ODONTOMETRIA
ENDODONTICS - ENDODONCIA
(CONDUTOMETRIA)
Professor Titular de Endodontia da FORP-USP |
Pós-Graduando da FORP-USP |
Um dos objetivos do tratamento endodôntico consiste na instrumentação, limpeza e desinfecção do canal radicular. Para isto, faz-se necessário saber o comprimento do dente. A determinação do comprimento do dente possui varias denominações, variando de acordo com a fonte ou o autor, que são: odontometria, condutometria ou endodontometria.
A correta odontometria é muito importante, pois faz-se necessário diminuir ao máximo possível os traumas operatórios, promovendo assim, o respeito ao tecidos periapicais, que constitui um dos ítens que compõem os princípios básicos do tratamento endodôntico.
O fracasso em determinar precisamente o comprimento do dente pode provocar perfurações apicais, sobre instrumentação e sobre obturação, com incidência de dor pós-operatória. O oposto também pode ocorrer, levando a instrumentação e obturação deficientes, incompletas, causando insucesso no tratamento endodôntico.
O tratamento endodôntico será bem realizado se todas as fases que o compõe forem corretamente realizadas, não havendo priorização de algumas delas sobre outras. Os erros , quando não corrigidos antes de passar para nova etapa, acarretam o insucesso do tratamento endodôntico, pois levará às suas somatórias.
Desde o início de século, os endodontista estão em busca de métodos para determinar o comprimento de trabalho que sejam fáceis, rápidos e precisos.
Vários métodos foram propostos para esse fim, tais como: resposta do paciente à dor provocada pela ultrapassagem de um instrumento pelo forame apical, Crane (1921); aplicação do teorema de Talles, Bregman (1950); sistemas geométricas, Best et al (1962); e sistemas eletrônicos Sunada (1962), Stoianov (1978) e Yamaoka et al(1989).
Bregman (1950) recomendava a colocação de uma lima no interior do canal radicular para, em seguida, tomar uma radiografia. De posse dessa radiografia, determinava-se o comprimento aparente do dente e do instrumento. Com esses dados e conhecendo-se de antemão o comprimento real do instrumento, aplicava-se a equação da proporcionalidade baseada no Teorema de Talles (CRD = (CRI x CAD)/CAI), obtendo-se o comprimento real do dente e, por conseguinte, o comprimento de trabalho, uma vez que este é dado pela subtração de 1 a 2 mm do comprimento real do dente.
Ingle & Beveridge (1979), para determinar o comprimento do dente, utilizava-se de uma radiografia de diagnóstico com distorção mínima, onde se fazia a mensuração do dente, subtraíam-se três milímetros, introduzia-se uma lima no interior do canal radicular do dente em questão e tomava-se nova radiografia. Com base nesta última radiografia, media-se a distância entre a ponta do instrumento e o vértice radicular, e somava-se essa medida com o tamanho real do instrumento menos meio milímetro, que foi a margem de segurança por eles estabelecida para determinar o comprimento de trabalho.
Sunada (1962) propôs um método de determinação do comprimento de trabalho por meio do uso de um aparelho eletrônico, que consiste essencialmente de um microamperímetro, um potenciômetro e dois eletrodos. Um dos eletrodos é conectado à mucosa bucal do paciente e outro eletrodo (lima) é colocado no interior do canal radicular. Calibrado o aparelho, a lima é cuidadosamente introduzida no canal até que o microamperímetro acuse 40 microamperes, o que significa que a lima atingiu o ápice.
Stoianov (1978) criou um equipamento eletrônico que permitia a localização do limite CDC, baseado na variação da impedância dos tecidos.
Assim, a idéia de simplificar a determinação do comprimento de trabalho para a instrumentação do canal radicular, por meio de um método rápido e eficiente sempre foi a preocupação dos cientistas.
Sousa Neto et al (1995) avaliaram clinicamente o uso do aparelho eletrônico APIT para determinação da condutometria em 170 pacientes tratados, perfazendo um total de 282 canais.O índice de acerto da condutometria com esse aparelho foi de 98,5%.
