Jesus
Djalma Pécora Ricardo Novak Savioli Luiz Paschoal Vansan Ricardo
Gariba Silva Wanderley Ferreira da Costa
*Departamento
de Odontologia Restauradora (Endodontia) da Faculdade de Odontologia de
Ribeirão Preto, USP
Key words: Method to translucent teeth; teaching endodontics.
Publicado na Revista da Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto
|INTRODUÇÃO | MATERIAL E MÉTODO | DISCUSSÃO | RESUMO | SUMMARY | REFERENCIAS
A NOVEL METHOD TO PREPARE TRANSLUCENT TEETH. The authors describe a method to obtain translucent teeth by the use of bisphenyl A epoxi resin. Diaphanousness is maintained without the need of keeping it stored in solvents. The treated tooth can be manipulated and used in teaching endodontics.
INTRODUÇÃO
Para
realizara tratamento endodôntico, o profissional tem limitada informação
e pouca visão do local onde atua.
A visão direta limita-se aos orifícios dos canais, enquanto o exame radiográfico de uma idéia incompleta da morfologia do canal radicular, devido a projeção de um objeto tridimensional em um plano bidimensional
Para realizar o tratamento endodôntico, o profissional deve contar com um bom conhecimento de anatomia interna e um sentido aguçado para observar as variações próprias de cada canal
No ensino da Endodontia, também, e difícil mostrar aos alunos o aspecto tridimensional do trabalho que esta sendo realizado.
Muitos autores preocuparam-se em tornar o dente transparente, não só para estudo da anatomia interna como também para facilitar o aprendizado em Endodontia. A transparência do dente possibilita observar a anatomia dos canais radiculares de todos os lados , e isto permite uma visão melhor do tratamento a ser executado.
Entre os autores que realizaram diafanização de dentes com objetivo de estudar a anatomia interna, podem citar-se PRINZ (1913), RODRIGUES et al. (1966), DE DEUS (1367), HASSEL- GREN & TRONSTAD (1975) , FISHER et al. (1975) e GARBEROGLIO & BASSA (1383) DE DEUS (1967) , HASSEGREN & TRONSTAD (1975) e GARBEROGLIO & BASSA (1983) não só se preocuparam com a anatomia interna mas também com o objetivo de melhorar o ensino da Endodontia, pois o dente transparente possibilita ao estudante uma visão tridimensional do canal radicular.
O grande problema dos dentes transparentes consiste em sua armazenagem, uma vez que a diafanização e conseguida com solventes, tais como o xilol, benzol e o salicilato de metila, mantendo os dentes permanentemente neles submersos.
O objetivo do presente trabalho consiste em apresentar novo método de diafanização de dentes, que dispensa armazenagem em solventes, possibilitando a sua manipulação sem que percam rapidamente a transparência.
Dentes humanos extraídos, conservados em solução de formol a 10 por cento, ou solução aquosa de timol a 1 por mil, foram utilizados para o processo de diafanização.
A tabela 1 mostra as substâncias das utilizadas neste método de diafanização.
Os dentes, após serem removidos das soluções que os conservavam eram lavados durante uma hora em água corrente. Realizava-se a cirurgia de acesso a câmara pulpar, sendo os dentes em seguida imersos em hipoclorito de sódio a 5 por cento, durante um período de 2 horas, seguindo-se de lavagem em água corrente por mais 2horas.
Após esses cuidados, eram imersos em acetona, por um período de 2 horas, e secos em temperatura ambiente. Em seguida, eram imersos em ácido nítrico a 5 por cento, em recipientes individuais, renovando-se o ácido a cada 2 horas.
Embora existam testes específicos com o objetivo de verificar a completa descalcificação, optou-se pela observação de GARBEROGLIO & BASSA (1983), que consiste na permanência do dente no ácido por mais 2 horas após a desagregação do esmalte.
Neste aspecto, o período de desca1cificação variou de dente para dente, acrescido de mais 2 horas após o desaparecimento do esmalte.
Concluída a descalcificação, os dentes eram lavados em água corrente, e a seguir imersos em uma solução de hidróxido de sódio 1M, por duas horas, e novamente colocados em água corrente por 4 horas.
Findos esses procedimentos, os dentes eram desidratados em uma bateria de álcool em escala ascendente, permanecendo em álcool a 75, 85 e 96 por cento por um período de 4 horas em cada banho, e 12 horas em álcool absoluto, com troca a cada 4 horas.
Após a desidratação, os dentes eram imersos em resina epóxi de bisfenol A, onde permaneciam por um período que variava de dente para dente, até a completa diafanização. Esse tempo oscilou de 8horas para incisivos, ate 96 horas para molares
Para acelerar o processo de diafanização, o recipiente que contam os dentes em bisfenol A pode ser colocado em banho-maria.
Obtida a diafanização, os dentes eram levados a uma estufa a 40 graus centígrados para a secagem da resina, e recebiam em seguida uma camada de Entellan (Merck) sendo, após isto, reconduzidos a estufa para nova secagem. Depois de secos, receberam uma camada de esmalte incolor. Para que o esmalte secasse mais rapidamente, adicionava-se uma camada de óleo secante.
Nesse momento, os dentes diafanizados estavam prontos para serem manuseados, livres de qualquer envolucro protetor (Fig. 1 a 6).
Para aumentar a resistência das camadas de esmalte, pode-se aplicar uma camada de acrílico líquido transparente. Cumpre salientar que o acrílico aplicado não deve ser o acrílico comum, e sim o líquido do acrílico termopolimerizavel (monômero) previamente tratado.
