BREVE HISTÓRICO DO LASER
 
 



 
 
 
 

Prof. Dr. Jesus Djalma Pécora
Titular de Endodontia da FORP-USP
pecora@forp.usp.br
Prof. Aldo Brugnera Júnior
Prof. Titular de Laser na  Faculdade de Odontologia da UCCB
Doutorando da Fac. Odontologia da UFRJ brugnera@globo.com.br



 

HISTÓRIA
 
 

Sem dúvida, um dos grandes avanços na área médica, neste século foi o desenvolvimentos dos aparelhos de laser. A aplicação dos diferentes tipos de lasers possibilitou uma grande alteração nos procedimentos médicos e odontológicos pois, proporcionou uma grande redução do tempo de duração das cirurgias, no tempo de recuperação dos pacientes, nas complicações pós-operatórias, na redução de edemas e, ainda, facilitou a bioestimulação dos tecidos moles (atualmente conhecida como biorregulação), como também, um maior controle e domínio das dores crônicas.

Assim que o laser começou a ser difundido na área médica, os dentistas verificaram que este sistema de luz poderia ser aplicado em muitos procedimentos odontológicos e que havia um futuro promissor nesta nova fonte de investigação.

As pesquisas com laser na área odontológica começaram nos primeiros anos da década de sessenta e já em 1988, no Primeiro Congresso de Laser no Japão, fundava-se a International Society for Lasers in Dentistry (ISLD) (Sociedade Internacional de Estudo de Laser na Odontologia) e, logo depois a FDA ( United States Foods and Drugs Administration) aprovava o uso do laser para as cirurgias de tecido moles da cavidade bucal.

Normalmente, as grandes invenções não são realizadas por uma só pessoa e sim, advem de uma quantidade de conhecimentos desenvolvidos, ao longo do tempo, onde muitas pessoas colaboram e cada qual proporciona um avanço, quer com os sucessos como com os insucessos. Os sucessos indicavam os caminhos que deveriam ser seguidos e os insucessos, sem dúvida, indicam quais os caminhos que devem ser abandonados.

Iniciar uma história, falando somente de laser, fica imprecisa e atemporal, pois o laser é um tipo de luz e a luz é fonte de vida e sempre foi usada pelos animais e plantas, que aliás, proporcionou sua existência neste planeta.

Laser é uma abreviação das seguintes palavras: " light amplification by stimulated emission of radiation" ou seja amplificação da luz por emissão estimulada de radiação.

Sendo o laser uma amplificação por emissão estimulada de radiação, devemos iniciar falando alguma coisa sobre a luz solar, a primeira que os seres viventes deste planeta viu, sentiu, utilizou como fonte da vida.

Miserandino & Pick (1995) e Brugnera - Júnior & Pinheiro (1998) relataram, em suas pesquisas que a luz solar é utilizada, desde os primórdios da civilização, com finalidades terapêuticas. Assim citam que os indianos (1400 AC) preconizavam uma substância fotossensibilizadora obtida de plantas, que aplicada sobre as peles dos pacientes promovia a absorção da luz solar para curar as a discromia causada pelo vitiligo. Diversas formas de terapia com luz solar foram difundidas pelos árabes, gregos e romanos para tratamento de doenças de pele. Até hoje, se utiliza medicamentos que interagem com a luz. Há, também, inúmeros medicamentos fotossensíveis.

O estudo e desenvolvimentos dos conhecimentos das radiações eletromagnéticas tiveram grande apogeu no final do século passado, com as invenções dos raios catódicos, raios x, radioisótopos, ondas de rádios e luz incandecente.

A teoria de Einstein (1915-1916) sobre a emissão estimulada de luz teve como base a teoria quântica proposta por Planck (1900). Essa teoria analisava as relações entre a quantidade de energia liberada por processos atômicos. Assim, Einstein discorreu sobre a interação de átomos, ions e moléculas com a radiação eletromagnéticas em termos de absorção e emissão espontânea de radiação e, concluiu que o terceiro processo de interação, a emissão estimulada, deveria existir e nela, a radiação eletromagnética deveria ser produzida por um processo atômico.

Na primeira metade do século XX muitas pesquisas foram desenvolvidas e em 1960, Theodore Maiman apresentou o primeiro Maser (microwawe amplification by stimulated emission fo radiation), onde o autor conseguiu, pela primeira vez a emissão estimulada de radiação pela excitação do rubi. Essa emissão estimulada obtida com rubi estava localizada na faixa visível do espectro eletromagnético.

