FACULDADE DE ODONTOLOGIA DE RIBEIRÃO PRETO, UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
Dissertação de Mestrado

ESTUDO DA INFLUÊNCIA DE ALGUNS ÓLEOS VEGETAIS ADICIONADOS AO EUGENOL SOBRE AS PROPRIEDADES FÍSICO-QUÍMICAS DO CIMENTO OBTURADOR DOS CANAIS RADICULARES DO TIPO GROSSMAN

Study of the effect of the addition of vegetal oils  to eugenol on the physicochemical properties of GROSSMAN cement

MANOEL DAMIÃO SOUSA NETO, C . D.
sousanet@odin.unaerp.br
 

Orientador: Prof. Dr.Jesus Djalma Pécora
pecora@forp.usp.br
Ribeirão Preto, 1994, 109p.


Resumo  | Summary | Introdução | Revisão da Literatura | Proposição | Material e Método |Relação Pó/líquido| Escoamento | Tempo de trabalho| Tempo de Endurecimento | Espessura do Filme | Estabilidade Dimensional| Solubilidade e Desintegração | Adesividade   |  Resultado e Discussão | Considerações FinaisConclusõesReferências













INTRODUÇÃO
 
 

A obturação dos canais radiculares está registrada na História da Odontologia desde os tempos remotos da prática conservadora dessa ciência.

Hunter (1778, apud Prinz 1912) fez uma abordagem que seria posteriormente confirmada nos tempos atuais quando a Odontologia em geral, e a Endodontia em particular, vivem na era da comprovação científica, ou na busca desta, para os fatos a ela relacionadas. Ele enfatizou a necessidade da realização de procedimentos antissépticos como sendo essenciais à preservação futura do dente.

McELROY (1955) realizou uma retrospectiva histórica a respeito da obturação dos canais radiculares e listou alguns dos materiais que já haviam sido utilizados para esse fim: ouro em folha com uma superfície resinada, fosfato tricálcico com eugenol, óxido de zinco e ácido hidroclórico, carvão animal pulverizado com iodofórmio, pontas de madeira de laranjeira associadas a uma pasta de iodofórmio e fenol, oxicloreto de zinco e lã mineral, estanho em folha, chumbo em folha coberto com uma pasta de fenol e iodo, pontas de madeira embebidas em bicloreto ou mercúrio a 1:200, madeira avermelhada (cedro) associada à parafina, partes iguais de óxido de zinco e iodofórmio transformadas em pasta com creosoto, pontas de algodão saturadas com óleo de canela ou fenol canforado, iodeto de timol e parafina misturados com a ajuda de calor brando, fenil salicilato e bálsamo, amálgama de cobre, pasta de óxido de zinco e eugenol, dentina de cachorro, marfim pulverizado e dentina humana.

PRINZ (1912) listou uma série de características que o cimento obturador deve possuir. Posteriormente, com os estudos de FISHER (1927), PUTERBAUGH (1928), BUCHBINDER (1931), GROSSMAN (1958) e BRANSTETTER & FRAUNHOFER (1982) essa lista ficou assim:
 

Percebe-se que é praticamente impossível que um material obturador dos canais radiculares enquadre-se em todas as exigências. O que normalmente ocorre é a prevalência de alguma propriedade em detrimento de outras.

Mesmo assim, estudos e pesquisas têm sido desenvolvidos na tentativa de se conseguir um material ideal para obturar canais radiculares. Os autores propõem técnicas, materiais e discorrem sobre a parte filosófica do tratamento (LEVIN, 1902; TAYLER, 1902; HART, 1903; GIBBS, 1911; ABRAHAM, 1915; CRANE, 1926; RICKERT, 1927; GROVE, 1931; MOFFITT, 1932; ORBAN, 1932; CONRAD & RIDWAY, 1934; GROSSMAN, 1958 e 1974).

RICKERT (1927) relatou toda a sua preocupação em relação ao controle da infecção dental. O autor discorreu sobre o tratamento de uma maneira geral, e citou a composição do cimento obturador do canal radicular que ele utilizava naquela época, e que, nos dias atuais, ainda é muito usado e leva o seu nome. Esse material possui prata na sua composição, o que parece contrariar a propriedade desejada de não manchar as estruturas dentais remanescentes.

GROSSMAN (1936) desenvolveu um cimento obturador de canal radicular que apresentava a seguinte composição: pó- prata, resina e óxido de zinco; líqüido- eugenol e solução de cloreto de zinco a 4%.

Em 1958, constatando que a prata oxidava e formava sulfetos que escureciam os dentes, GROSSMAN eliminou a prata da composição do pó. Quanto à composição do líqüido, ele substituiu a solução de cloreto de zinco a 4% pelo óleo de amêndoas doces. A adição de um óleo vegetal ao cimento tinha o propósito de aumentar o seu tempo de endurecimento, permitindo assim mais tempo para o profissional realizar a tarefa de obturar o canal radicular.

Continuando suas pesquisas, GROSSMAN (1962) incluiu o tetraborato de sódio anidro ao pó do seu cimento com a função de retardar o tempo de endurecimento. Em 1974, esse autor concluiu que era desnecessária a adição do óleo de amêndoas doces ao eugenol, uma vez que o tetraborato de sódio anidro era capaz de manter um tempo de trabalho clínico satisfatório. Assim, foram realizadas mudanças tanto na composição do pó como na composição do líqüido, ficando com a seguinte fórmula: : Óxido de Zinco 42%, Resina Hidrogenada 27%, Subcarbonato de Bismuto 15%, Sulfato de Bário 15% e Tetraborato de sódio Anidro 1%. Líquido: eugenol.

De acordo com os requisitos que um material obturador deve possuir, pode-se dividir as suas propriedades e qualidades desejadas em físico-químicas, antimicrobianas e biológicas.

Preocuparam-se com as características físico-químicas dos cimentos obturadores dos canais radiculares muitos pesquisadores, dentre os quais HUMPHRY (1914), BUCHBINDER (1931), WALLACE & HANSEN (1939), MOLNAR & SKINNER (1942), GROSSMAN (1946); SKINNER & ZIEHM (1950), McELROY (1955), ZERLOTTI FILHO(1959), BRAUER et al (1958), NORMAN et al (1958), MESSING (1961), PHILLIPS & LOVE (1961), BRAUER et al (1962), NORMAN et al (1964), COLEMAN & KIRK (1965), LEAL (1966), HIGGINBOTHAM (1967), BATCHELOR & WILSON (1969), WEISSMAN (1970), WEINER & SCHILDER (1971), GROSSMAN (1976), McCOMB & SMITH (1976), BENATTI et al (1978), BOSCOLO et al (1979), FRAGOLA et al (1979), FRAUNHOFER & BRANSTETTER (1982), GROSSMAN (1982), BRANSTETTER & FRAUNHOFER (1982), ØRSTAVIK (1983), HYDE (1986), WENNBERG & ØRSTAVIK (1990), SAVIOLI (1992), SILVA (1992) e FIDEL (1993).

SAVIOLI (1992) estudou a influência de cada componente químico do pó do cimento de Grossman sobre as suas propriedades físicas e constatou que o tetraborato de sódio anidro é responsável pelo retardo do tempo de endurecimento e pela maior solubilidade e desintegração do cimento. Observou também que a resina vegetal (breu) é responsável pela alteração dimensional, provocando a expansão do cimento.

SILVA (1992), seguindo as especificações número 57 da American Dental Association, estudou as propriedades físicas das diferentes marcas comerciais do cimento à base de óxido de zinco-eugenol proposto por GROSSMAN encontradas no mercado brasileiro. Dentre esses cimentos, o Fillcanal , o Grosscanal  e o Endofill  apresentavam, segundo as instruções do fabricante, eugenol mais óleo de amêndoas doces na composição do líqüido.

Alguns fabricantes nacionais do cimento obturador do tipo Grossman continuam adionando o óleo de amêndoas doces ao eugenol e o tetraborato de sódio anidro ao pó nas formulações que produzem.

A literatura consultada evidenciou que falta examinar a ação dos óleos vegetais adicionados ao eugenol sobre as propriedades físico-químicas dos cimentos, uma vez que GROSSMAN (1958) preocupou-se em retardar o endurecimento do cimento por ele preconizado.


Retrospectiva da Literatura
 
 

Os cimentos à base de óxido de zinco têm sido utilizados na Odontologia nas últimas seis décadas. Esses cimentos nada mais são do que fórmulas adaptadas às circunstâncias e às necessidades vigentes na época do seu uso, derivadas do cimento inicialmente introduzido em 1855 por SOREL (apud MOLNAR & SKINNER, 1942).

A necessidade da obturação do canal radicular é conhecida há muito tempo (PRINZ, 1912). Pesquisadores preocuparam-se com esse problema e tentaram resolvê-lo, desenvolvendo técnicas e materiais para esse fim durante o decorrer dos anos. O primeiro cimento contendo eugenol foi introduzido por WESSLER em 1894 (MOLNAR & SKINNER, 1942).

O eugenol, óleo extraído do cravo ocupa posição importante na evolução da Odontologia. É um dos poucos medicamentos tradicionais utilizado pelos dentistas atuais. Os próprios pacientes relacionam o seu odor à Odontologia.

O eugenol tem sido utilizado para tratar problemas bucais desde três séculos antes de Cristo, quando os que tinham uma audiência com os imperadores chineses mascavam o cravo para encobrir o mau hálito.

A medicina da Idade Média era dogmática e ritualizada, dependendo muito das idéias de Galeno. Os tratamentos dependiam da origem da dor. Para as dores de dente, que se pensava serem causadas pelo frio, aplicava-se um remédio quente como o cravo.

Uma das escolas de Medicina mais progressista da Europa no século XVII, a de Montpellier na França, indicava o óleo de cravo para o alívio das odontalgias.

Em 1640, LAZANE RIVIERI (apud CURTIS, 1993) indicou o uso do algodão com o eugenol para acalmar as dores de dente.

Em uma reunião da Association Dental Tenessee, no ano 1873, o assunto dominante foi os agentes protetores pulpares e CHILSON, nesta reunião, propôs o uso do cimento de óxido de zinco-eugenol e ensinou os demais participantes a misturar o óxido de zinco ao eugenol, de modo a obter-se uma massa, na consistência desejada, para ser aplicada sobre a polpa dental (CURTIS, 1993).

CALLAHAN (1914) preconizou o uso de uma solução de resina dissolvida em clorofórmio para o selamento dos canalículos dentinários como um coadjuvante na obturação dos canais radiculares. Ele relatou ser a técnica simples, fácil, rápida e ter certeza do selamento de todos os canalículos e foramens que se encontravam abertos. O autor enfatizou também, a necessidade de um correto preparo do canal radicular para a melhor realização dos procedimentos.

HUMPHRY (1914) estudou a ação do óleo de cravo e de outros óleos sobre as pontas de guta-percha, encontrando o seguinte: o óleo de eucalipto e o creosoto dissolvem a guta-percha, o óleo de cravo e o óleo de caju não causam nenhuma alteração.

RICKERT (1927) mostrou-se preocupado com os problemas que afligem a nossa profissão. Em relação à obturação do canal radicular, o autor comentou sobre a necessidade imediata, com evidências inquestionáveis, de se melhorar a técnica de obturação do canal radicular. Caso contrário, deveríamos abandonar a prática profissional. O autor, nesse mesmo documento, registrou a composição do cimento que ele utilizava para obturar os canais radiculares: Pó: prata 24,74%; óxido de zinco 34,00%; bi-iodo de bi-timol (Aristol) 10,55%; óleoresinas 30,71%. Líqüido: Eugenol e Bálsamo do Canadá.

FISHER (1927) abordou alguns fatores a serem considerados na determinação do tipo ideal de material obturador do canal radicular, com resultados práticos. Continuando, foram listadas algumas necessidades clínicas de um material a ser utilizado com essa finalidade: ser capaz de selar a extremidade da raiz, não ser irritante e estável volumetricamente, de fácil adaptabilidade, ser esterilizável, ser insolúvel e impermeável nos fluidos tissulares, ser radiopaco, não provocar alteração de cor na estrutura dental, ser de fácil remoção. Parece que essas necessidades são reais até o atual momento.

BUCHBINDER (1931) investigou a contração de alguns materiais obturadores. O método utilizado no estudo consistia em preencher tubos de vidro com os materiais a serem testados e imergi-los em água com corante. À medida que o material deslocava-se das paredes dos tubos de vidro, formavam-se bolhas de ar visíveis e ocorria a penetração de água corada ali. Os materiais testados foram a combinação eucaliptol/fragmentos de guta-percha/calor, como preconizada por BLACK; a associação clorofórmio/guta-percha preconizada por RHEIN; a associação clorofórmio/resina/guta-percha preconizada por CALLAHAN (1914) e o cimento, com algumas combinações de fórmula, preconizado por RICKERT (1927). Este último apresentou uma contração bem menor que os outros métodos de obturação citados anteriormente. O autor salientou, também, que um material obturador, para ser utilizado no interior do canal radicular, deve ser radiopaco; não deve apresentar contração; deve ser de fácil introdução e adaptação no interior do canal sem sobreobturação; deve ser solúvel em clorofórmio e xilol e, por último, deve ser antisséptico e não-irritante.

GROSSMAN (1936) propôs o uso de um cimento que contém prata na sua composição, discorrendo sobre as propriedades oligodinâmicas desse metal. Seguindo, listou os requisitos que um material obturador de canal radicular deve possuir e apontou as vantagens da utilização do cone de prata associado a um cimento obturador adequado. O autor preconizou a utilização de um cimento que deu a ele resultados satisfatórios, após testes clínicos: Pó: prata pulverizada (malha 300) 2 partes, resina pulverizada (malha 300) 3 partes, óxido de zinco 5 partes. Líqüido: Eugenol 9 partes, Solução de cloreto de zinco 4 % 1 parte.