Preparo do acrílico para revestir o dente transparente: colocam-se 200 ml do monômero de acrílico termopolimerizavel num funil de separação de 500 ml e adicionam-se 200 ml de uma solução de hidróxido de sódio l M Agita-se bastante o funil1 de separação, e a seguir deixa-se em repouso. O monômero de acrílico ficara na parte superior do funil, e na parte inferior ficará a solução de hidróxido de sódio mais substâncias adicionadas ao manômetro de acrílico que evitam sua polimerização (hidroquinona). Procede-se a separação das duas substância, deixando o monômero no interior do funil. Repete-se essa operação pelo menos três vezes, ate notar-se que a solução de hidróxido de sódio não mais apresenta a cor acastanhada.
A seguir, lava-se o acrílico com água destilada, também por três vezes, usando o funil de separação. Armazena-se o monômero em um frasco de vidro com tampa esmerilhada e adicionam-se 5 gramas de cloreto de cálcio para remover qualquer traço de água no acrílico. Deixa-se o frasco na geladeira por 24 horas e depois filtra-se o líquido em papel para separar o cloreto de cálcio do acrílico.
Armazena-se o monômero de acrílico em frasco de vidro e conserva-se na geladeira.
O monômero assim preparado, quando polemizado, será totalmente transparente.
No momento de usá-lo para envolver o dente, colocam-se l0 ml de acrílico (monômero) em um vidro com tampa e adiciona-se 1 ml de uma solução de dibutilftalato com peróxido de benzoila na proporção de 1:1 (YAEGER 1958) , a qual funcionará com o catalisador na reação de polimerização. Após a adição do catalisador, o vidro deve ser tampado e levado ao aquecimento em banho-maria. O aquecimento deve ser brando e o acrílico (monômero) não deve "ferver". Decorrido algum tempo, o acrílico líquido inicia a sua polimerização, ficando com aspecto viscoso. Esse no momento para adiciona-lo ao dente transparente.
Após a adição da camada de acrílico, o dente transparente deixado secar a temperatura ambiente.
Para o estudo da anatomia interna, o corante ou material a base de silicone, resina ou borracha, pode ser injetado no interior do canal nas diferentes fases do tratamento a adição pode ocorrer após a abertura do dente, após o uso do hipoclorito de sódio, após a desidratação, ou após a diafanização.
A diafanização com resina epóxi de bisfenol A permite que o dente fique exposto ao ar sem perder sua transparência, o que em geral ocorre quando o processo se realiza com xilol, benzol ou salicilato de metila.
DE DEUS (1967) relata que a escolha de embalagem para as peças dentinas diafanizadas de grande importância. Até essa época, os dentes diafanizados eram armazenados em vidros e, para melhorar esse procedimento, o autor preconizou o uso de plásticos transparentes no processo de embalagem;
Nossa primeira tentativa foi a de diafanizar dentes com salicilato de metila e em seguida incluí-los em acrílico. Mas todas as vezes em que se pretendia realizar a inclusão em acrílico, o dente perdia a sua transparência. Na tentativa de resolver o problema, conseguiu-se a diafanização com bisfenol A. Observou-se que, na diafanização com resina epóxi de bisfenol A, o dente aceitava o Entellan como protetor.
Com o processo ora proposto, o estudo da anatomia interna pode ser realizado sem a necessidade de o dente ficar imerso em soluções diafanizadoras, como também evita o trabalho de sua inclusão em blocos de plástico. isso permite ao pesquisador e ao estudante o manuseio do dente e sua estocagem sem maiores cuidados.
O processo em questão serve também para estudo em Endodontia, pois permite realizar a descalcificação e diafanização de dentes com canais obturados, sem que haja o risco de as soluções solventes alterarem os cones de guta-percha.
Permite ainda mostrar aos estudantes, de forma dinâmica e visível, como os instrumentos atuam no interior do canal radicular. Pode-se, também, observar como as soluções auxiliares penetram nos canais radiculares.
O processo de diafanização de dentes com resina epóxi de bisfenol A é simples e de fácil execução, exigindo do operador apenas algumas. repetições para o domínio da técnica.
O
presente trabalho permite as seguintes conclusões
2 A diafanização com essa resina permite armazenagem simples dos dentes, sem a condição indesejável deles se tornarem opacos.
3- A resina epóxi não ataca o Entellan.
4 - A diafanização é durável e o dente pode ser manipulado.
5- O processo permite a diafanização de dentes com canais obturados.
6- A diafanização por esse método facilita o ensino da Endodontia, tanto no estudo de anatomia interna como também no ensino das técnicas de instrumentação.
2. FISCHER, D.E.; INGERSOLL, N. & BUCKER, F.E. Anatomy of the pulpar canal: three-dimentional visualization. J. Endod. 1(l):22-25, Jan. 1975.
3. GARBEROGLIO, R. & BASSA, S. O dente transparente. "Ârs Curandi- Odontologia 9(3):5-7, Jul-set., 1983.
4. HASSELGREN, G. &TRANSTAD, L. The use of transparent teeth in the teaching of pre clinical endodontics. J. Endod. l(8):270—280,Aug. 1975.
5. PRINZ, H. The Spalteholz method of prepating transpareflt animal bodies. Dental Cosmos, 55(4): 374-378, April 1913.
6. RODRIGUES, H.H.; CAMPOS, S.M. & LIMA, S.N.M. Variações interna da raiz vestibular do primeiro pre-molar superior humano, ligados por presença de sulcos. Bol. Fac. Farm. Odont. Rib. Preto, 3(1):3-15, jan-jun., 1966.
7.
YAEGER, J.A. Methacrylates em bedding and sectioning of calcified bone.
Stain Tech. 33(5):229-239, Sept. 1958.