RESTAURAÇÕES EXTENSAS OU COMPLEXAS  EM  AMÁLGAMA -, CANALETA, PIN E ADERIDO


RESUMO


O avanço da odontologia Estética Adesiva tem feito com que contemplemos uma verdadeira banalização do emprego da resina composta em dentes posteriores. Tanto em nível profissional como acadêmico, tem-se caracterizado a não observância das reais indicações e contra indicações as resina composta, em favor da estética e em detrimento da função de longevidade clínica da restauração. O quadro se agrava ainda mais quando se trata de restaurações extensas e atípicas, fato que diminui a vida útil da restauração. Sob esta ótica, a indicação do amálgama como material restaurador direto continua sendo a opção mais sensata.

As restaurações  extensas com amálgama referem-se àquelas que, por sua complexidade e dimensões, não poderiam ser classificadas como restaurações típicas, segundo  BLACK (1908). BARRANCOS MOONEY (1988)  a restauração definitiva de amálgama será tanto mais fraca quanto maior for a superfície a ser reconstruída.

A concepção de que as restaurações a amálgama deveriam ficar restritas àquelas cavidades cuja amplitude não ultrapassem 1/3 da distância intercuspídea era centrada na fragilidade da resistência de bordas, na baixa resistência à tração e ao cisalhamento. Isso levava a crer que as restaurações extensas e atípicas a amálgama deveriam ser consideradas como semipermanentes e, depois de algum tempo, serviriam como fundação em preparos para RMF.

O aparecimento no mercado odontológico de amálgama com alto conteúdo de cobre e as propriedades mecânicas superiores dessas ligas quando submetidas aos esforços mastigatórios apresentando rendimento clínico mais aceitável.

Dessa forma, conclui-se o amálgama passa a ser indicado de forma indistinta, pois trabalhos de FRANCISCONE (1976) demonstram que o amálgama pode ser utilizado em cavidades atípicas, bastando para isso que se utilizem combinações retentivas como restaurações retidas a pino, canaletas, amálgama pin  e amálgama aderido.

 

RESTAURAÇÕES DE AMÁLGAMA RETIDAS A CANALETA CURVAS


Em 1979, OUTHWAITE ET AL., no sentido de encontrar nova alternativa de retenção para cavidades complexas realizou um trabalho em que canaletas retentivas eram confeccionadas nas paredes gengivais dos preparos cavitários. Para tanto utilizava brocas no 33 1/2 (cone invertida) que realizava o corte da estrutura dental cerca de 0,5 mm da junção amelo-dentinária com profundidade igual à ponta ativa da broca. Foi esse o trabalho precursor da técnica de amalgapin.

Não parece existirem dúvidas sobre a capacidade de retenção das canaletas. A dúvida de que a pequena profundidade das mesmas, cerca de 1 mm, no máximo não seria suficiente é comprovada na prática ao contrário. Como as canaletas são curvas, quer sejam interrompidas ou contínuas à área, mesmo pouco profunda, porém, em curva, determina a forma de retenção. A profundidade sendo limitada, menos agressão à polpa se terá, pois se sabe que quanto mais profundo for um preparo, mais riscos de agressão à polpa ele pode apresentar. A canaleta é portanto extensa e profunda. A  preferência para as brocas cone-invertidas deve ser dada, especialmente aquelas com extremo arredondado, como é o caso das brocas nos  329, 330 ou 245.

Como recomendação , a matriz individual, deve ser inteiramente imobilizada, pois qualquer movimento, quer durante  a condensação, quer logo após completada a condensação e definida e escultura, poderá ocorrer o deslocamento da restauração.

 

RESTAURAÇÕES RETIDAS A “AMALGAPIN”


Dentre as inúmeras alternativas para se criar a forma de retenção para cavidades complexas em 1980, SHAVELL demonstrou a possibilidade de o amálgama ser retido por perfurações na dentina onde o material seria condensado. Assim com OUTHWAITE (1979), SHAVELL (1980) baseou o seu trabalho nos problemas inerentes ao uso de pinos rosqueados. Com relação aos pinos rosqueados, essa técnica não requer equipamento especial, não provoca “stress” na dentina, além de apresentar menor custo.

As  perfurações, pela técnica original, devem ser realizadas com brocas de extremo arredondado picotadas e, para tanto sugerem-se de no 245 e 330. Na borda da perfuração deve ser executado um chanfro com uma broca esférica lisa de diâmetro superior ao da perfuração para se elevar a resistência do futuro “pino”de amálgama, como preconizado pó BARATIERI et al. (1989).

Convém salientar que, para realizarmos as perfurações, devemos considerar todos os conceitos relatados anteriormente  quando do emprego dos pinos autos-rosqueáveis. Algumas desvantagens inerentes a técnica são o diâmetro dos orifícios, dificuldade de emprego quando não há espessura de dentina, a remoção prematura da matriz  que pode levar ao deslocamento da restauração, perfurações em alta velocidade, maior risco de invasão da câmara pulpar ou do espaço periodontal e impossibilidade de proteger o fundo do orifício.