WALLACE & HANSEN (1939) realizaram estudos que representaram, a seu ver, os passos iniciais para determinar as propriedades de endurecimento, e o mecanismo como isso se processa, dos cimentos à base de óxido de zinco e eugenol, e das misturas compostas essencialmente de óxido de zinco, resina e eugenol. Realizada a parte experimental, os pesquisadores fizeram constatações pertinentes. O aumento da umidade ou da temperatura no momento da manipulação dos materiais tende a diminuir o tempo de endurecimento. O endurecimento é dependente, até certo ponto, das qualidades físicas e químicas da resina e outros constituintes dos cimentos.

MOLNAR & SKINNER (1942) estudaram algumas variáveis que afetam o tempo de endurecimento dos cimentos à base de óxido de zinco-resina-eugenol: composição do pó, composição do líqüido e o uso de vários aceleradores. Ficou demonstrado que se faz necessário o uso de um acelerador no material, uma vez que os vários líqüidos utilizados não conseguiram proporcionar um tempo de endurecimento suficientemente curto. Vários sais metálicos foram aceleradores eficientes, tais como acetatos, cloretos e nitratos. Sugeriu-se que os sais de baixa solubilidade reduziriam a solubilidade do cimento endurecido. A resina apresentou-se como sendo necessária para que ocorra um tempo de endurecimento curto.

PUCCI (1945) escreveu sobre os componentes do pó e do líqüido do cimento de Grossman: o óxido de zinco é um pó branco ou branco-amarelado, amorfo, finíssimo e inodoro. É obtido pela combustão do zinco metálico na presença de ar, ou por calcinação do hidróxido de zinco, carbonato de zinco e ou nitrato de zinco. É insolúvel em água e em álcool. O óxido de zinco para uso odontológico deve ser quimicamente puro, livre de impurezas como o arsênico. Sobre o eugenol, o autor escreveu ser ele um fenol aromático, que se obtém a partir do óleo de cravo. Trata-se de um líqüido incolor ou ligeiramente amarelado, sendo pouco solúvel em água e solúvel em álcool, clorofórmio e éter. Possui baixa tensão superficial e apresenta afinidade pelas gorduras.

BARTELS (1947) realizou uma importante pesquisa investigando a ação do eugenol, do óxido de zinco e do cimento de óxido de zinco e eugenol sobre os microrganismos Staphylococcus citreus, Staphylococcus aureus, Staphylococcus albus, Monilia albicans, B. subtilis, B. proteus, B. pyocianeus e E. coli, constatando ter o eugenol um efeito inibitório contra o crescimento desses microrganismos, com exceção do B. pyocianeus. O cimento de óxido de zinco e eugenol apresentou ação semelhante. Porém, o óxido de zinco em pó, isoladamente, não apresentou ação de inibição contra o crescimento dos microrganismos utilizados.

McELROY (1955) estudou as propriedades físicas de alguns dos materiais obturadores do canal radicular, listados a seguir: guta-percha, composto obturador de WACH, Kerr sealer, cloropercha, clorofórmio-resina de CALLAHAN (1914), Silv-o-dent, Neo-balsam, Perma-fix, composto de RICKERT (1927), Sterident e Cargenon. Pesquisou as suas alterações volumétricas e porosidades. A guta-percha bem condensada, e nos casos de sua combinação com os produtos de WACH, Neo-balsam e de RICKERT (1927), apresentou alteração volumétrica mínima. Os materiais que empregaram a guta-percha modificada pelo clorofórmio, denominada cloropercha, e a sua associação com clorofórmio e resina apresentaram a maior alteração em volume. O composto de WACH foi o menos poroso e a cloropercha a mais porosa dos materiais testados.

INGLE (1956) enfatizou a importância da qualidade da obturação do canal radicular como fator de sucesso do tratamento empreendido e relacionou a maioria dos fracassos do tratamento endodôntico com a falha na obturação adequada do canal. Parece, assim, ficar evidente o papel da obturação do canal em relação ao sucesso do tratamento.

NORMAN et al (1958) estudaram a solubilidade de uma série de cimentos odontológicos. Dentre os estudados, encontra-se o óxido de zinco-eugenol. Verificou-se que a adição de acetato de zinco na proporção de 1 por cento não teve efeito apreciável na solubilidade desse material, quando comparado com o cimento de óxido de zinco-eugenol puro.

BRAUER et al (1958) afirmaram que as misturas à base de óxido de zinco e eugenol formam uma massa dura, consistente, que tem sido útil em um certo número de aplicações dentais. A massa endurecida consiste de óxido de zinco envolvido por uma matriz de um quelato eugenolato de zinco, que possui a seguinte fórmula : (C10H11O2)2Zn.

GROSSMAN (1958) preconizou o uso de um cimento que não mancha as estruturas dentais e que preenche, em grande parte, as propriedades esperadas de um cimento obturador do canal radicular: selar o canal hermeticamente; não alterar-se volumetricamente durante o endurecimento; aderir à superfície do canal, mesmo na presença de um pouco de umidade; ser bem tolerado pelos tecidos periapicais se extravasado através do ápice; ter boas qualidades de trabalho quando manipulado; ser introduzido facilmente no interior do canal; dar ao operador tempo suficiente para fazer ajustes que forem necessários no cone de guta-percha ou cone de prata, antes do seu endurecimento inicial; deve endurecer no interior do canal radicular; não descolorir a estrutura dental; possuir algum efeito bactericida ou bacteriostático. A fórmula do cimento é a seguinte:Pó: Óxido de zinco 40 partes, Resina Staybelite 30 partes, Subcarbonato de Bismuto 15 partes, Sulfato de Bário 15 partes. Líqüido: Eugenol 5 partes, Óleo de Amêndoas Doces 1 parte.

Esse cimento possui suavidade, plasticidade, adesividade e radiopacidade. A resina Staybelite confere adesividade ao cimento. O subcarbonato de bismuto dá suavidade à mistura. O sulfato de bário proporciona maior radiopacidade ao material. O óleo de amêndoas doces retarda o endurecimento, de modo que o cimento demora 20 minutos, após o início da sua inserção no interior do canal, para que ocorra o seu endurecimento inicial. O eugenol deve ser novo e transparente. Quando o eugenol está escurecido, encontra-se oxidado, absorveu umidade do ar e tende a acelerar o endurecimento do cimento. Quando misturado corretamente, o cimento é branco, de aspecto cremoso, suave e sem grânulos grandes. Deve-se enfatizar que a qualidade final do material depende da pureza dos ingredientes utilizados, da sua formulação, e do cuidado dispensado durante a manipulação do cimento.

PHILLIPS & LOVE (1961) estudaram o efeito que a adição de certas substâncias provocam nas propriedades físicas das misturas à base de óxido de zinco e eugenol. Avaliaram a resistência à compressão, solubilidade, espessura do filme e tempo de endurecimento, de acordo com a Especificação Número 8 da American Dental Association. A adição do ácido o-etoxibenzóico (EBA) em partes iguais com o eugenol produziu significantes aumentos na resistência à compressão do material estudado. Ele aumentou simultaneamente a solubilidade e diminuiu o tempo de endurecimento do material. As adições de acetato de zinco e de sílica aumentaram ligeiramente a solubilidade. O acetato de zinco acelerou o endurecimento de todas as misturas estudadas. Concluindo, os autores estabeleceram que o efeito exato dos agentes adicionados às misturas de óxido de zinco e eugenol depende da combinação empregada e da propriedade que está sendo avaliada.

GROSSMAN (1962) propôs uma alteração na fórmula de seu cimento para obturar canais radiculares publicada em 1958. Nesta nova formulação, ele adicionou um retardador da reação do óxido de zinco-eugenol ao pó do cimento, o tetraborato de sódio anidro e manteve o óleo de amêndoas doces adicionado ao eugenol. A fórmula ficou a seguinte:Pó: Óxido de zinco P.A 20,0g, Resina "staybelite" 12,5g, Sulfato de bário 7,5g, Subnitrato de bismuto 7.5g, Tetraborato de sódio anidro 2,5g, Líqüido: Eugenol 5 partes, Óleo de Amêndoas Doces 1 parte.

Nas instruções para a correta manipulação do produto, GROSSMAN recomendou que o pó deve ser incorporado ao líqüido muito lentamente, demorando em torno de 3 minutos na mistura de cada gota. Quando a espatulação for realizada de forma correta, a consistência do cimento deve ser tal que, ao levantar a espátula, o cimento a ela aderido demore de 10 a 15 segundos para cair; ainda mais, quando a superfície plana da espátula for colocada sobre a mistura e levantada lentamente da placa de vidro, deverá formar um fio de cimento de pelo menos uma polegada, que une a espátula à massa de cimento que está sobre essa placa.

NORMAN et al (1964) investigaram o efeito de uma variável específica, ou seja, do tamanho das partículas do pó, sobre o tempo de endurecimento, resistência à compressão, solubilidade e resistência à abrasão do cimento de óxido de zinco e eugenol. Incluiu-se no trabalho também a pesquisa sobre os efeitos da proporção pó/líqüido. O tamanho das partículas do pó de óxido de zinco teve efeito considerável sobre o tempo de endurecimento e pouca influência sobre a resistência à compressão, solubilidade e resistência à abrasão do óxido de zinco e eugenol. Partículas menores endurecem mais rapidamente do que as maiores. O tamanho das partículas e a relação pó-líqüido não afetaram a resistência à compressão do material, sendo que nesse particular, os maiores valores foram obtidos com as partículas menores. As partículas maiores proporcionaram cimentos com maior desintegração.

COLEMAN & KIRK (1965) testaram as propriedades de alguns cimentos à base de óxido de zinco e eugenol modificados e as compararam com aquelas do cimento de óxido de zinco e eugenol normal e com as do fosfato de zinco. Isso foi feito devido a esses tipos de cimento estarem sendo propostos para a utilização em várias situações, inclusive como cimentos obturadores de canal. Avaliaram-se, no trabalho, as propriedades como manipulação, tempo de endurecimento, espessura do filme, solubilidade, resistência à compressão e tolerância tecidual dos materiais. Segundo os autores, os cimentos provaram ser satisfatórios para o uso, dentre outras coisas, como obturadores do canal radicular. Os resultados mostraram também que o tamanho das partículas do pó dos cimentos de óxido de zinco e eugenol é diretamente proporcional ao tempo de endurecimento desses cimentos.

LEAL (1966) estudou a influência que a variação da proporção pó-líqüido e o tempo de armazenagem podiam ter sobre a infiltração de uma solução corante em alguns materiais usados na obturação de canais radiculares. Os materiais testados foram: Alfa Canal, Cimento de óxido de zinco e eugenol, Oxpara e Piocidina. Analisou-se também o efeito que as mesmas variáveis poderiam ter sobre o comportamento dimensional desses materiais. Eles se mostraram permeáveis, em graus variados, à solução corante utilizada nos trabalhos. A profundidade de penetração da solução corante foi influenciada de modo significante pela proporção pó-líqüido. Essa profundidade aumentou à medida que o tempo passava, embora tivesse sido mais acentuada nas primeiras horas. Os materiais Alfa Canal e Oxpara apresentaram contração durante a realização dos experimentos, que diminuiu paralelamente com o aumento da proporção pó-líqüido, e intensificou com o correr do tempo. O óxido de zinco e eugenol e a Piocidina mostraram-se razoavelmente estáveis quanto à estabilidade dimensional.

HIGGINBOTHAM (1967) investigou as propriedades físicas relativas de um grupo de materiais obturadores do canal radicular disponíveis no comércio. Analisou as propriedades: tempo de endurecimento, espessura do filme, solubilidade, radiopacidade e capacidade seladora dos materiais. Utilizaram para a realização dos trabalhos os seguintes materiais: Antiseptic pulp canal sealer (Kerr), Tubliseal (Kerr), Diaket (Premier), ProcoSol (ProcoSol) e Kloroperka N-0 (Union Broach). O tempo de endurecimento e a espessura do filme foram determinados de acordo com a Especificação Número 8 da American Dental Association. Houve diferenças no tempo de endurecimento dos materiais, porém todos apresentaram um tempo de trabalho adequado. A espessura do filme variou de 0.083 mm (Tubliseal) a 0.433 mm (Diaket). A solubilidade dos materiais em água variou de 0.11 % a 0.72 %. Para se determinar a capacidade seladora dos materiais, utilizou-se o método de detecção da infiltração do Ca45 por meio de autorradiografias. Os resultados sugeriram a importância do uso de uma técnica cuidadosa de condensação quando da obturação do canal para se alcançar um selamento eficiente.

BRAUER (1967) explicou que os estudos detalhados sobre o mecanismo de endurecimento dos cimentos à base de óxido de zinco e eugenol foram realizados apenas durante os últimos 20 anos. Estudos prévios indicaram que o corpo endurecido resultante de misturas equimolares de óxido de zinco e eugenol consistiam de óxido de zinco envolvido em uma matriz de cristais longos, à semelhança de uma cobertura, do quelato eugenolato de zinco, com qualquer excesso de eugenol sendo sorvido por ambos, ou seja, tanto pelo eugenolato como pelo óxido de zinco. Segundo o autor, a fórmula estrutural plana do quelato eugenolato de zinco é a seguinte:
 

O eugenol, continua o autor, reage não apenas com o óxido de zinco, mas também com óxidos de outros elementos do Grupo II da tabela periódica (MgO, CaO, BaO, CdO, HgO) e com o chumbo (PbO) para formar materiais cimentantes. A formação dos cimentos é acelerada pela substituição do MgO ou CaO pelo ZnO. Entretanto, os produtos resultantes são bastante solúveis em água. Cimentos de propriedades físicas melhoradas são obtidos com CdO, HgO, BaO ou PbO, mas o efeito desses óxidos, geralmente biologicamente indesejáveis, sobre os tecidos não foi determinado. Quando misturam-se os cimentos de óxido de zinco e eugenol, a incorporação da quantidade máxima de pó com o líqüido, dentro de uma consistência passível de utilização, é uma boa prática. Assim, o pó estará em grande excesso no cimento endurecido. Concluindo, os cimentos de óxido de zinco-eugenol modificados (contendo EBA), que tiveram algumas propriedades físicas estudadas, parecem ser satisfatórios para o uso como cimentos obturadores do canal radicular, dentre outras coisas.