No ano seguinte, muitas novidades surgiram, pois Javan, Bennett e Herriot apresentaram o laser de He-Ne , Johnson desenvolveu o laser de Nd:YAG e em 1964, Patel e colaboradores apresentaram o laser de Dióxido de Carbono.

O primeiro estudo envolvendo o uso de laser em Odontologia coube a Stern & Sogannaes (1964). Eles utilizaram o laser de rubi e aplicaram em tecidos dentais "in vitro" e observaram que este tipo de laser formava cratera e fusão de esmalte e dentina. A dentina exposta ao laser de rubi apresentava crateras e queima de tecido. Eles observaram, também, alterações de temperatura nos tecidos irradiados e chamaram atenção para a necessidade de se desenvolver mais pesquisas sobre o assunto.

A primeira aplicação de laser de rubi em dentes "in vivo" foi realizada por Goldman (1965) e, sendo ele médico, aplicou o laser em um dente de seu irmão, cirurgião-dentista e, relatou que o paciente não sentiu dor durante o ato operatório e nem depois. Assim, com muita propriedade Brugnera-Júnior & Pinheiro (1998) relataram que o primeiro procedimento odontológico com laser foi realizado por um médico e o primeiro paciente foi um cirurgião-dentista.

A seguir, neste mesmo ano, Taylor et al., evidenciaram que a aplicação de laser de rubi em dentes causava danos térmicos à polpa dental levando-a à destruição de dentinoblastos, bem como à necrose tecidual. O laser de rubi tem comprimento de onda de 6,94 nm.

Hall (1971) realizou um estudo onde comparou a ação do laser de CO2, o eletrocautério e o bisturi em cirurgia de tecido mole em ratos e constatou que as incisões realizados com este tipo de laser curava mais lentamente do que as realizadas com bisturi.

Em 1972, Kantola divulga o uso do laser de CO2 com comprimento de onda de 10 m m (10.600 nm) e comenta que este laser era bem absorvido pelo esmalte dental e que poderia indicar seu uso para selamento de cicatrículas e fissuras e na prevenção de cárie dental. No ano seguinte Kantola et al (1973) observaram que o laser de CO2 aumentava a resistência do esmalte dental à ação de ácidos.

Cumpre informar que Stewart et al (1985) não lograram sucesso com o laser de CO2 no selamento de fissuras de esmalte com fusão de hidroxiapatita e observaram que o laser de CO2 gerava elevação muito alta de temperatura no esmalte.

Atualmente, como demostrou Brugnera-Júnior (1999) o laser de CO2 é muito utilizado e com grande sucesso nas cirurgias de tecidos moles da cavidade bucal.

Yamamoto & Ooya (1974) mostraram que o laser de Nd:YAG induzia mudanças na superfície do esmalte dental sugestiva de fusão e que esta alteração deixava o tecido menos susceptível à desmineralização.

Hibst & Keller (1989) relataram que o uso do laser Er:YAG com comprimento de onda de 2,94 m m proporcionou uma remoção de tecido dentinário e de esmalte de modo efetivo de forma a não produzir fusão da hidroxiapatita e não gerar muito calor. Esse tipo de laser tem grande interação com água e com a hidroxila.

Os laser da família YAG ( - = Neodímio,  = Érbio,  = Hólmio) possui como meio ativo um cristal transparente de ítro-aluminio conhecido como Garnet cuja fórmula é Y3Al5O12. Este cristal transparente pode estar mergulhado em ions de Neodímio, Érbio e Hólmio, dando os laser de Nd:YAG com comprimento de onda de 1,06 m m, o laser de Er:YAG com comprimento de onda de 2,94 m m e laser de Ho´:YAG com 2,10 m m, respectivamente. O Neodímio, o Érbio e o Hólmio são metais da série lantanídios da cadeia periódica.

A historia de um ramo da ciência não tem fim, apenas relata um pouco do passado para que se tenha uma noção do assunto de modo relacionado com o tempo.
 

Referencias Bibliográficas
 
 

BRUGNERA JÚNIOR, A.; PINHEIRO, A. L. B. Laser na odontologia moderna. 1.ed., São Paulo, Pancast, 1998.

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Atualizado em 27/09/99
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