial é uma coisa fugidia, que pode ser dado ou não sem motivo, não sendo uma jóia à venda que o dinheiro ou mesmo a devoção possam comprar. Assim, um pai não pode obrigar seu filho a amá-lo, pois poderá ser impossível por uma infinidade de impulsos ilógicos. A única coisa que se pode exigir é o respeito e a honra que, no fim, podem ser de maior valia. Mas exigir amor, nunca, pois o amor brota nas almas de um modo espontâneo e não por exigência.

            Depois de um silêncio prolongado, para que o pai pudesse refletir a mensagem, o mago continuou: - Deus, quando ditou os dez Mandamentos para Moisés deixou claro que um dos mandamentos é: Honrar pai e mãe. O mandamento, sabiamente, expressa a palavra honrar e, não expressa a palavra amar, pois amor exige afinidade espiritual e honra exige respeito. São coisas diferentes.

            O pai, mais calmo, dirigiu um olhar interrogativo e perguntou: - O que faço?

            Vai, respondeu o mago, - Vai, procure ser honrado pelo seu filho, isto já é bastante humano.

 

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