BATCHELOR & WILSON (1969) estudaram os efeitos da temperatura e umidade presentes durante a preparação dos cimentos de óxido de zinco-eugenol sobre a consistência e tempo de endurecimento desses cimentos. Estudaram seis marcas comerciais diferentes. A consistência dos materiais foi determinada seguindo-se uma especificação da FDI para cimentos de silicato. Estudou-se a influência da temperatura e da umidade da sala de manipulação dos cimentos sobre a sua consistência, utilizando duas relações pó/líqüido diferentes. Segundo os autores, os cimentos de óxido de zinco e eugenol são um grupo diversificado de materiais, possivelmente devido aos métodos utilizados na preparação do pó de óxido de zinco e à variação de outros aditivos empregados. A consistência e o tempo de endurecimento são relacionados. Ambos são medidas do desenvolvimento de resistência e são mutuamente afetados por fatores que interferem na velocidade da reação de endurecimento. O óxido de zinco hidratado é essencial para a produção de um cimento de óxido de zinco e eugenol. A hidratação ocorre facilmente com a presença de umidade no ar. Deduziu-se então que a hidratação do óxido de zinco constitui uma parte integral do processo de endurecimento. O papel e a influência da água no curso da reação devem ser atribuídos à natureza iônica da reação de quelação entre os íons eugenolato e zinco em alguma forma para produzir eugenolato de zinco. A água é necessária para a geração da reação iônica e também para agir como um solvente dessa reação. Os íons eugenolato serão gerados a partir do eugenol em contato com a umidade porque o eugenol possui um grupo fenólico. A água também é necessária à hidratação do pó de óxido de zinco e a subsequente hidrólise do hidrato ativo para uma forma iônica. Uma vez que o óxido de zinco é de caráter mais básico do que ácido, a sua cadeia irá adquirir uma carga positiva devido à ionização dos grupos hidroxilas superficiais. A adição de ácidos ao eugenol tem o mesmo efeito, uma vez que a taxa de hidrólise depende da concentração do íon hidrogênio. Concluindo o seu estudo, os autores afirmaram que, em qualquer trabalho com os cimentos de óxido de zinco e eugenol, as condições atmosféricas do laboratório no momento da manipulação do material devem ser rigidamente controladas, se desejarmos obter resultados com significado, comparativos e quantitativos. As permissões de variação da temperatura e da umidade relativa do ar devem estar entre mais ou menos 1 grau centígrado e 2 %, respectivamente, diferindo dos outros cimentos odontológicos. Isso se deve ao efeito combinado da temperatura e umidade.

SIMÕES FILHO (1969) estudou os níveis de solubilidade e desintegração em água destilada, dos seguintes materiais utilizados na obturação do canal radicular: pasta Alfa Canal , Piocidina , Cimento de óxido de zinco e eugenol e Fillcanal . As influências que as variáveis "variação da proporção pó-líqüido" e fator "tempo de espatulação" possam ter sobre a solubilidade e desintegração dos materiais estudados foram avaliadas. Os estudos revelaram que os materiais apresentaram níveis variáveis de solubilidade e desintegração, tendo a proporção pó-líqüido influído de modo significante sobre as propriedades dos materiais. Geralmente, o aumento dessa proporção provocou uma queda na solubilidade e desintegração dos materiais estudados. Ela foi mais acentuada nas primeiras 24 horas para a Piocidina , e nos primeiros sete dias para os demais materiais. A partir desses tempos e nos respectivos materiais, a solubilidade e desintegração mostrou uma tendência a diminuir e estabilizar-se.

WEISSMAN (1970) comparou o escoamento de dez cimentos obturadores do canal radicular. O estudo "in vitro" utilizou uma pipeta de vidro ultra-fina, de 0.19 mm de diâmetro, que simulou um canal radicular. Os materiais testados foram: AH 26 , Diaket , Grossman's sealer n. 811 (Roth), Grossman's sealer n. 812 (Roth), Kerr's pulp canal sealer - Rickert's Formula, Kerr's Tubliseal, Kloroperka N-0, ProcoSol root canal sealer, Pulpdent root canal sealer - Greenberg Formula e "ZOC" Root Canal Mixture. Todos os dez materiais escoaram, analisados sob as condições do estudo empreendido. As taxas de escoamento variaram de 0.36 mm a 2.2 mm por segundo. Os resultados obtidos com os cimentos de fómulas de Grossman, que diferenciaram entre si apenas quanto ao tamanho das partículas, permitiram ao autor concluir que o tamanho das partículas desempenha um papel importante na capacidade de o cimento escoar. Parece haver uma relação entre a espessura do filme e a taxa de escoamento. As taxas de escoamento, expressas em milímetros por segundo, estabeleceram uma ordenação de materiais, em valor ascendente: ProcoSol , Diaket , AH 26 , Roth's 812, Kerr's sealer, Kloroperka N-0 , Roth's 811, Kerr's Tubliseal , "ZOC" e Pulpdent . O escoamento, medido em milímetros, que representou o quanto o cimento penetrou na pipeta, permitiu a elaboração de uma outra ordem ascendente de materiais, determinada pelos valores médios: ProcoSol , Diaket , Roth's 812, AH 26 , Kerr's pulp canal sealer, Kloroperka N-0 , Roth's 811, Kerr's Tubliseal , "ZOC" e Pulpdent .

EL-TAHAWI & CRAIG (1971) estabeleceram as transições térmicas características dos materiais à base de óxido de zinco e eugenol, para compará-las àquelas do eugenolato de zinco, e para estudar o efeito da adição de ácido o-etoxibenzóico (o-EBA), de grandes quantidades de acelerador, e de resina na formação do eugenolato de zinco. O endurecimento das misturas de óxido de zinco e eugenol sem aceleradores, ou daquelas com acelerador em concentração menor do que 1 % de acetato de zinco, resultou na formação de apenas traços, quando eles existiam, dos cristais de eugenolato de zinco, concluindo que o endurecimento dos cimentos não era devido à essa fase cristalina. O endurecimento das misturas tinha duas exotermias na região de exotermia do eugenolato de zinco, o que pode indicar a formação de uma massa amorfa de eugenolato de zinco. A adição de resina aos cimentos que continham o-EBA interferiu na formação do eugenolato de zinco cristalino.

WEINER & SCHILDER (1971) investigaram as alterações dimensionais após o endurecimento de nove cimentos. Avaliaram-se, em um estudo qualitativo e quantitativo, os seguintes materiais: Kerr antiseptic pulp canal sealer, Kerr Tubliseal , Roth N. 501, Roth N. 511, Roth N. 601, ProcoSol  nonstaining root canal cement, ProcoSol  radiopaque silver root canal cement, Roth N. 801 e o AH 26 .Os autores salientaram que as condições dos estudos não tinham o objetivo de simular as condições clínicas. Nenhum dos resultados poderia ser interpretado como um comentário direto do desempenho clínico de qualquer cimento testado. Os tempos de endurecimento dos materiais apresentaram grandes variações, sob condições idênticas de temperatura e umidade relativa do ar. As alterações das condições ambientais, ou seja, da temperatura e da umidade relativa do ar, provocaram alterações marcantes nos tempos de endurecimento dos cimentos. Os aumentos da temperatura provocaram diminuição do tempo aferido. Todos os cimentos apresentaram contração, observada qualitativamente e quantificada por meio de perda de volume. Concluindo, os pesquisadores enfatizam a necessidade da padronização dos métodos para estudar-se os cimentos obturadores do canal, com a adoção de especificações pela American Dental Association.

GROSSMAN (1974), após promover várias alterações a partir da primeira composição de sue cimento, apresentou a seguinte fórmula: : Óxido de Zinco 42 partes, Resina "Staybelite 27 partes, Subcarbonato de Bismuto 15 partes, Sulfato de Bário 15 partes, Borato de Sódio anidro 1 parte, Líqüido Eugenol

Esse cimento, comenta o autor, apresenta a maioria das propriedades desejáveis que um material obturador deve possuir, mas não todas. Essa composição proporciona ao profissional o tempo adequado para realizar uma radiografia e ajustar o cone quando for necessário. A qualidade da resina utilizada influencia o tempo de endurecimento do cimento. Ele não começa a endurecer antes de decorridos 10 minutos após a sua manipulação, propiciando um tempo amplo para a obturação do canal. O cimento endurece sobre a placa após 6 a 8 horas. O seu endurecimento no interior do canal tem início após 10 minutos do início da manipulação, atingindo o endurecimento total após 30 minutos, devido à umidade existente nos canalículos dentinários. O material em pauta é bem tolerado pelo tecido periapical mesmo quando extruído através do forame apical, mas deve-se evitar a sobreobturação. A propriedade endurecedora do cimento variará com os componentes utilizados, com a quantidade de umidade presente no pó de óxido de zinco, e até com a quantidade de umidade da atmosfera no momento da preparação do pó ou quando o cimento é manipulado. Quanto maior for a umidade, mais rapidamente o cimento endurece. Não se deve utilizar mais do que duas gotas de líqüido de uma única vez. Isso proporcionará uma quantidade de cimento suficiente para obturar os canais de um dente multirradicular. O cimento é manipulado sobre uma placa de vidro lisa, espatulando-o durante três minutos para cada gota de eugenol utilizada, até que se obtenha uma consistência espessa uniforme. O material, após manipulado e ajuntado na espátula, não deve cair dela durante 10 a 15 segundos. Quando se coloca a espátula sobre a massa amolecida que se encontra sobre a placa e a levanta, o cimento deve proporcionar a formação de um "fio" de uma polegada de material que une a espátula à massa e se rompe e cai sobre si mesmo. Pode haver, acidentalmente, uma pequena quantidade de umidade no interior do canal, o que acelerará o endurecimento do material em discussão, mas não interferirá com a sua adesividade ou endurecimento. Obviamente, todo o esforço deve ser empreendido para se obter a secagem do canal antes de obturá-lo.

RODRIGUES et al (1975) avaliaram a citotoxicidade, utilizando células HeLa, de três cimentos à base de óxido de zinco e eugenol mais utilizados no Brasil. Os autores verificaram que o óxido de zinco e eugenol são, per se, altamente tóxicos, provocando morte celular. O óxido de zinco em água destilada foi atóxico, concluindo ser o eugenol o principal irritante, mas outros componentes podem aumentar a toxicidade dos materiais estudados.

GROSSMAN (1976) estudou algumas propriedades físicas dos cimentos obturadores dos canais radiculares, ou seja, o tamanho das partículas, escoamento, tempo de endurecimento, adesão e alteração dimensional. O tamanho das partículas foi avaliado para determinar o seu efeito sobre o tempo de endurecimento e escoamento. O escoamento, ou seja, a consistência do cimento manipulado que irá capacitá-lo a penetrar nas pequenas irregularidades da dentina, é um fator importante na obturação dos canais laterais e ou acessórios. O tempo de endurecimento foi estudado para determinar se o operador vai ter tempo suficiente para ajustar o(s) cone(s) de guta-percha ou de prata no interior do(s) canal(is) radicular(es), se necessário for. Isso é particularmente importante quando se obturam dentes multirradiculares. A adesão, ou seja, a ligação física do cimento com a parede do canal, foi determinada porque ela é uma propriedade desejável de um cimento. Finalmente, a alteração dimensional do cimento foi determinada pela infiltração de um corante ao seu redor. Os materiais testados foram: AH26 , Diaket , Kerr sealer , Mynol, N2, N2 no-lead, ProcoSol (non-staining), RC2B, Roth 801, Roth 811, Tubliseal e cimento de óxido de zinco e eugenol. Continuando, o autor faz revelações de grande valia para qualquer estudioso das propriedades físicas dos cimentos obturadores do canal radicular. Os cimentos à base de óxido de zinco e eugenol, na sua maioria, possuem uma certa porcentagem de resina sintética ou natural. Vários deles contém subnitrato de bismuto para acelerar o seu endurecimento, enquanto outros contém tetraborato de sódio anidro para retardá-lo. Há ainda aqueles outros que contém ambos os ingredientes para conseguir um balanceamento entre um tempo de endurecimento muito rápido e outro muito lento. Nesse estudo, não houve correlação entre o tamanho das partículas e o tempo de endurecimento. Quanto menor o tamanho da partícula, mais fácil é de se manipular o cimento, tomando menor tempo, e a mistura é mais suave e escoa melhor. As propriedades de escoamento de um cimento dependem em parte dos ingredientes que o compõem, e em parte do tempo de endurecimento. Isso é particularmente pertinente ao escoamento dos cimentos no interior do canal radicular, onde o tempo de endurecimento é grandemente acelerado, quando comparado ao tempo de endurecimento do cimento sobre a placa de vidro. O óxido de zinco comercial afeta variavelmente o tempo de endurecimento dos cimentos, dependendo do método da sua preparação química e da sua fonte de obtenção - se mineral ou a partir de misturas. A absorção do vapor do ar, tanto pelo óxido de zinco como pelo cimento obturador do canal, acelerará o tempo de endurecimento da mistura. Esse tempo não apresenta relação com o mesmo tempo medido no interior do canal radicular. Não apenas a temperatura e a umidade da boca aceleram o endurecimemto do cimento no interior do canal, mas a pouca espessura do filme do cimento desempenha um papel importante. Um cimento que endurece no interior do canal radicular em poucos minutos pode ser um ponto desfavorável para o operador que necessitar de ajustes na obturação. Por outro lado, um cimento que endurece muito lentamente pode irritar os tecidos periapicais, devido a um excesso de eugenol que resulta em uma quelação incompleta ou pode servir de causa da contração do cimento. Segundo GROSSMAN, o tempo de endurecimento ideal, se é que ele existe, ainda não foi determinado. Concluindo, ele acha que as informações do seu trabalho podem ajudar o dentista clínico-geral ou o endodontista a entender melhor o material que estão utilizando.

