INCIDÊNCIA DE INCISIVOS LATERAIS CONIFORMES



 
 
 

Evandro Luiz Siqueira
Yara T. Correa Silva
Ana Maria P. Leite
Jesus Djalma Pécora
REVISTA ODONTO 2(7):416-418, 1994

|RESUMO | SUMMARY | INTRODUÇÃO | MATERIAL E MÉTODO | RESULTADOS | DISCUSSÃO | CONCLUSÃO | REFERÊNCIAS |
 
 

RESUMO
    Examinaram-se 3.000 pacientes de ambos os sexos entre 7 e 25 anos, de origem caucasiana, mongólica e negra. Os autores verificaram incidência de incisivos laterais superiores coniformes da ordem de 1,03%.
Unitermos: anomalia dental, dentes coniformes.

SUMMARY
    The authors in the present trial analize 3,000 male and female patients with 7 to 25 years old, of caucasian, mongolic and black origins. They verify the incidence peg shaped upper lateral incisors in the 1,03%.
Uniterms: dental anomaly, peg shaped.

INTRODUÇÃO

    Entre todas as regiões da cavidade bucal, a dos incisivos laterais superiores constitui área de grande risco embriológico em virtude de ser local de fusão dos processos da face. Grande número de malformações pode ocorrer nessa área, tais como: fenda labial, fenda palatina, cisto glóbulo-maxilar, anodontia, dentes supranumerários e, ainda, "dens invaginatus", cuspide em forma de garra ("talon cusp"), dentes com coroa em forma de pá ("shoveld shaped"), dentes coniformes ("peg shaped’) e a presença de sulco radicular (LEE et al, 1968;3 EVERETT & KRAMER, 1981;2 PECORA & SANTANA, 199 15)
    A literatura é escassa em estudo sobre a incidência de incisivos laterais coniformes, principalmente em nosso país. O objetivo do presente trabalho consiste em verificar essa incidência em relação ao sexo e à origem racial dos pacientes examinados na região de Ribeirão Preto, São Paulo.
 

MATERIAL E MÉTODO

    Foram examinados os dentes anteriores superiores de 3.000 pacientes portadores de incisivos laterais superiores, atendidos no Curso de Odontologia da Universidade de Ribeirão Preto e Escolas de Primeiro Grau, com idade entre 7 e 25 anos.
    Foram anotados, em ficha própria, o nome, a idade, o sexo e a origem racial de cada paciente, bem como a presença ou não de incisivos laterais superiores coniformes.
 

RESULTADOS

    Após os exames realizados nos pacientes, observou-se que 31 deles apresentavam incisivo lateral superior coniforme, ou seja, uma incidência de 1,03%.
A Figura 1 mostra um caso típico de dente coniforme, bem como sua imagem radiográfica.
A Tabela I relaciona os achados de incisivos laterais coniformes de acordo com a origem racial do paciente.

Número de paciente
Origem racial
Casos
Porcentagem
2601
Caucasianos
29
1,11
362
Negros
2
0,55
37
Mongólicos
0
0,00

Dos 31 pacientes com dentes coniformes, observou-se que 11(35,5%) eram do sexo masculino e 20 (54,5%) eram do sexo feminino.
A Tabela II mostra a incidência de incisivos laterais superiores coniformes em relação ao lado da arcada dentária.

Local da Incidência 
Número de Casos
Porcentagem em relação a 3000 pacientes
porcentagem em relação a 31 pacientes
Lado direito
10
0,33
32,26
Lado esquerdo
12
0,40
38,71
Bilateral
9
0,40
29,03
Total
31
1,03
100,00

    Dos 31 casos de incisivos laterais superiores coniformes encontrados, foram radiografados somente 19 e observou-se presença de "dens invaginatus" em 2 casos, o que dá uma incidência simultânea de duas anomalias de desenvolvimento em 10,52% dos casos.
 
 

DISCUSSÕES

A Tabela III compara os achados de dentes coniformes desse trabalho com os de outros pesquisadores.

Autores
Número
Total
Lado Direito
Lado Esquerdo
Bilaterais
Sexo Feminino
Sexo Masculino
Meskin & Gorlin (1963)
8289
65
0,78%
9
13,8%
21
33,9%
35
52,3%
31
40,2%
34
59,8%
Cleaton (1970)
189
12
6,35%
4
33,3%
6
50,0%
2
16,2%
7
58,3%
5
41,6%
Woof (1971)
918
15
1,6%
---------
----------
9
60,0%
---------
---------
Presentes estudo
3000
31
1,03%
10
32,3%
12
38,7%
9
29,0%
20
64,5%
11
35,5%

    A comparação entre os dados expressos na Tabela III mostra que não há uniformidade entre os pesquisadores e isso pode estar relacionado à origem racial dos pacientes examinados.
    No presente estudo verifica-se que há igualdade quanto à incidência de incisivos laterais coniformes em relação ao lado da arcada, mas uma predominância da incidência unilateral sobre a bilateral.
    Quanto às raças, constatou-se maior incidência de incisivos laterais coniformes nos pacientes de origem caucasiana que nas raças negra e mongólica.
    No que diz respeito ao sexo, constatou-se predominância de incisivos laterais coniformes nos pacientes femininos (64,5%) em relação aos masculinos (35,5%).
    A presença de incisivos laterais coniformes associados a "dens invaginatus" é de 10,52% dos casos e esse fato constitui um indício forte para que todos os dentes sejam radiografados. Constatou-se também, durante o interrogatório, que todos os portadores de incisivos laterais coniformes não estavam satisfeitos com sua estética.

CONCLUSÕES

Com base na metodologia empregada e com os dados obtidos pode-se concluir que:

1) Os incisivos laterais superiores coniformes estão presentes em 1,03% da população estudada.
2) Os incisivos laterais coniformes incidem indistintamente quanto ao lado da arcada dentária.
3)A incidência de dentes coniformes unilaterais é duas vezes maior que a incidência bilateral.
4) A incidência de incisivos laterais coniformes é maior no sexo feminino que no sexo masculino, na proporção de 2:1.
5) A raça caucasiana apresenta maior incidência de dentes coniformes que as raças negra e mongólica.
6) Incisivos laterais superiores coniformes apresentam associação com "dens invaginatus" ("dens in dente") em 10,52% dos casos.
 
 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. CLEATON, P.J. Agenesic and peg-shaped permanent maxillary lateral incisor in Kalahai Brushmen. J. Dent. Res, 49(2):457-459 May 1970.
2. EVERETT, F.C. & KRAMER, G.M. The disto-lingual grooves in the maxillary lateral incisors with anomalous root formation. J. Endodont, 7:528-534,1981.
3. LEE, K.W.; LEE, E.C.; POON, K.Y. Palato-gingival grooves in maxillary incisors. Br. Dent. J. 124:14-18,1968.
4. MESKIN, LH. & GORLIN, R.J. Ageneis and peg-shaped in permanent maxillary lateral incisors. J. Dent. Res, 42(6):1276-1479, 1963.
5. PECORA, J.D. & SANTANA, S. Maxillary lateral incisor witlh two root. Braz. Dent. J., 2(2):151-153, 1991.
6. WOOF, C.M. Maxillary lateral incisor: a genetic study. Am. J. Human. Genetic, 23:296-298,1971.