IV. Material e Método



1. Preparo dos dentes

Foram selecionados 24 pré-molares inferiores unirradiculares, livres de cárie e com o ápice completamente formado. Os dentes permaneceram estocados no Laboratório de Pesquisa em Endodontia da Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto-USP em solução timol a 0,1%, à temperatura de 9°C até o momento de uso. Com a finalidade de remover quaisquer traços da solução timol, os pré-molares foram lavados durante uma hora em água corrente.

Visando assegurar a seleção de dentes com um único canal radicular foram realizadas tomadas radiográficas no sentido mésio-distal. A seguir, procedeu-se à abertura coronária dos dentes.

A cirurgia de acesso à câmara pulpar foi conduzida com o auxílio de broca carbide esférica número 2, em alta rotação (Dabi Atlanti®, Ribeirão Preto, SP). O acabamento e a expulsividade das paredes foram obtidos com brocas de Batt número 14, em baixa velocidade (Dabi Atlanti®, Ribeirão Preto, SP), e Endo Z (Maillefer®, Ballaigues, Suíça), acionada por meio de alta rotação.

Para determinação do comprimento de trabalho (CT) foi introduzida uma lima tipo K, número 10 (DYNA®,Endodontic Instruments, França) que percorreu toda extensão do canal radicular até a visualização de sua ponta no forame apical. Com apoio do cursor de silicone e da régua milimetrada, o comprimento real do dente (CRD) foi determinado e com o recuo de 1,0 milímetro dessa medida, obteve-se o comprimento de trabalho (CT).

A instrumentação manual dos canais radiculares foi realizada com limas endodônticas Dyna-flex (DYNA®,Endodontic Instruments, França), dispondo-se de um conjunto de limas novas para cada grupo de dentes avaliados (Figura 1). Selecionada a lima 15 como inicial e a 35 como lima de memória, a instrumentação endodôntica foi executada segundo a técnica step-back, variando apenas as substâncias irrigadoras. Cada lima endodôntica teve atuação no interior do canal durante 1 minuto e 30 segundos.



Figura 1. Limas endodônticas Dyna Flex (DYNA®,Endodontic Instruments, França)



Os dentes foram divididos de modo aleatório em quatro grupos, sendo seis dentes para cada substância avaliada, como pode ser visto na Tabela 1.



Tabela 1. Relação dos grupos de dentes com as substâncias auxiliares avaliadas.

Grupo

Número de dentes

Substância irrigadora avaliada

1

6

Gel de clorexidina a 2%

2

6

EDTAC a 17% + Hipoclorito de sódio a 1%

3

6

Gel de mamona

4

6

Hipoclorito de sódio a 1%



A mistura das soluções de EDTAC a 17% com hipoclorito de sódio a 1% foi utilizada na proporção 1:1. O gel de clorexidina a 2% foi manipulado com base de natrozol, sendo solúvel em água e álcool, apresentando pH 6,0 a 9,0. O gel de mamona é um bactericida derivado do ácido ricinoléico, com pH 7,0 a 8,0 e também hidrossolúvel (Figura 2).

Inicialmente os quatro grupos tiveram seus canais radiculares irrigados com 1,0 ml de água destilada deionizada e aspirados com auxílio de cânula e agulha 40-6 acopladas ao sugador do equipo odontológico. Após a aspiração, os canais radiculares foram preenchidos com 0,1 ml das substâncias auxiliares avaliadas, utilizando seringas descartáveis de 1 ml (Ibras-CBO Ind. Cirúrgicas e Ópticas S.A., Brasil) e agulha hipodérmica 40-6, sem bisel. Vale ressaltar que a agulha penetrou em maior profundidade possível no interior do canal radicular sendo removida gradativamente com o preenchimento das substâncias auxiliares. Irrigação com 0,5 ml de água destilada deionizada foi realizada a cada troca de lima endodôntica utilizando seringas descartáveis de 20 ml. Esse procedimento repetiu-se durante toda a instrumentação dos vinte e quatro dentes. A irrigação/aspiração entre as trocas de limas com água destilada teve como objetivo remover as substâncias auxiliares para renová-las no interior dos canais radiculares.