McCOMB & SMITH (1976) avaliaram "in vitro" algumas propriedades físicas de nove cimentos obturadores do canal radicular e as compararam com as propriedades de dois cimentos endodônticos especialmente preparados, ambos com fórmulas à base de policarboxilato. As propriedades examinadas foram: escoamento, tempo de endurecimento, radiopacidade, adesão à dentina radicular, resistência à compressão e solubilidade. Usou-se a Especificação Número 8 da American Dental Association para cimentos fosfato de zinco para a avaliação do escoamento, tempo de endurecimento, resistência à compressão e solubilidade. Os cimento avaliados foram: Kerr antiseptic pulp canal sealer; Kerr Tubliseal ; ProcoSol non-staining root canal cement; ProcoSol silver cement; PCA root canal sealer; Roth root canal cement n. 801; Roth root canal cement n. 511; Diaket root filling material e o AH 26 . Os cimentos obturadores do canal radicular à base de óxido de zinco e eugenol foram tipicamente de baixa resistência e alta solubilidade, não apresentando ainda adesão à dentina, fato este que ocorreu também com o cimento à base de resina polivinílica Diaket . O cimento à base de resina epóxi AH 26 apresentou propriedades superiores em relação à resistência, escoamento, radiopacidade e adesão, embora tenha demonstrado alta solubilidade. Os cimentos à base de policarboxilato apresentaram adesão à dentina duas vezes maior do que aquela apresentada pelo AH 26. Uma grande variação nas propriedades dos materiais comerciais testados demonstrou a natureza empírica desses cimentos obturadores.

BENATTI et al (1978) propuseram-se estabelecer um critério para a obtenção da "consistência clínica ideal" de alguns materiais obturadores do canal radicular, a estabelecer um tempo de endurecimento e a verificar as alterações dimensionais desses materiais na "consistência clínica ideal" e em outras consistências. Os testes foram realizados a partir de adaptações da Especificação Número 8 do Grupo Brasileiro de Materiais Dentários para Materiais de Moldagem que utilizam como base o óxido de zinco e o eugenol. Os materiais estudados foram: Fillcanal , Endomethasone , Trimcanal , Alfa Canal e óxido de zinco e eugenol. Os autores concluíram ser a consistência clínica ideal alcançada após a completa homogeneização da mistura, devendo haver uma ligeira resistência durante a sua realização. Essa consistência referida é também alcançada quando a mistura, uma vez ajuntada pela espátula e mantida por ela longe da placa de vidro, ali permanece por 10 segundos sem cair. Ao colocar-se a espátula sobre a mistura, a consistência clínica ideal permite à mistura fazer com que haja uma aderência entre a placa e a espátula que, uma vez afastada esta última, permite que seja formado um fio de material de aproximadamente 2 cm antes de ele se romper. O tempo de endurecimento deu amplo tempo de trabalho para todos os materiais testados, exceção feita ao Alfa Canal . A alteração dimensional (contração) não foi significante quando usou-se a consistência clínica ideal. Apenas o Alfa Canal apresentou uma contração maior, quando comparado aos demais. Finalizando suas conclusões, os pesquisadores escrevem que quanto mais fluida for a mistura, maior a contração. Isto claramente indica que quanto mais espessa a mistura, menor será a alteração dimensional.

FRAGOLA et al (1979) investigaram o efeito do tamanho das partículas do pó do cimento sobre o tempo de endurecimento e sobre o escoamento do cimento tipo Grossman. Os resultados mostraram que quanto menor for o tamanho das partículas do pó, mais rápido ocorre o endurecimento. As partículas menores são compactadas mais próximas umas das outras e apresentam um alto grau de densidade. A reação de endurecimento do óxido de zinco-eugenol é essencialmente uma reação iônica, com o eugenol servindo como doador de próton e o óxido de zinco como receptor. O hidrogênio fenólico no eugenol é substituído pelos íons zinco para formar um quelato óxido de zinco-eugenol. A capacidade do óxido de zinco de se hidratar está relacionada com o tamanho da partícula. À medida que seu tamanho aumenta, a superfície do mesmo volume diminui. Em outras palavras, quanto maior o tamanho das partículas, menor é a superfície de contato, que resulta em uma diminuição da reatividade de solubilidadeda mistura. Cimentos à base de óxido de zinco-eugenol com partículas maiores endurecem mais lentamente e proporcionam uma matriz menos homegênea do que os cimentos que contém partículas menores.

ORSTAVIK (1981) estudou as propriedades antibacterianas de 28 cimentos e pastas. Todos eles apresentaram alguma atividade antibacteriana, que foi altamente variável entre os diferentes materiais, os quais estão listados a seguir: AH 26 , Biocalex , Cohen-Luks, Cresopate, Diaket , Diaket-A, Endomethasone , Eucaryl , Forfenan , Formocresol, Hermetic, Hydron , Kerr pulp canal sealer , Kloroperka N-0 , Kloroperkka , Kri 1 paste, Mynol C-T, N2 Normal, N2 Universal, ProcoSol , Pulp dent root canal sealer, Tubliseal , UP, Óxido de Zinco e Eugenol e outras quatro modificações do cimento de óxido de zinco. A atividade antibacteriana foi maior quando os materiais encontravam-se no estado de mistura recente, do que quando a mistura era estocada e, por conseguinte, endurecia. Os compostos contendo formaldeído e paraformaldeído apresentaram o maior efeito testado.

GROSSMAN (1982) determinou o tempo de endurecimento do cimento que introduziu em 1974, porém com modificações no líqüido. Ele substituiu o eugenol por outros óleos essenciais de anethole, erva-doce, eucaliptol e óleo de pimenta em folhas. Este último foi o único a possibilitar a formação de um cimento que apresentou resultados que o compararam favoravelmente com cimento manipulado com o eugenol, podendo assim ser considerado o seu substituto.

GROSSMAN (1982) ressaltou a importância do conteúdo resinoso dos cimentos, escrevendo poder ele influenciar o tempo de endurecimento desses materiais e afetar os tecidos periapicais. Assim, o autor realizou um estudo para determinar o pH de seis resinas, naturais e sintéticas, e também para determinar o efeito dessas substâncias sobre o tempo de endurecimento dos cimentos obturadores. As resinas estudadas foram: Amend, Hakusui, Penresina, Primavera, Staybelite e WW. A adição de resina ao pó de óxido de zinco deu a ele corpo e consistência, e permitiu ao material endurecer após decorrido um tempo razoável. O cimento de óxido de zinco e eugenol sem resina não endureceu em 24 horas e, após o endurecimento, era friável. Geralmente, quanto menor o pH da resina, menor o tempo de endurecimento observado. Segundo o autor, sabia-se que os ácidos aceleram o tempo de endurecimento do cimento de óxido de zinco e eugenol. O ácido benzóico e o acetato de zinco têm sido recomendados como aceleradores do tempo de endurecimento. Entretanto, o fato de que a adição de uma resina ao cimento obturador do canal à base de óxido de zinco e eugenol afeta o tempo de endurecimento, acelerando-o ou retardando-o, não tinha sido relatado na literatura até então.

SAMPAIO et al (1982) realizaram um trabalho para determinar uma proporção pó/líqüido padrão para o cimento N-Rickert , capaz de oferecer ao profissional boas condições de trabalho. A proporção básica encontrada foi de 0.3762 g de pó para quatro ou cinco gotas de líqüido.

HOLLAND et al (1983) estudaram os efeitos de materiais obturadores de canais radiculares quando a região apical de dentes de macacos foram obturadas com raspas de dentina. Os materiais avaliados foram o Tubliseal , pasta antisséptica de Maisto, Pulp Canal sealer , cimento de Grossman, AH 26 , Endomethasone , Diaket e Óxido de zinco e eugenol. Os resultados obtidos sugerem que a técnica de obturação apical com raspas de dentina parece boa, desde que essas raspas estejam isentas de debris e microrganismos.

ORSTAVIK (1983) realizou um importante trabalho onde analisou o escoamento, tempo de trabalho e resistência à compressão de vários materiais endodônticos. Os materiais estudados foram: AH 26 , Diaket , Endomethasone , Estésone , Eucaryl Poudre, Forfénan , Formocresol, Formule G. Ivanhoff, Kerr's pulp canal sealer, Kloroperka N-0, Kri 1 paste, Merpasone, Mynol C-T, N2 Normal, N2 Universal, ProcoSol , Propylor, Pulp-dent root canal sealer, Roth 811 , Traitement SPAD, Tubliseal e Zinc oxide-eugenol. Dentre as conclusões do autor, destaca-se a de que as propriedades de escoamento dos cimentos obturadores do canal radicular variaram grandemente, sendo, para várias marcas, altamente dependentes da proporção pó-líqüido do material manipulado. A determinação do tempo de trabalho é preferivelmente feita com as medidas do escoamento como uma função do tempo. Os resultados apontaram a necessidade dos fabricantes fornecerem uma proporção pó-líqüido ótima para o uso clínico dos materiais estudados.

Em 1983 a American Dental Association divulgou normas para padronizar a avaliação das propriedades físicas dos cimentos obturadores e efetivada em 1984. Tal fato revestiu-se de muita importância, pois passaram a existir procedimentos padronizados, com finalidade específica para a avaliação das propriedades dos materiais endodônticos (ver apêndice).

ZYTKIEVITZ et al (1985) estudaram o escoamento e o tempo de endurecimento inicial e final de seis materiais obturadores do canal radicular: N-Rickert , Trim-Canal , Alpha Canal , Endomethasone , Óxido de zinco e eugenol e AH 26 . O N-Rickert apresentou o maior escoamento, seguido pelo Trim-Canal e AH 26 . O Endomethasone e o Alpha Canal apresentaram resultados equivalentes entre si. O Óxido de zinco e eugenol apresentou o menor escoamento e o maior tempo de endurecimento, seguido, nesse particular, pelo AH 26. O menor tempo foi apresentado pelo Trim-Canal .

HYDE (1986) estudou o escoamento, tempo de trabalho, tempo de endurecimento, pH, solubilidade, adesão e radiopacidade de alguns cimentos obturadores do canal radicular: Sealapex , CRCS , Tubliseal  e Roth 801 . Os testes foram realizados segundo a Especificação 57 da ADA. O autor verificou que os cimentos que continham hidróxido de cálcio nas suas fórmulas (Sealapex  e CRCS ) apresentaram um aumento significante do pH da água que os continham, ocorrendo o oposto com os cimentos à base de óxido de zinco e eugenol. O Sealapex apresentou maior solubilidade e desintegração do que o Roth 801, que é um cimento cuja fórmula segue a de GROSSMAN.

DE DEUS (1986) ressaltou que as fórmulas à base de óxido de zinco e eugenol para a obturação do canal radicular possuem tempo de endurecimento que depende do método de manipulação, da temperatura, da umidade e da proporção pó/líqüido. Esses compostos obedecem, proporcionalmente, aos mesmos princípios de manipulação da pasta de óxido de zinco e eugenol.

ØRSTAVIK (1988) fez considerações sobre as propriedades antibacterianas dos materiais endodônticos. Ele salientou que os aditivos antibacterianos dos materiais obturadores dos canais radiculares foram muito debatidos, ao passo que a biocompatibilidade e a não-toxicidade foram apenas recentemente salientadas como importantes. O autor enfatiza que os cimentos que contêm hidróxido de cálcio são biocompatíveis e possuem propriedade antimicrobiana.

MARGELOR et al (1989) avaliaram quatro cimentos do tipo Grossman produzidos na Grécia. Por meio de raios-X de difração atômica e espectrometria de absorção, eles detectaram a presença de chumbo em altas doses nos materiais estudados - 80 a 150 ppm. O produto controle apresentou apenas 2 ppm de chumbo. Os autores sugerem a necessidade de se fazer um controle de qualidade rigoroso nos materiais obturadores dos canais radiculares, com o intuito de evitar a presença de metais pesados nas suas composições.

SAQUY (1989) determinou algumas características dos tratamentos endodônticos realizados por cirurgiões-dentistas de Ribeirão Preto, Estado de São Paulo - Brasil, e constatou a ampla utilização do cimento de Grossman pelos profissionais consultados.

WENNBERG & ØRSTAVIK (1990) estudaram a adesividade de oito cimentos obturadores do canal comercialmente encontrados, quando o material é aplicado como uma fina camada entre a superfície da dentina e a guta-percha. Os materiais avaliados foram: AH-26, CRCS, Diaket, Hartskloroform (5 por cento), Kloroperka N-0, ProcoSol, Sealapex e Tubliseal. Todos os materiais testados apresentaram adesividade mensurável à dentina e à guta-percha. A melhor adesão foi conseguida com o AH 26 e a pior com o Sealapex O tratamento prévio da dentina com EDTA causou um significante aumento na adesividade do ProcoSol , clorofórmio-resina, Sealapex e Tubliseal

PÉCORA et al (1991) estudaram a tensão superficial pelo método de ascensão capilar de algumas drogas utilizadas na Endodontia, dentre elas o eugenol, que apresentou baixa tensão superficial (33,83 dinas\cm). Esse índice diz respeito à força existente entre as moléculas da superf'ície, que faz com que uma gota de líqüido, quando colocada sobre uma superfície, esparrame-se ou concentre-se, dependendo da sua força de coesão e adesão.

COSTA JÚNIOR & BARBOSA (1992) estudaram "in vitro" o tempo endurecimento, infiltração e a permeabilidade dos seguintes cimentos: Fillcanal , óxido de zinco e eugenol, puros e modificados pela adição de verniz cavitário. Eles concluíram que a adição do verniz ao cimento de óxido de zinco eugenol retardou o tempo de endurecimento inicial e diminuiu a infiltração marginal, enquanto que a incorporação do verniz ao cimento Fillcanal  fez com que o tempo de endurecimento e a infiltração marginal sofressem diminuição. Os cimentos avaliados mostraram-se mais permeáveis após a adição do verniz cavitário.