 

RESTAURAÇÕES RETIDAS A AMÁLGAMA ADESIVO ( ADERIDO)


Depois das alterações proposta por MARKLEY (1958) e do aparecimento das ligas com alto conteúdo de cobre (1963), mais recentemente nova mudança foi proposta para restaurações a  amálgama. Trata-se de unir o amálgama à estrutura dentária mediante o emprego de um sistema adesivo, técnica preconizada por VARGA (1986). O autor evidenciou um decréscimo marcante nos índices de infiltração marginal com o uso do adesivo 4-META associado a Panavia-Ex.

Outros trabalhos se sucederam, destacando-se os de LACY & STANINEC (1989)  e EAKLE et al. (1992) em que os autores comprovam a eficácia do sistema adesivo auxiliar ou até mesmo dispensar o emprego de retenções adicionais nos preparos cavitários, fato também comprovado por BUSATO et al. (1996).

É necessário que ocorra a mistura entre o agente adesivo  e o amálgama durante a condensação do mesmo, proporcionando um tipo de união chamada micro-híbrida (predominantemente mecânica) entre o amálgama e a estrutura dentária. Para tanto há necessidade de se utilizar um agente adesivo de polimerização química ou “dual”. Pela ordem de eleição temos o Panávia ( cimento resinosos com comprovada adesão ao metal), os adesivos dentinários , o cimento de ionômero de vidro e os cimentos resinosos.

Pelo fato de o amálgama estar aderido às paredes cavitárias à “semelhança”da resina composta, as forças que incidem sobre a restauração são melhores distribuídas  pela camada de adesivo, contribuindo para a elevação da resistência da estrutura dental como comprovado por EAKLE et al. (1992) E MINTO (1999).

Convém salientar que, em se tratando de restaurações de grande porção da coroa dental, a possibilidade de deslocamento ou fratura da restauração deve ser seriamente considerada (TEIXEIRA, 1988).

Portanto nenhum conceito de forma de resistência ou de retenção deve ser relegado.

Na literatura há uma controvérsia quanto ao melhor sistema de retenção a ser utilizado  e qual a real capacidade de cada um.

Não há dúvida da melhor eficiência dos pinos rosqueados em dentina quanto à retenção. Por outro lado, é verdadeiro também o fato de que o pino proporciona um efeito de cunha no interior da restauração, diminuindo a sua resistência. Além disso trata-se de um material diferente do amálgama e que pode causar microtrincas na dentina as quais podem levar a sensibilidade pós-operatória (BUSATO et al., 1996). Por isso, autores como BARATIERI (1989), OUTHWAITE (1979) e SHAVEL (1980) preconizam o uso de perfurações na dentina que, além de serem retenções diretas, não induzem tensões na dentina.Convém salientar que, o “amalgapin”como as canaletas requerem maior desgaste da estrutura dental remanescente, sendo crítico também o momento da remoção da matriz, com a possibilidade da fratura na base da restauração junto ao topo das retenções. O uso de ligas de alto conteúdo de cobre de cristalização rápida pode solucionar este problema e elevar a longevidade da restauração.

Apesar de o amálgama aderido ser uma proposta recente, são inegáveis , as suas vantagens quanto a economia de tecido sadio, redução da infiltração marginal, aumento da retenção e da resistência , contrastando com a sua alta sensibilidade técnica.

Mesmo sabendo que nos casos de cavidades atípicas as restaurações indiretas são mais indicadas, quando por razões econômicas, biológicas ou de ordem pessoal, concluímos que as restaurações atípicas a amálgama são mais um recurso de que o profissional pode dispor, sendo de suma importância o bom senso clínico para poder combinar simultaneamente os diferentes meios de retenção na busca de melhores resultados.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


       BARATIERI, L.N. et al.    Dentística: procedimentos preventives e restauradores. Riode Janeiro: Quintessence Books, 1989. Cap. 12, p.405-438.

BUSATO, A.L.S. et al.     Dentística restaurações em dentes posteriores. Artes Médicas, 1996. Cap. 9, p.125-196.

FRANCISCONE, C.E.    Estudo comparativo de resistência de restaurações de amálgama em cavidades de classe II, reforçadas com pinos de aço inoxidável e lâminas de prata.Bauru, 97p.1976. Dissertação ( Mestrado) – Faculdade de Odontologia de Bauru, Universidade de São Paulo.

MARKLEY, M.R.   Restoration of silver amalgam. J.Am.Dent. Assoc.,v.43, n.3, p.133, 1951.

MINTO, A.M.P.   Estudo comparativo da resistência à fratura de pré-molares íntegros e com cavidades de classe II compostas restauradas com amálgama. Efeito da extensão cavitária e sistemas adesivos á estrutura dental. Araraquar, 1999, 87p.Dissertação ( Mestrado) – Faculdade de Odontologia de Araraquara, Universidade Estadual Paulista.

OUTHWAITE, W.C.; TWIGGS, S.W.; FAIRHURST, C.W.; KING, G.E.   Slot vs pins: A comparision of retention under simulated clowing stresses. J. Dent. Res., v.61, n.2, p.400-402, 1982.

SHAVELL, H.M.   The amalgapin technique of complex amalgam restorations. J. Calif. Dent. Assoc. v.8, n.2, p.48-55, 1980.

VARGA, J.; MATSUMURA, H.; MASUHARA, E.    Bonding of amalgam fillings to tooth cavity with adhesive resin. Dent. Mater J.,v.5, n.2, p.158-164, 1986.