Chamamos atenção para os seguintes fatores que interferem na medida eletrônica:
Sousa Neto et al (1995) chamam atenção que para evitar a interferência desses fatores, o profissional deve observar o seguinte:
Para aplicação de qualquer método de mensuração do comprimento do canal radicular, o profissional deve ter noção exata das medidas dos comprimentos médios dos dentes. Os comprimentos médios mostrados a seguir foram obtidos de trabalhos de anatomia dental realizados no laboratório de Endodontia da FORP-USP.
No arco superior: incisivo central (23,7mm); incisivo lateral (23,1mm); canino (27,3mm); primeiro pre-molar (22,3mm); segundo pre-molar (22,3mm); Primeiro molar (22,3mm); segundo molar (22,2mm).
No arco inferior: incisivo central (21,8mm); incisivo lateral (23,3mm); canino (26,0mm); primeiro pre-molar (22,9mm); segundo pre-molar (22,3mm); Primeiro molar (22,0mm); segundo molar (21,7mm).
A seguir mostraremos dois métodos para determinação do comprimento de trabalho:
Método de Bregman (1950) Método Eletrônico Aparelho APIT, (OSADA ELETRONIC Co). |
Método de Bregman (1950)
Para aplicar o método deve-se observar as seguintes etapas:
1- Mede-se comprimento aparente de estudo (CAE), que nada mais é do que o comprimento do dente na radiografia de estudo.
2- Reduz-se 4mm do CAE, estabelecendo-se dessa forma o comprimento real do instrumento (CRI), que será introduzido no interior do canal radicular.
É importante saber que os 4mm subtraídos do CAE têm o objetivo de dar margem de segurança para que o instrumento não ultrapasse o forame apical e traumatize aquela região.
3- O instrumento (lima) a ser introduzido no canal deve possuir calibre aproximado ao diâmetro anatômico do canal, para que fique bem justo e não de movimente durante a tomada radiográfica.
Coloca-se um limitador (cursor ou "stop") no instrumento para demarcar o comprimento que será introduzido no canal radicular (CRI). Esse cursor deverá apoiar-se na porção incisal ou oclusal do dente (ponto de referência) com a finalidade de se obter a mensuração do mesmo.
4- Radiografa-se o dente com o instrumento em posição. Feito isso, retira-se o instrumento e, para confirmar a medida estipulada anteriormente (CRI), mede-se a distância que vai da ponta do instrumento até o cursor.
5- Uma vez processada a radiografia, mede-se o comprimento aparente do instrumento (CAI) e o comprimento aparente do dente (CAD), que nada mais são do que os comprimentos do instrumento e do dente vistos na radiografia, respectivamente. O CAI deve ser medido da ponta do instrumento até o ponto de referência onde o curso foi apoiado.
6- Conhecidos o CRI, o CAI e CAD, podemos calcular o comprimento rela do dente (CRD) aplicando a seguinte fórmula:
CRD = CRI x CAD / CAI
7- Uma vez obtido o CRD pode-se determinar o comprimento de trabalho (CT), que o comprimento real do dente menos 1 mm.
8- A seguir, verifica-se se o comprimento de trabalho (CT) obtido está correto, fazendo-se uma radiografia com o instrumento no interior do canal radicular no CT obtido. A análise da radiografia de confirmação do CT deve mostrar claramente o instrumento no interior do canal radicular colocado 1 mm aquém do ápice radiográfico. Caso essa situação não ocorra, deve-se iniciar a odontometria novamente.
Esta confirmação do CT deve ser sempre realizada, pois as imagens radiográficas podem sofrer distorções e fornecer dados errôneos.
Vale ressaltar que a radiografia de diagnóstico ou estudo deve ser de excelente qualidade, isenta de distorções, para que se tenha uma melhor noção do comprimento do dente. A técnica radiográfica do cone longo proporciona radiografias com imagens mais próximas do real.
9- Arquive as radiografias de seu paciente para que se possa realizar a proservação. Elas servem também como documento que comprova a correta execução da técnica endodôntica nos casos de problemas judiciais entre o profissional e o paciente.