SAVIOLI (1992) estudou as relações existentes entre cada um dos componentes químicos do pó do cimento do tipo GROSSMAN e as propriedades físicas: escoamento, tempo de endurecimento, estabilidade dimensional, solubilidade e desintegração, espessura do filme e radiopacidade, seguindo a especificação número 57 da American Dental Association (1983). Para isso, o autor aviou sete fórmulas diferentes. Iniciou o estudo com o cimento de óxido de zinco puro e, às demais fórmulas, foram acrescentadas as seguintes substâncias químicas: tetraborato de sódio anidro, resina natural, subcarbonato de bismuto, sulfato de bário, e por fim, um cimento exatamente como o proposto por GROSSMAN (1974). Esse autor observou que a resina natural é um excelente acelerador do tempo de endurecimento e responsável pelo aumento do escoamento, bem como a expansão do cimento. O tetraborato de sódio anidro retarda a reação de endurecimento do cimento de óxido de zinco puro, mas não consegue realizar sua função quando em presença da resina natural. O tetraborato de sódio é responsável pelo aumento da solubilidade e desintegração do cimento de óxido de zinco-eugenol. O subcarbonato de bismuto é muito superior ao sulfato de bário como agente radiopaco, e ainda, possibilita a obtenção de um cimento obturador de canais radiculares com menor alteração dimensional, menor solubilidade, bom escoamento e tempo de endurecimento normal. Os cimentos do tipo Grossman contendo só subcarbonato de bismuto ou só sulfato de bário como agente radipaco, ou ainda, balanceados, apresentaram propriedades físicas dentro das normas exigidas pela Especificação 57 da ADA(1983).

SILVA (1992), seguindo a especificação de número 57 da American Dental Association, estudou as propriedades físicas dos cimentos obturadores do canal radicular do tipo Grossman das marcas FORP-USP, Grosscanal, Fillcanal, Endofill e Inodon. Observou que todos os cimentos estudados apresentaram escoamento compatível com a especificação seguida, com valores que variaram de 27 a 42mm. Em relação ao tempo de endurecimento, os resultados variaram, indo de muito curto (Inodon, 14 minutos) a extremamente longo (Fillcanal, 3 horas e 35 minutos). As espessuras do filme dos cimentos testados estão de acordo com a especificação seguida, ou seja, foram menores que 50 micrometros, com exceção do Inodon, que apresentou espessura do filme de 70 micrometros. Quanto à solubilidade e desintegração, todos os cimentos testados não atenderam as exigências da especificação seguida ao apresentarem valores superiores a 3 por cento.

FIDEL (1993) estudou as propriedades físicas dos cimentos obturadores de canais radiculares que contem em suas formulações o hidróxido de cálcio. O autor analisou os seguintes cimentos: Sealapex, Apexit, Sealer 26, CRCS e PR-Sealer. Os dois últimos cimentos citados são cimentos de Grossman com modificações em sua fórmulas, pois apresentam adição de hidróxido de cálcio. O autor usou o PR-Sealer como um cimento experimental. Nesse trabalho, constatou-se que apenas o Sealer 26  não preencheu as exigências da Especificação de número 57 da ADA em relação a espessura do filme. Todos os cimentos testados apresentam pH alcalino, não só imediatamente após a espatulação como uma semana após o seus endurecimentos.



 
 

Proposição
 
 

Uma vez que a maioria dos fabricantes dos cimentos tipo Grossman produzidos no Brasil afirma que nas formulações desse cimento o óleo de amêndoas doces está presente adicionado ao eugenol, o objetivo do presente trabalho consiste em:
 
 

1º Verificar se os cimentos nacionais do tipo Grossman apresentam realmente o óleo de amêndoas doces ,ou algum outro óleo alternativo, adicionado ao eugenol.

2º Estudar o efeito da adição de óleos vegetais (amêndoas doces, soja, milho e rícino) ao eugenol sobre as seguintes propriedades físico-químicas do cimento obturador do tipo Grossman, dos canais radiculares:

Escoamento

Tempo de trabalho

Tempo de endurecimento

Espessura do filme

Estabilidade dimensional

Solubilidade e desintegração

Adesividade



 

Material e Métodos

O cimento obturador de canais radiculares proposto por GROSSMAN é à base de óxido de zinco e eugenol, apresentando-se na forma de pó e de um líqüido contidas em separado. Essa característica o enquadra na Especificação 57 para materiais obturadores endodônticos da American Dental Association, que determina que todos os testes sejam realizados nas condições ambientais de 23 ± 2 °C e 50 ± 5 % de umidade relativa do ar, o que foi obedecido nos experimentos. Os materias testados foram submetidos às condições ambientais exigidas 48 horas antes do início dos procedimentos.

Preliminarmente, realizou-se um teste com o objetivo de determinar se os fabricantes brasileiros adicionavam óleo de amêndoas doces, conforme o estabelecido nas instruções que acompanham os cimentos. Assim, as amostras, antes de serem analisadas por cromatografia em fase gasosa, foram metiladas pelo processo de transesterificação, que consiste na pesagem de cerca de 25 mg da amostra, aos quais são adiconados 15ml de solução de ácido sulfúrico a 2% em metanol e 3ml de hexano. Foi realizado o aquecimento em manta, sob refluxo, durante uma hora. Após o resfriamento, foram adicionados 40 ml de solução saturada de cloreto de sódio e feita agitação durante um minuto.

Para análise dos ésteres metilados obtidos, foi empregado um cromatógrafo a gás com detector de ionização de chama (Figura 1), com uma coluna DEGS 15%, temperatura da coluna 175 graus centígrados; temperatura do detector 230 graus centígrados; temperatura do injetor 200 graus centígrados; Gás de arraste N2, com fluxo 34 ml/min; velocidade do papel 2mm\min e atenuação 6.102.

Figura 1. Cromatógrafo à gás com detector de ionização de chama usado na análise de ácidos graxos constituintes do óleo vegetal de cimento obturadores.

A identificação e a dosagem dos ácidos graxos foram realizadas por comparação entre os tempos de retenção e as áreas relativas às amostras dos líqüidos estudados.

Os líqüidos testados estão listados na Tabela I, onde se observam as marcas comerciais, e os fabricantes.

TABELA I. Liqüídos dos cimentos testados, suas marcas comerciais e os fabricantes.

Nome   Fabricante   Composição   Procedência
Grossman   FORP-USP   Eugenol   Brasil
Grosscanal *   Prodonto   Eugenol +óleo de amêndoas   Brasil
Fillcanal *   DGLigas Odontológicas   Eugenol + óleo de amêndoas   Brasil
Grossman **   Inodon   Eugenol   Brasil
Endofill *   Herpo   Eugenol + óleo de amêndoas   Brasil
* pó e líqüido; ** pó

Também foram realizados testes para determinar a viscosidade e o pH dos líqüidos que seriam submetidos aos teste das propriedades físicas.

Para determinar a viscosidade e o pH, foram preparadas misturas de eugenol com diversos óleos de origem vegetal, comestíveis e terapêuticos, conforme proporções volume:volume a seguir especificadas:
 
 

Líquido 1
Eugenol  
Líquido 2 Eugenol (5 partes) Óleo de soja (1 parte)
Líquido 3 Eugenol (5 partes) Óleo de milho (1 parte)
Líquido 4 Eugenol (5 partes) Óleo de rícino (1 parte)
Líquido 5 Eugenol (5 partes) Óleo de amêndoas doces (1 parte)

Obedeceu-se a proporção 5:1 por ser a recomendada por GROSSMAN (1958)

Para o estudo da viscosidade das misturas, utilizou-se um viscosímetro tipo Ostwald, Figura 2.

O viscosímetro de Ostwald baseia-se no tempo de escoamento de um bulbo cheio de líqüido através de um capilar quando sujeito a forças do seu próprio peso. Foram realizadas medidas relativas e não absolutas, de modo que não é necessário conhecer as dimensões do capilar e o volume do bulbo. Para isso, foi anotado o tempo de escoamento de um líqüido de viscosidade conhecida (água). De modo análogo, mede-se o tempo para o líqüido desconhecido.

O coeficiente de viscosidade do desconhecido é dado pela equação:
 

 
P0. t . n 0
     p0 e p   = densidade da água e do líqüido desconhecido
 = ---------------      n0 = Viscosidade da água
 
 p. t 0
  Onde:  n  = Viscosidade do líqüido desconhecido
         t0 = Tempo de escoamento da água
           t = Tempo de escoamento do líqüido desconhecido

Os valores de pH das soluções foram obtidos em um potenciômetro de marca Photovolt.

Figura 2. Viscosímetro de Ostwald, usado na determinação da viscosidade de misturas oleosas testadas como componentes do cimento obturador.

Determinação da Relação Pó-Líquido dos cimentos testados

O objetivo desta primeira etapa, ou seja, da determinação da relação pó-líqüido, foi o de estabelecer uma quantidade de pó que, quando misturada a um volume pré-estabelecido de eugenol, proporcionasse uma massa de cimento de consistência clínica ideal sugerida por GROSSMAN (1974).

O pó utilizado nesse experimento foi aviado no Laboratório de Endodontia do Departamento de Odontologia Restauradora da FORP-USP, respeitando as condições ambientais durante a sua preparação, estabelecidas pela Especificação número 57 da ADA. Para aferir tais condições, usou-se um termômetro marca INCOTHERM, de procedência nacional, e um higrômetro de marca HARR SUNTH, de procedência alemã.

Aviou-se o pó de acordo com a formulação proposta por GROSSMAN (1974) que é a seguinte:
 

Óxido de Zinco 42 %
Resina Staybelite 27 %
Subcarbonato de Bismuto 15 %
Sulfato de Bário 15 %
Tetra Borato de Sódio anidro 1 %

Os produtos químicos utilizados no preparo do pó do cimento estão listado na Tabela II.
 
 

TABELA II. Substâncias químicas utilizadas no preparo do pó do cimento tipo Grossman

Material   Grau de pureza   Marca   Procedência
Óxido de zinco PA  
99,99%
 
Reagen
 
Brasil
Tetraborato de Sódio  
99,50%
 
Vetec
 
Brasil
Subcarbonato de Bismuto  
99,90%
 
Reagen
 
Brasil
Sulfato de Bário  
99,90%
 
Carlo Erba
 
Brasil
Breu tipo X      
Eucatex
 
Brasil

Foram utilizados os seguintes instrumentos para o preparo dos componentes e aviamento da fórmula:
 
 

  balança eletrônica de precisão marca CG LIBOR, de procedência nacional,
  gral e pistilo de porcelana, marca CHIAROTI, com capacidade para 619 ml,
  um jogo de tamises malha 60 e 100,
  um misturador de pó de PVC, com formato da letra "Y", dotado de um eixo de rotação para homogeneização dos componentes químicos dos cimentos.
  forno para desidratação do tetraborato de sódio, marca NEY-BARKMEYER

Todos os componentes químicos do pó do cimento preparado foram adquiridos sob a forma de pós bem finos, que passaram facilmente pelo tamis de malha 100, com exceção da resina (breu), que foi adquirida na forma bruta.

Para pulverizar a resina e o tetraborato de sódio anidro, usou-se o gral e pistilo de porcelana. O breu e o tetraborato de sódio anidro foram triturados e tamisados em malha 60, posteriormente em malha 100, para se obterem as condições preconizadas por GROSSMAN (1958).

Após a mistura de cada componente, colocou-se o pó do cimento no misturador por 30 minutos para que ocorresse uma boa homogeneização das substâncias químicas.

A seguir, o pó foi embalado em recipiente de plástico dotado de tampa rosqueável, a fim de evitar o contato com o ar.

Assim, testou-se o pó preparado com todos os líqüidos , ou seja , Eugenol, eugenol + óleo de soja, eugenol + óleo de milho, eugenol + óleo de rícino, eugenol + óleo de amêndoas doces.

Após a realização de testes preliminares, o volume estabelecido foi de 0,20 ml, pois a quantidade de cimento obtida após a mistura com o pó proporcinava uma massa que se acomodava facilmente na superfície da placa de vidro, e o volume de cimento era o suficiente para realizar a maioria dos teste propostos (SAVIOLI, 1992; SILVA 1992; FIDEL, 1993).

Então eram depositados 0,20 ml de líqüido, com auxílio de uma pipeta graduada de 1,0 ml, no centro de uma placa de vidro lisa e limpa e, em uma das extremidades, eram colocados 3,0 g de pó.

O pó era incorporado ao líqüido aos poucos, com ajuda de uma espátula metálica número 24 flexível, e submetido a uma espatulação vigorosa. Uma vez obtida a consistência clínica ideal (Figura 3. 1, 2), pesava-se a quantidade de pó remanescente, que não havia sido utilizada durante a manipulação, e determinava-se, por simples subtração, o quanto de pó havia sido efetivamente utilizado.

O tempo gasto na espatulação, ou seja, aquele tempo decorrido do início da mistura até o momento em que se alcançava a consistência ideal era anotado. Repetia-se esse procedimento cinco vezes para cada um dos líqüidos analisados. Obtinha-se uma média aritmética desses valores e, por uma regra de três, determinava-se o quanto de pó era necessário para que, quando misturado a 1ml do líqüido a ser testado, manipulados durante o tempo médio determinado, fosse obtida a consistência ideal desejada (GROSSMAN, 1974).

Figura 3. Teste de consistência do cimento obturador. 1) Fio de 2,54 cm, aproximadamente, que deve formar-se entre a massa do cimento e a espátula. 2) Permanência de10 a 15 segundos sem cair da espátula.
 
 

ESCOAMENTO
 
 

Para realizar o teste de escoamento, preparou-se uma seringa LUER de vidro, com capacidade para 3,0 ml, que teve sua ponta cortada para ser utilizada nesse experimento. A seringa foi assim preparada para receber, em todos os casos, um volume de 0,5 ml de cimento manipulado (Figura 4.1).

Para padronizar esse volume, colocaram-se 0,5 ml de água no interior da seringa e, com o êmbolo em posição, fez-se um dispositivo de resina auto-polimerizável, que permitia o seu posicionamento no local previamente marcado.