Figura 2. Gel de clorexidina a 2% (A); gel de mamona (B); gel de clorexidina a 2%; gel de mamona; hipoclorito sódio a 1% e EDTAC a 17%.



A irrigação final dos canais radiculares foi realizada com 1,0 ml de água destilada deionizada para todos os grupos. Após secagem dos canais radiculares, cones de papel absorvente e bolinhas de algodão foram colocados no interior dos condutos e as cavidades de acesso foram seladas com material restaurador provisório Coltosol®.

2. Preparo dos corpos de prova

Com o auxílio de disco diamantado dupla face (INTENSIV®, superflex 273D, série E), em baixa-rotação (Dabi Atlanti®, Ribeirão Preto, SP), foi realizado um sulco de orientação na face externa dos dentes, no sentido longitudinal das faces vestibular e lingual, com o cuidado de não atingir o interior dos canais radiculares. Os cones de papel absorvente foram mantidos no interior dos condutos radiculares para impedir que o pó de dentina proveniente do corte externo penetrasse nas áreas de avaliação das raízes.

Com o comprimento real do dente conhecido, foi calculado o comprimento correspondente aos terços médio e apical do canal radicular, realizando um sulco transversal nesta altura da raiz. Utilizando martelo cirúrgico e lâmina de estilete foram separados os fragmentos correspondentes aos terços calculados, descartando as coroas dos dentes. Posteriormente, as quatro metades das raízes foram separadas pelo sulco longitudinal, sendo selecionadas apenas dois fragmentos por dente para a avaliação.

Esses fragmentos foram mantidos em frascos individuais contendo formol tamponado a 2% para serem fixados durante 24 horas. A fase seguinte de desidratação foi realizada em série graduada de álcool (70%, 90%, 95%, 100%) em tempo de 15 minutos para cada banho. Após a desidratação, foi obtido o ponto crítico de secagem utilizando-se o critical point dryer Bal-Tec, modelo CPD030 (Fürstentun, Liechtenstein). Os espécimes foram então, montados sob stubs de alumínio, onde receberam uma cobertura em ouro no metalizador DENTOM VACUM (modelo DESK 11, EUA).

A análise em microscopia eletrônica de varredura foi realizada na Faculdade de Agronomia e Veterinária de Jaboticabal - UNESP, sob orientação da técnica Cláudia Aparecida Rodrigues e do Prof. Dr. Jaime Maia dos Santos.

Para avaliação dos espécimes foi utilizado o microscópio JEOL (modelo JSM 5410, Japão). A observação dos canais radiculares foi feita em aumento de 350X, a fim de preservar todos os detalhes das áreas de avaliação. Fotomicrografias em aumento de 1000X foram realizadas em áreas representativas para todas as substâncias auxiliares e terços estudados. Essas imagens foram identificadas e transferidas digitalmente para um microcomputador PC possibilitando posterior visualização e análise via software denominado Fotoscore.

3. Análise das Fotomicrografias

As fotomicrografias foram avaliadas por três avaliadores independentes utilizando o software Fotscore versão 2.0 (Figura 3), desenvolvido pelo Prof. Danilo Mathias Zanello Guerisoli em ambiente Windows, tendo como base um banco de dados no formato Acess modificado por código em linguagem VBA (Visual Basic for Aplications). Através deste programa, a imagem avaliada, além de outras três que apoiarão o processo comparativo, é apresentada ao avaliador. Este atribui o seu escore e o registra no software o qual, após o término do processo, emite um relatório contendo todos os dados.

Os escores dados para a avaliação das imagens variavam de 1 (ausência de smear layer com presença de canalículos abertos) a 4 (obliteração total dos canalículos dentinários pelo smear layer). Essa pontuação sofre alteração de acordo com a quantidade de smear layer presente nas paredes canais radiculares, mensurando-se assim a capacidade de limpeza das diferentes substâncias auxiliares estudadas. Todo este processo de avaliação foi desenvolvido sem que os examinadores tivessem acesso à identificação dos grupos experimentais.

Na etapa seguinte, os dados foram submetidos à análise estatística não-paramétrica utilizando o programa GMC versão 8.0, desenvolvido pelo Prof. Dr. Geraldo Maia Campos.



Figura 3. Software Fotscore versão 2.0