Método de Odontometria Eletrônica com o Aparelho APIT
O aparelho APIT é composto basicamente por um amperímetro e dois eletrodos. Um eletrodo é conectado a um porta-limas, onde a lima endodôntica é adaptada. O outro eletrodo é conectado a uma peça metálica que entra em contato com a mucosa bucal do paciente.
Antes do manuseio do aparelho, deve-se fazer a leitura do manual de instruções do fabricante. Posteriormente deve-se simular várias situações para observar se domina o aparelho, por exemplo, conhecendo o comprimento de um dente procure deixar a lima conectada ao aparelho a 0,5; 1,0 e 2,0 mm aquém do ápice, confirmando com uma radiografia.
A condutometria com o aparelho APIT deve ser realizada do seguinte modo:
1. Isola-se o campo operatório com dique de borracha.
2. Realiza-se a cirurgia de acesso à câmara pulpar.
3. Seca-se a câmara pulpar com o auxílio de um penço de algodão, tomando-se o cuidado para não secar o canal radicular.
4. Com auxílio da radiografia de diagnóstico, introduza a lima até dois terços do canal radicular e conecte a lima ao eletrodo por meio do porta lima.
5. O outro eletrodo, possue uma peça metálica em forma de gancho que deve ser colocada na comissura labial, ficando em contato com a bochecha do paciente.
6. O passo seguinte consiste no ajuste do ponteiro do mostrador do aparelho na posição (ADJ), este é o ponto de ajuste do aparelho.
7. Após o ajuste, introduza a lima lentamente no interior do canal radicular até ouvir um som intermitente emitido pelo aparelho. Esse som é indicativo que o instrumento está 1 mm aquém do ápice.
8. Ao ouvir o som intermitente, ajuste o cursor previamente colocado na lima, em um ponto referencial do dente, obtendo-se o comprimento de trabalho.
9. Radiografe para confirmar se o instrumento está ou não na posição correta.
A medida que a lima é introduzida no canal, a partir de 1mm aquém do ápice, o som emitido pelo aparelho passa a ter intervalos cada vez menores até se tornar contínuo, indicando que o instrumento ultrapassou o comprimento do dente.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. BEST, E.J.; GERVASIO, W.; SOWLE, J.; WINTER, S.; GOURNEY, F. Un nuevo metodo para determinar el largo del diante en la practica endodontica. Oral Hyg. 33(7): 19-28, jul. 1962.
2. BREGMAN, R.C. A mathematical method of determining the lenght of a tooth for root canal tretment and filling. J. Canad. Dent. Ass. 16(6):305-6, june 1950.
3. CRANE, A.B. Discussion of nature of methods of making perfect root fillings. D. Cosmos, 63(10): 1039-40, oct. 1921.
4. INGLE, J.I. & BEVERIDGE,E.E. Endodontics, Lea & Febiger, Philadelphia, 1976.
5. PÉCORA, J.D.; SAQUY, P.C.; SOUSA NETO, M.D.; WOELFEL, J.B. Root form and canal anatomy of maxillary first premolars. Braz. dent. J. 2(2):87-94, jul./dec. 1991.
6. SOUSA NETO, M.D.; BONINI, A.; SILVA, R.G.; SAQUY, P.C.; PÉCORA, J.D.: Avaliação de um aparelho eletrônico para determinação da odontometria (Condutometria). Rev. Odontol. Univ. São Paulo, 9(1):33-37,jan./mar. 1995.
7. STOIANOV, D.D. Determinação do comprimento dos canais radiculares pela medida de condutividade elétrica do canal em corrente alternada "in vivo". Rev. Fac. Farm. Odont. Ribeirão Preto, 15(1): 45-53, jan./jun. 1978.
8. SUNADA, I. New method for measuring the lenght of the root canals. J. Dent. Res. 41(2):375-87, mar./apr.,1962.
9. YAMAOKA, M.; YAMASHITA, Y.; SAITO, T. Electrical root canal measuring instrument based on a new principle. Osada product information n. 6/89.
OBRIGADO PELA SUA VISITA