Uma vez manipulado e obtido o volume desejado do cimento, este era depositado no centro de uma placa de vidro lisa e limpa, de dimensões 10X10 cm (Figura 4.2). Decorridos 180 ± 5 segundos do início da mistura, colocou-se cuidadosamente e centralmente por sobre o material amolecido, um conjunto composto por: 1. uma placa de vidro, de dimensões 60 por 60 mm e 20 gramas de massa, e 2. uma carga adicional, fazendo com que a carga total fosse de 120 gramas (Figura 4.3).

Decorridos 10 minutos do início da mistura, removia-se o peso e mediam-se os diâmetros maiores e menores do disco obtido com o escoamento do material (Figura 4.4). Para isso, utilizou-se um paquímetro digital marca TESA, de procedência suíça (Figura 4.5).

Duas condições eram necessárias para que o teste tivesse validade: a diferença entre os diâmetros maiores e menores não podia ser superior a 1,0 mm e disco deveria apresentar-se uniformemente circular. Caso contrário, o teste era repetido seguindo-se os mesmos paramêtros experimentais.

Realizaram-se 5 repetições para cada um dos líqüidos estudados e obteve-se a média aritmética que representava o escoamento do material em pauta.

Figura 4 Seqüência do teste de escoamento: 1) Seringa ajustada para carregar o volume de 0,5 ml de cimento; 2) Colocação do cimento testado sobre a placa de vidro. 3) Conjunto utilizado nos testes de escoamento e tempo de trabalho: a. Placa de vidro superior. b- carga. A massa total de a + b é de 120 gramas. 4) Disco circular obtido durante a realização do teste. 5)Paquímetro digital.
 
 

TEMPO DE TRABALHO
 
 

À semelhança dos procedimentos feitos durante a realização dos testes de escoamento, manipulava-se o cimento e um volume de 0,5 ml desse material, acondicionado em uma seringa Luer (Figura 4.1), era colocado sobre uma placa de vidro limpa (Figura 4.2). Decorridos 210   5 segundos do início da mistura, colocava-se uma carga de 120 gramas sobre o cimento manipulado.

O tempo de trabalho do material testado corresponde ao tempo decorrido a partir do começo da mistura até que o diâmetro do disco obtido com a compressão do material atinja um valor que corresponda a 10% menos do que o valor obtido para o seu escoamento.
 
 
 
 

TEMPO DE ENDURECIMENTO
 
 

Para realizar este experimento, confeccionaram-se moldes de aço inoxidável, cilíndricos, com diâmetros internos de 10 mm e espessura uniforme de 2 mm (Figura 5). Fixavam-se os moldes, em sua faces externas, com auxílio de cera utilidade, sobre uma placa de vidro de 1mm de espessura por 25 mm de largura e 75 mm de comprimento.

A seguir, manipulava-se o cimento a ser testado e colocava-se no interior do anel metálico, até que este ficasse totalmente preenchido (Figura 5).

Figura 5. Anel metálico utilizado nos testes de tempo de endurecimento A) molde vázio; B) molde preenchido de cimento.

Passados 120 ± 10 segundos do início da mistura, colocava-se o conjunto lâmina de vidro-molde preenchido pelo cimento sobre um bloco metálico de dimensões 10 X 20mm por 10 mm, sendo que este bloco estava condicionado dentro de um recipiente plástico com vedação hermética, que era mantido a uma temperatura constante de 37 graus centígrados, dentro de uma estufa, e umidade relativa do ar com 95 por cento. Assim, o conjunto formado pelo corpo de prova/lâmina de vidro/anel metálico ficava dentro da câmara até o final do teste. Decorridos 150   10 segundos do início da mistura, abaixava-se verticalmente uma agulha tipo Gillmore de 100 g e ponta ativa de 2,0 mm sobre a superfície horizontal do material (Figura 6).

Figura 6. Simulação do teste do tempo de endurecimento. A agulha tipo Gillmore era abaixada sobre a superfície do cimento testado. O conjunto todo ficava dentro de uma câmara climatizada.

Anotava-se o tempo de endurecimento como sendo o tempo decorrido entre o início da mistura e o tempo no qual as marcas provocadas pela agulha de Gillmore deixaram de ser visíveis na superfície do material. O teste era repetido cinco vezes para cada material.

Considerava-se o tempo de endurecimento como sendo a média dessas cinco determinações.
 

ESPESSURA DO FILME
 
 

Para realizar esse teste, foi utilizado um aparelho de carga marca MLW de procedência alemã, dotado de um relógio micrométrico (Figura 7).

Inicialmente, colocavam-se duas placas de vidro superpostas, medindo 200 mm quadrados de superfície e 6,0 mm de espessura cada uma, intercaladas por duas lâminas de papel celofane. Media-se a espessura do conjunto com auxílio do aparelho de carga.

A seguir, o cimento era manipulado e, com ajuda da seringa Luer de vidro, depositavam-se 0,5 ml do cimento sobre a placa de vidro (14,2X14,2X6 mm), envolta em lâmina de papel celofane. Colocava-se a segunda placa, de característica semelhante, sobre o material depositado.

Decorridos 180 ± 10 segundos do início da mistura, aplicava-se verticalmente uma carga de 15 Kgf sobre a placa de cima.

O cimento ocupava totalmente a área entre as placas de vidro. Decorridos 10 minutos do início da mistura, media-se a espessura das duas placas de vidro, juntamente com o material interposto entre elas.

A diferença de espessura das duas placas de vidro, com e sem filme de cimento obturador interposto entre elas, é a espessura do filme daquele cimento obturador.

Fazia-se a média de cinco determinações e aproximava-se para os 5 micrometros mais próximos, chegando-se finalmente ao valor que era representativo como sendo a espessura do filme do cimento estudado.

Figura 7 Aparelho de cargas marca MLW, dotado de relógio micrométrico (A) e local para colocação do conjunto que vai receber a carga (B) e a carga de 15 Kgf (C).
 
 
 
 

ESTABILIDADE DIMENSIONAL
 
 

Para a realização desse teste, confeccionaram-se 3 moldes de Teflon que permitiam a obtenção de corpos de prova cilíndricos, com dimensões de 12 mm de altura por 6 mm de diâmetro (Figura 8).

Colocava-se o molde sobre uma placa de vidro medindo 1 mm de espessura por 25 mm de largura e 75 mm de comprimento, envolta em uma fina lâmina de papel celofane. O passo seguinte consistia no preenchimento do molde, de tal modo que se pudesse verificar o ligeiro excesso de material na sua extremidade superior. Feito isso, pressionava-se uma lâmina de microscópio que estava envolvida por outra lâmina de celofane sobre a superfície superior do molde.

O conjunto formado pelas lâminas de microscópio, lâmina de celafone e, no meio, o molde contendo o material era mantido firmemente unido com a ajuda de um grampo em forma de letra C. Decorridos 5 minutos do início da mistura, o conjunto era transferido para uma câmara com 95 por cento de umidade relativa do ar e temperatura de 37 graus centígrados.

Após um intervalo de tempo de, no mínimo, três vezes o tempo de endurecimento do material, o conjunto era removido do interior da câmara.

O passo seguinte consistia em lixar as extremidades do molde contendo a amostra, sob a irrigação de água destilada e deionizada, com a ajuda de uma lixa de granulação 600, para a regularização de sua superfície.

Removia-se então a amostra do molde, media-se o seu comprimento com um paquímetro, guardava-se a amostra em um recipiente de vidro que comportava um volume total de 50 ml. Esse recipiente continha 30 ml de água destilada deionizada a uma temperatura de 37 graus centígrados no seu interior. O corpo de prova era mantido nessas condições durante 30 dias.

Após esse tempo, removia-se a amostra do recipiente e retirava-se o excesso de água com auxílio de papel absorvente. Fazia-se então uma nova medição do seu comprimento.

Obteve-se o cálculo da alteração dimensional percentual usando a seguinte fórmula, de acordo com as Especificação Número 57 da ADA:
 
 

C30 dias -C
   
---------------- X 100
C
   
onde C 30 dias é o comprimento da amostra após decorridos 30 dias nas condições do experimento, e C é a medida, ou seja, o comprimento inicial da amostra.

Anotava-se a média aritmética de cinco repetições como sendo a alteração dimensional do cimento testado.

Figura 8. Moldes cilíndricos, de dimensões 12 mm de altura por 6 mm de diâmetro, utilizados para confeccionar corpos de prova empregados nos testes de estabilidade dimensional. A)molde fechado; C) molde aberto; C) corpo de prova.
 
 

SOLUBILIDADE E DESINTEGRAÇÃO
 
 

Após a manipulação do material, preencheu-se um molde cilindrico de teflon, medindo 1,5 mm de espessura por 20 mm de diâmetro interno, que se sustentava por uma placa de vidro de dimensões maiores que as do molde, recoberta por uma lâmina de papel celofane. Preenchido o molde com um ligeiro excesso, colocava-se um fio de nylon impermeável no interior do material, e posicionava-se uma outra placa de vidro, também recoberta por uma lâmina de celofane sobre o molde e pressionava-se manualmente, de modo a fazer com que as placas tocassem uniformemente em todo o molde. O conjunto era levado a uma câmara a 37 graus centígrados e umidade relativa do ar de 95 por cento.

Decorrido um intervalo de tempo igual ou três vezes o tempo de endurecimento medido para o material testado, as amostras eram removidas do molde (Figura 9).

Figura 9.Molde circular, com 1,5 mm de espessura e 20 mm de diâmetro interno, utilizado no teste de solubilidade e desintegração. A) corpo de prova. B) molde.

Após retirar os resíduos ou partículas soltas, pesavam-se as amostras em uma balança de precisão marca MLW, de procedência alemã, e anotavam-se as massas. Suspendiam-se as amostras pelo fio de nylon e as colocavam no interior de um recipiente de plástico com boca larga, contendo 50 ml de água destilada e deionizada, tomando-se o cuidado de não permitir nenhum contato entre a amostra e a superfície interna do recipiente e do líqüido. Colocava-se uma amostra em cada recipiente, que era fechado e levado para o interior de uma estufa a 37 graus centígrados, ali permanecendo por uma semana.

A seguir, removiam-se as amostras dos recipientes, e enxaguavam-nas com um pouco de água destilada e deionizada. Removia-se o excesso de água com o auxílio de um papel absorvente. Feito isso, colocavam-se as amostras em um desumidificador contendo ácido sulfúrico concentrado, por um período de 24 horas e, posteriormente, faziam-se novas aferições das suas massas.

Anotava-se a perda de massa de cada amostra, expressa como porcentagem da massa original, como sendo a solubilidade do material.

Considerou-se a média de cinco determinações como a solubilidade e desintegração do material.
 
 

ADESIVIDADE
 

Para realizar o teste, foi confeccionado um cilindro de alumínio de 10 milímetros de comprimento por 6,0 milímetros de diâmetro interno, com uma alça lateral de fio de aço inoxidável. Molares inferiores e superiores humanos recém-extraídos foram fixados em uma base de resina acrílica, e depois foram desgatados em toda a sua superfície oclusal, deixando a dentina exposta. Os cilindros preparados eram fixados sobre a dentina exposta com cera utilidade para facilitar o seu preenchimento pelo material a ser testado (Figura 10).

Figura 10. Corpo de prova em alumínio, dente desgatado oclusalmente e preso em base de resina acrílica

Após esse procedimento, o conjunto era colocado na estufa a 37 graus centígrados e umidade relativa de 95%, por um tempo superior a três vezes o tempo de endurecimento do material testado.

Uma vez completado o tempo exigido, o conjunto era colocado em uma máquina previamente construída para a aplicação da força de tração, com aplicação de massa de modo gradual, até que o cilindro contendo o material se destacasse do dente. Anotava-se a massa em quilogramas necessária para o rompimento do conjunto (cilindro com material e a dentina). A Figura 11 ilustra a máquina utilizada para esse experimento. Os cálculos da tensão de tração foram calculados em Mega-Pascal.

Figura 11. Máquina utilizada para avaliar a adesividade dos cimentos testados. A) Local de colocação do dente fixo em resina. B)Cilindro com o material a ser testado e cimentado na dentina. C) Fio para transmitir a força de tração. D) Local de colocação da massa.



 
 

Resultados e Discussão
 
 
 
 

Com objetivo de determinar se os fabricantes nacionais dos cimentos tipo Grossman, adicionavam óleo de amêndoas doces, conforme estabelecido nas instruções fornecidas, fez-se um teste em cromatografia à gás com detector de ionização de chama.

Análise dos componentes do líqüido do cimento do tipo Grossman

Os líqüidos dos cimentos obturadores dos canais radiculares, encontrados no mercado brasileiro, que apresentam em suas bulas a fórmula proposta por GROSSMAN (1962) e que têm os nomes comerciais de Grosscanal , Fillcanal , Endofill , assim como os óleos vegetais de soja e de amêndoas doces foram submetidos a um teste em cromatografia à gás com detector de ionização de chama para verificar a concentração de ácidos graxos presentes ou não. Os resultados desta análise encontram-se na Tabela III.
 
 

TABELA III. Ácidos Graxos encontrados nos líqüidos dos cimentos obturadores.

   
Ácido Graxo, em %
Líqüidos analisados   Palmítico   Esteárico   Olêico   Linolêico   Linolénico
    (C16:0)   (C18:0)   (C18:1)   (C18:2)   (C18:3)
Grosscanal    0,38   0,22   1,95   0,33   0,13
Endofill    0,60   0,75   0,30   7,82   0,92
Fillcanal    1,23   0,35   3,04   5,78   0,78
óleo de soja   8,30   2,19   19,30   38,64   5,12
óleo de amêndoas doces   4,37   0,86   52,50   15,80   0,094
Eugenol (Narden)   -   -   -   -   -
Eugenol (Merck)   -   -   -   -   -
Eugenol (Dierberg)                    
Eugenol + óleo de soja (5:1)   1,38   0,36   3,2   6,44   0,85
Eugenol + óleo de amêndoas (5:1)   0,73   0,14   8,75   2,63   0,01

 

Os Valores da Tabela III indicam a quantidade, em porcentagem, dos seguintes ácidos graxos: Palmítico, Esteárico, Olêico, Linolêico e Linolénico, encontrados nos líqüidos estudados.

O óleo de amêndoas doces tem como característica principal a baixa concentração do ácido linolénico e uma alta quantidade de ácido olêico, de acordo com COSTA (1964), como pode ser observado na Tabela III. Esse óleo é quase incolor e também destituído de aroma e sabor, solúvel nos solventes orgânicos, mas pouco solúvel em álcool. É um óleo pouco ácido com índice de acidez até 3. Na terapêutica, emprega-se como emoliente nas inflamações da pele e das mãos, por ser quase destituído de odor. É utilizado também como laxante infantil. Utilizou-se nesse trabalho, óleo de amêndoas doces de procedência Francesa.

O óleo de soja tem como característica a alta quantidade de ácido linolêico, conforme o resultado expresso na Tabela III. Esse óleo, extraído dos frutos Glycine max, inclui-se no grupo dos semi-secativos, pois quando exposto ao ar em uma camada delgada, forma uma película sólida mas não espessa. O índice de acidez é de 0,3-1. A soja tem importância nas indústrias alimentícia e farmacêutica.

Como os fabricantes dos cimentos Inodon  e FORP-USP indicam o uso apenas de eugenol para ser espatulado com o pó, foram analisadas três marcas de Eugenol: Merck, Narden e Dierberger. As três amostras analisadas não apresentaram em sua composição qualquer ácido graxo. Assim sendo, não estão adicionados óleos vegetais, podendo ser utilizados como controle no presente trabalho. Mas utilizou-se apenas o eugenol de marca Narden, de procedência holandesa..

O eugenol é um óleo essencial, que é definido por um conjunto de propriedades, dentre as quais destacam-se o cheiro e o sabor. O eugenol é extraído do Cravo-da-Índia (Eugenia aromaticas, Caryophyllus aromaticus). A essência obtém-se por destilação do cravo. A indústria utiliza a destilação pelo vapor de água, pois assim obtém maiores rendimentos, essências enriquecidas de eugenol de 91 a 95%; a hidrodestilação conduz à essências de aroma mais delicado mas só com 85 a 89% de eugenol. O eugenol é utilizado na medicina como estimulante geral, principalmente como anti-séptico e expectorante nas bronquites e tuberculose. Na Farmácia é utilizado como aromatizante e, na Odontologia, como agente quelante do óxido de zinco, com utilizações múltiplas.

Segundo COSTA (1964), os três constituintes predominantes da essência são 70 a 90% de eugenol, 10 a 15% de acetato de eugenilo e 5 a 12% de humuleno e cariofileno, representando, esses três, cerca de 99% da essência.

Observa-se, pela análise da Tabela III, que os líqüidos do cimento Endofill  e do cimento Fillcanal  não são constituídos de eugenol misturado com óleo de amêndoas doces porque apresentam alta concentração de ácido linolénico. Constata-se, ainda, que esses líqüidos apresentam eugenol misturado com óleo de soja na proporção de 5:1, pois observa-se elevada coincidência de valores percentuais de ácidos graxos.

Quanto à análise do líqüido do cimento Grosscanal , observou-se que não havia evidências da presença do óleo de amêndoas doces, pois apresenta ácido linolénico em taxa elevada (0,13%) quando comparada com a mistura de eugenol + óleo de amêndoas doces (0,01%). Observou-se, também que este líqüido não apresentava eugenol misturado com óleo de soja, pois a presença do ácido linolêico (0,33%) mostrava-se muito baixa, fora dos padrões da mistura de eugenol + óleo de soja (6,44%).

Assim sendo, parece lícito afirmar que os líqüidos dos cimentos Fillcanal , Endofill  e Grosscanal não apresentam o óleo de amêndoas doces misturado ao eugenol.

Cumpre salientar que os eugenóis analisados, Merck, Narden e Dierberg não estavam contaminados por outros óleos vegetais.

Propriedades Físicas e Físico-Químicas

As misturas de eugenol (óleo essencial) com pH 5,3 e viscosidade de 8,15 cp com óleos vegetais (milho, soja, amêndoas doces e rícino na proporção de 5:1) resultam num líqüido com pH e viscosidade diferentes.

Assim, foram analisados os pH e as viscosidades dessas misturas com intuito de verificar suas relações com as propriedades físico-químicas dos cimentos por eles obtidos.

Esses resultados estão expressos na Tabela IV.
 
 

TABELA IV. Viscosidade e pH do Eugenol e eugenol + óleos vegetais estudados.

SOLUÇÕES TESTADAS  
pH
  VISCOSIDADE

cp

Eugenol  
5,3
 
8,15
Eugenol + Óleo de soja  
5,6
 
10,60
Eugenol + Óleo de milho  
5,1
 
11,21
Eugenol + Óleo de rícino  
5,2
 
19,57
Eugenol + Óleo de amêndoas doces  
6,0
 
12,35

Pela análise da Tabela IV, nota-se que o pH do Eugenol é ligeiramente ácido (5,3) e a adição dos óleos de milho e de rícino acidulava ainda mais a mistura. A adição de óleo de soja e amêndoas doces elevava ligeiramente o pH. Cumpre observar que o óleo de amêndoas doces tem pH 6, ou seja, próximo do neutro.

Assim sendo, pela análise do pH, pode-se inferir que à medida que a mistura tem diminuição do pH, a reação de endurecimento tende a ser mais rápida. Esses dados podem ser vistos nos resultados obtidos pela análise do tempo de endurecimento dos cimentos testados.

A adição de óleos vegetais ao eugenol aumentou a viscosidade, sendo que a adição do óleo de rícino resultou no maior índice de viscosidade entre os ensaiados.

A viscosidade do líqüido (Tabela IV) relaciona-se com o escoamento dos cimentos obtidos (Tabela VII).
 
 

RELAÇÃO PÓ-LÍQÜIDO

A Tabela V mostra as relações entre o pó do cimento aviado para o experimento e os líqüidos para as misturas testados, bem como os tempos em segundos gastos em suas espatulações, a fim de se obter a consistência clínica desejada.
 
 
 

TABELA V. Valores da relação pó/líqüido e tempo de espatulação, em segundos, obtidos em cinco repetições para cada líqüido testado
Cimentos obtidos com os seguintes líqüidos
 
Gramas de pó/ 0.20 ml

de líqüido

  Média

(em g)

 
Tempo de 

espatulação(s)

  Média

(em s)

Eugenol   1,27 1,29 1,30 1,27 1,31  
1,29
  120 120 130 130 140  
128
Eugenol + Óleo de soja   1,18 1,05 1,07 1,18 1,15  
1.13
  120 120 120 130 110  
120
Eugenol + Óleo de milho   1,10 0,96 1,08 1,10 1,05  
1,06
  0,90 105 110 110 105  
104
Eugenol + Óleo de rícino   1,00 0,90 0,95 0,95 0,95  
0,95
  120 140 140 150 150  
140
Eugenol + Óleo de amêndoas   1,06 1,06 1,13 1,17 1,22  
1,13
  140 150 145 165 165   
153

 

Os dados da Tabela V foram submetidos a uma série de testes estatísticos preliminares, visando verificar se a distribuição do erro amostral era normal (GMC).

Inicialmente, fez-se um teste de aderência à curva normal com os valores obtidos. Posteriormente, traçou-se o histograma com sobreposição da curva normal matemática. A interpretação revelou que a distribuição não era normal.

Passou-se então à análise não-paramétrica. Os dados eram indepedentes, com mais de uma amostra. Portanto, aplicou-se o teste de Kruskal-Wallis. Este teste indicou que havia significância ao nível de 0,5% para uma probabilidade de H0 de 2,43%. A seguir, comparou-se a diferença entre as médias dos postos das amostras duas a duas (Tabela VI).
 
 

TABELA VI. Relação pó-líqüido: Comparação entre as médias dos postos das amostras dos cimentos
Amostras comparadas

(duas a duas)

 
Diferenças entre médias
 
Significância
(Eugenol) X (eugenol + óleo de soja)  
8.7000
 
**
(Eugenol) X (eugenol + óleo de milho)  
13.5000
 
***
(Eugenol) X (eugenol + óleo de rícino)  
19.0000
 
***
(Eugenol) X (eugenol + óleo de amêndoas doces)  
8.8000
 
**
(Eugenol + óleo de soja) X (eugenol + óleo de milho)  
4.8000
 
ns
(Eugenol + óleo de soja) X (eugenol + óleo de rícino)  
10.3000
 
***
(Eugenol + óleo de soja) X (eugenol + óleo de amêndoas doces)  
0.1000
 
ns
(Eugenol + óleo de milho) X (eugenol + óleo de rícino)  
5.5000
 
*
(Eugenol + óleo de milho) X (eugenol + óleo de amêndoas doces)  
4.7000
 
ns
(Eugenol + óleo de rícino) X (eugenol + óleo de amêndoas doces)  
10.2000
 
***
Valores críticos   (0,05) = 5.2242 *   (0,01) = 7.1250 **   (0,001) = 9.6419 *** ns= não significante.

Os resultados evidenciaram que os cimentos obtidos a partir da utilização de um mesmo pó, com líqüidos diferentes, na proporção de 5:1, ou seja, eugenol + óleo milho, eugenol + óleo de soja e eugenol + amêndoas doces, são estatisticamente semelhantes entre si. Isto significa que eles incorporam praticamente a mesma quantidade de pó, na mesma quantidade de líqüido.

O cimento obtido a partir da mistura do pó experimental com o líqüido composto de eugenol + óleo de rícino na proporção de 5:1 mostrou-se estatisticamente diferente em todos os níveis (5%, 1% e 0,1%) dos demais cimentos testados, no que diz respeito à relação pó/líqüido. A adição de óleo de rícino ao eugenol promoveu uma menor incorporação de pó no mesmo volume de líqüido (0,20 ml), para possibilitar a consistência clínica desejada.

O Eugenol possibilita a incorporação de maior quantidade de pó para se obter a consistência desejada do cimento, quando comparado com os demais líqüidos que apresentam a adição de óleos vegetais. Esse resultado pode ser observado com nitidez na Tabela V e na comparação entre as médias dos postos das amostras dos cimentos (Tabela VI), que evidenciou significância estatística ao nível de 1% em relação as misturas estudadas.

A incorporação de maior ou menor quantidade de pó aos líqüidos testados deve-se, fundamentalmente, à viscosidade das misturas finais, ou seja, o Eugenol apresenta baixa viscosidade (8,15 cp) quando comparado com as suas misturas com os óleos vegetais testados. Essa baixa viscosidade determina que o Eugenol incorpore maior quantidade de pó para obtenção da consistência preconizado para o cimento de Grossman.

Qualquer um dos óleos vegetais estudados, quando adicionados ao eugenol para obter-se o líqüido do cimento de Grossman, proporcionou uma diminuição da relação pó/líqüido. Este fato deve-se à viscosidade da mistura ser maior que a do Eugenol.

Essa relação foi comprovada ao se realizarem os testes de regressão linear e correlação. Os resultados apontaram um valor de r = - 08120, significante ao nível de 1% de probabilidade. O sinal negativo de "r" indica tratar-se de uma correlação inversa, ou seja, quanto mais viscoso o líqüido estudado, menor a incorporação do pó.

SILVA (1992) analisou as relações pó/líqüido dos cimentos do tipo Grossman encontrados no mercado nacional (FORP-USP, Grosscanal , Fillcanal , Endofill  e Inodon ) e observou que os cimentos FORP-USP e Inodon, que utilizavam Eugenol, incorporam praticamente a mesma quantidade de pó (1,24 g e 1,21g respectivamente). Os cimentos Grosscanal , Endofill  e Fillcanal  incorporam menor quantidade de pó para o mesmo volume do líqüido (0,71g, 0,97g e 0,13g / 0,20 ml de líqüido, respectivamente). Essas diferenças nas relações pó/líqüido podem ser causados pela incorporação de óleos vegetais ao eugenol, desde que se considere que as formulações dos pós sejam as mesmas, como no presente estudo.

BATCHELOR & WILSON (1969) verificaram que a quantidade de pó incorparada ao líqüido pode influenciar as propriedades reológicas dos materiais. Assim tornou-se necessária a determinação da relação pó/líqüido para cada mistura de líqüido proposta que foi submetida ao estudo das propriedades físicas. Isso foi seguido por BRAUER et al (1962); LEAL (1966); SIMÕES FILHO (1969); BENATTI et al (1978); SAMPAIO et al (1982); HYDE (1986); SAVIOLI (1992); SILVA (1992); FIDEL (1993).

O volume de líqüido utilizado para a realização dos testes encontra-se fundamentado no fato de que a massa resultante da mistura deve possibilitar a execução de todos os testes.

O tempo de manipulação para a obtenção da consistência almejada foi livre, assim como nos experimentos de SAVIOLI (1992); SILVA (1992) e FIDEL (1993). Mesmo assim, para todos os líqüidos testados, obteve-se a consistência clínica ideal antes de o tempo de espatulação alcançar os três minutos preconizados por GROSSMAN (1974).
 

ESCOAMENTO
 

O escoamento de um cimento obturador constitui um fator importante no desempenho clínico do material, pois interfere na sua capacidade de penetrar em pequenas irregularidades na dentina e em canais laterais (GROSSMAN, 1976).

A determinação do escoamento pode ser realizada por várias técnicas: viscosidade, penetrabilidade, espalmabilidade e extrusão (LARA,1988).

O método utilizado nesse trabalho, seguindo a especificação número 57 da ADA, foi o da espalmabilidade ou extensibilidade, que é definada por RICCI et al (1975) como sendo a área média obtida quando o cimento obturador é submetido a uma carga constante por um tempo determinado.

Esse método refere-se à capacidade de espalmar ou de tornar plana a superfície de uma preparação quando submetida a uma determinada força. Refere-se também à facilidade com que ela se espalha e se estende mediante uma tração (LARA, 1988).

Os dados dos testes de escoamento de cada cimento obturador, obtidos com os diferentes líqüidos estudados, bem como os escoamentos médios e os valores aproximados, encontram-se na Tabela VII.
 
 

TABELA VII. Teste de escoamento dos cimentos testados (Dados em milímetros).
 

Cimentos obtidos com os seguintes líqüidos
 
Escoamento
 
Média
 
Aproximação
Eugenol   39,42 38,14 40,23 39,37 39,15  
39,46
 
39
Eugenol + Óleo de soja   32,80 32,01 34,00 33,08 32,80  
32,94
 
33
Eugenol + Óleo de milho   33,79 34,86 35,41 35,50 33,88  
34,69
 
35
Eugenol + Óleo de rícino   30,01 30,20 29,07 28,22 31,30  
29,76
 
30
Eugenol + Óleo de amêndoas   34,02 32,26 33,83 32,96 33,68  
33,35
 
33

 

Pela simples análise da Tabela VII, observa-se que a adição de óleos vegetais ao eugenol diminui o escoamento do cimento. No entanto, ainda assim, todos preenchem a condição estabelecida pela ADA para o teste de escoamento, que determina que o disco formado pelo cimento deve ter pelo menos 25 mm de diâmetro.

O estudo dos parâmetros amostrais evidenciou ser a distribuição não-normal, que conduziu à aplicação do teste de Kruskal-Wallis, o qual indicou significância ao nível de 1% para uma probabilidade de H0 de 0,03%. Procedeu-se então à realização das comparações das médias dos postos das amostras, que pode ser visto na Tabela VIII.
 
 
 

   
TABELA VIIIAmostra comparadas

(duas a duas)

 
Diferenças 

entre médias

 
Significância
(Eugenol) X (eugenol + óleo de soja)  
13.0000
 
***
(Eugenol) X (eugenol + óleo de milho)  
6.0000
 
**
(Eugenol) X (eugenol + óleo de rícino)  
20.0000
 
***
(Eugenol) X (eugenol + óleo de amêndoas doces)  
11.0000
 
***
(Eugenol + óleo de soja) X (eugenol + óleo de milho)  
7.0000
 
**
(Eugenol + óleo de soja) X (eugenol + óleo de rícino)  
7.0000
 
**
(Eugenol + óleo de soja) X (eugenol + óleo de amêndoas doces)  
2.0000
 
ns
(Eugenol + óleo de milho) X (eugenol + óleo de rícino)  
14.0000
 
***
(Eugenol + óleo de milho) X (eugenol + óleo de amêndoas doces)  
5.0000
 
*
(Eugenol + óleo de rícino) X (eugenol + óleo de amêndoas doces)  
9.0000
 
***
Valores críticos   (0,05) = 3.8407 *   (0,01) = 5.2382 **   (0,001) = 7.0886 *** ns= não significante

Pela análise da Tabela VIII, as misturas eugenol + óleo de soja e eugenol + óleo de amêndoas doces não apresentaram diferenças estatísticas significante entre si. As demais interações entre os líqüidos que continham óleos apresentaram-se estatisticamente diferentes entre si.

O Eugenol apresentou diferença estatística ao nível de 0,1% quando comparado com as misturas de eugenol + óleo de soja, eugenol + óleo de rícino e eugenol + óleo de amêndoas doces e diferença estatísca significante ao nível de 1% quando comparado com a mistura de eugenol + óleo de milho.

Aplicou-se um teste de regressão linear e correlação entre os valores do escoamento e os valores da viscosidade. Os resultados indicaram existir uma relação inversa (r = - 0,8396), ao nível de 1%, entre essas variáveis.

Pelos dados obtidos, pode-se considerar que o escomento está relacionado com a viscosidade do líqüido empregado na reação, sendo que o líqüido mais viscoso apresenta maior força de adesão e de coesão entre suas moléculas e portanto, promove um menor escoamento.

Isso explica os resultados do teste de escoamento onde o Eugenol, líqüido que apresentou menor viscosidade (8,15), promove uma massa de cimento com maior escoamento. Ao contrário, a mistura do eugenol + óleo de rícino, que apresentou a maior viscosidade (19,57), produz uma massa de cimento que promove menor escoamento.

A literatura mostra que outros fatores, além da composição do líqüido, influenciam no escoamento do cimento obturador de canais radiculares.

MARTIN et al (1970) relataram que, em relação à composição do pó, vários são os fatores que podem interferir no comportamento de uma preparação, como tamanho e forma das partículas, suas densidades e a interação entre elas.

Outros autores relacionaram a influência das taxas de escoamento com o tamanho das partículas (WEISSMAN, 1970). GROSSMAN (1976) relatou que a propriedade de escoamento depende em parte dos componentes do pó do cimento e em parte ao tempo de endurecimento.

Neste trabalho, ao ser preparado o pó do cimento para ser utilizado com todas as misturas de líqüidos estudados, padronizou-se o tamanho das partículas. Assim, o resultado expressa somente a influência dos líqüidos sobre o escoamento do cimento.

Em 1982, GROSSMAN demonstrou que a adição de resina aumenta a plasticidade do cimento favorecendo o seu escoamento. SAVIOLI (1992) constatou o aumento do escoamento quando adicionou resina (breu) às fórmulas dos cimentos.

Vários foram os autores que pesquisaram o escoamento dos cimentos, sendo que HYDE (1986), SAVIOLI (1992), SILVA (1992) e FIDEL (1993) seguiram a especificação número 57 da ADA.

O cimento de Grossman obtido a partir da espatulação do pó com o eugenol promove maior escoamento do que quando esse pó é espatulado com os líqüido resultantes das misturas de eugenol com um dos óleos de vegetais. Pode-se concluir, portanto, que a adição do óleo vegetal ao eugenol promove um líqüido com maior viscosidade e esse aumento de viscosidade diminui o escoamento da massa resultante.
 
 

TEMPO DE TRABALHO
 

Os resultados obtidos com a realização dos teste de tempo de trabalho dos cimentos estão na Tabela IX.
 
 

TABELA IX. Tempo de trabalho dos cimentos testados ( em minutos).

Cimentos obtidos com os seguintes líqüidos
 
Tempos de trabalho medidos
 
Média
 
Aproximação
Eugenol  
422 455 468
 
448
 
450
Eugenol + Óleo de soja  
350 303 315
 
323
 
320
Eugenol + Óleo de milho  
428 437 465
 
443
 
440
Eugenol + Óleo de rícino  
317 250 275
 
281
 
280
Eugenol + Óleo de amêndoas doces  
422 375 360
 
386
 
390

Após detectada a não-normalidade da distribuição amostral dos valores originais, realizou-se o teste de Kruskal-Wallis, que evidenciou um valor do  2 para 4 graus de liberdade em 12,16 e probabilidade para esse valor em 1,62%. Isso demonstrou ser significante ao nível de 5%.

Compararam-se, então, as médias dos postos das amostras duas a duas, o que pode ser visto na Tabela X.
 
 

TABELA X. Tempo de Trabalho: Comparação entre as médias dos postos da amostras dos cimentos.
Amostra comparadas

(duas a duas)

 
Diferenças entre médias
 
Significância
(Eugenol) X (eugenol + óleo de soja)  
8.1667
 
***
(Eugenol) X (eugenol + óleo de milho)  
0.1667
 
ns
(Eugenol) X (eugenol + óleo de rícino)  
9.8333
 
***
(Eugenol) X (eugenol + óleo de amêndoas doces)  
4.3333
 
*
(Eugenol + óleo de soja) X (eugenol + óleo de milho)  
8.0000
 
***
(Eugenol + óleo de soja) X (eugenol + óleo de rícino)  
1.6667
 
ns
(Eugenol + óleo de soja) X (eugenol + óleo de amêndoas doces)  
3.8333
 
*
(Eugenol + óleo de milho) X (eugenol + óleo de rícino)  
9.6667
 
***
(Eugenol + óleo de milho) X (eugenol + óleo de amêndoas doces)  
4.1667
 
*
(Eugenol + óleo de rícino) X (eugenol + óleo de amêndoas doces)  
5.5000
 
**
Valores críticos   (0,05) = 3.4834 *   (0,01) = 4.9546 **   (0,001) = 7.1717 *** ns= não significante

O exame da Tabela X evidencia que as interações Eugenol com o eugenol +óleo de milho, e eugenol + óleo de soja com eugenol + óleo de rícino são estatisticamente iguais entre si no que diz respeito ao tempo de trabalho.

A ordenação dos cimentos obtidos com os diferentes líqüidos, em ordem crescente de tempo de trabalho, pode ser assim expressada: eugenol + óleo de rícino; eugenol + óleo de soja; eugenol + óleo de amêndoas doces; eugenol + óleo de milho e Eugenol.

Observa-se que o cimento obtido a partir do Eugenol apresentou o maior tempo de trabalho, porém estatisticamente iguais quando comparado com o cimento obtido com a mistura eugenol + óleo de de milho na proporção 5:1.

O que se pode deduzir desse teste é que o Eugenol promove um cimento do tipo Grossman com maior tempo de trabalho do que os obtidos com a adição de óleos vegetais ao eugenol, com exceção do óleo de milho.

O tempo de trabalho não foi muito estudado pelos autores presentes na retrospectiva da literatura. Encontrou-se essa abordagem nos trabalhos de ZERLOTTI FILHO 1956), ORSTAVIK (1983), HYDE (1986) e SILVA (1992).

Tanto HYDE (1986) como SILVA (1992) salientam muito bem que essa determinação do tempo de trabalho não reflete a situação rotineira de uso clínico dos materiais. O tempo de trabalho clínico real ocorre quando a superfície do material começa a endurecer, formando uma película superficial na massa do cimento. Isso impede a transferência fácil do material para as pontas de guta-percha, bem como a inserção de cones no interior do canal.

A realização do presente teste levou-nos a concordar com HYDE (1986) e SILVA (1992), que propuseram modificações na norma da ADA no que diz respeito a esse teste.
 
 

TEMPO DE ENDURECIMENTO
 

O mecanismo de endurecimento dos cimentos à base de óxido de zinco eugenol é resultante de misturas equimolares de óxido de zinco e eugenol, que consistem de óxido de zinco envolvido em uma matriz de cristais longos, à semelhança de uma cobertura, do quelato de eugenolato de zinco, sendo que qualquer excesso de eugenol é sorvido por ambos, ou seja, o eugenolato e o óxido de zinco (BRAUER et al, 1967).

A reação de endurecimento do óxido de zinco-eugenol é essencialmente uma reação iônica, com o eugenol servindo como doador de próton e óxido de zinco como receptor. O hidrogênio fenólico no eugenol é substituído pelos íons zinco para formar um quelato óxido de zinco-eugenol (FRAGOLA et al 1979).

Os dados de tempo de endurecimento, expressos na Tabela XI, foram submetidos à análise estatística. Os estudos dos parâmetros amostrais apontaram que a distribuição amostral não era normal. Diante do resultado, realizou-se o teste de Kruskal-Wallis, que indicou significância ao nível de 5%.
 
 

TABELA XI. Tempo de endurecimento (em segundos) dos cimentos estudados.

Cimentos obtidos com os seguintes líqüidos
 
Tempos de endurecimento
 
Média
Eugenol   1380 1433 1410 1415 1401  
1408
Eugenol + Óleo de soja   2220 2160 2160 2178 2183  
2180
Eugenol + Óleo de milho   2485 2570 2550 2493 2577  
2535
Eugenol + Óleo de rícino   2350 2395 2420 2402 2420  
2397
Eugenol + Óleo de amêndoas doces   2340 2280 2340 2302 2338  
2320

Uma vez determinado, pelo teste de Kruskal-Wallis, que existiam diferenças estatísticas significantes entre os cimentos analisados, compararam-se, então, as médias dos postos das amostras duas a duas, que pode ser visto na Tabela XII.
 

TABELA XII. Tempo de Endurecimento: Comparação entre as médias dos postos das amostras dos cimentos testados.
Amostras comparadas

(duas a duas)

 
Diferenças entre médias
 
Significância
(Eugenol) X (eugenol + óleo de soja)  
5.0000
 
***
(Eugenol) X (eugenol + óleo de milho)  
20.0000
 
***
(Eugenol) X (eugenol + óleo de rícino)  
15.0000
 
***
(Eugenol) X (eugenol + óleo de amêndoas doces)  
10.0000
 
***
(Eugenol + óleo de soja) X (eugenol + óleo de milho)  
15.0000
 
***
(Eugenol + óleo de soja) X (eugenol + óleo de rícino)  
10.0000
 
***
(Eugenol + óleo de soja) X (eugenol + óleo de amêndoas doces)  
5.0000
 
***
(Eugenol + óleo de milho) X (eugenol + óleo de rícino)  
5.0000
 
***
(Eugenol + óleo de milho) X (eugenol + óleo de amêndoas doces)  
10.0000
 
***
(Eugenol + óleo de rícino) X (eugenol + óleo de amêndoas doces)  
5.0000
 
***
Valores críticos   (0,05) = 2.0650 *   (0,01) = 2.8164 **   (0,001) = 3.8113 ***

 

O cimento obtido com o Eugenol apresentou diferença estatística significante ao nível de 0,1% em relação aos cimentos resultantes das misturas do eugenol com o óleo de soja, óleo de amêndoas doces, óleo de milho e óleo de rícino.

Todas as interações entre os líqüidos que continham óleos adicionados ao eugenol apresentaram diferenças estatísticas significantes ao nível de 0,1%

A presença dos óleos vegetais diminui a área de contato entre o eugenol e o óxido zinco, diminuindo a velocidade da reação de quelação, ou seja, a adição do óleos vegetais retarda a formação do eugenolato de zinco, aumentado o tempo de endurecimento.

Com a adição de óleo vegetais ao eugenol é necessária uma menor quantidade de pó do cimento para atingir a consistência clínica desejada. Esse fato faz com que não tenhamos equimolaridade entre o óxido de zinco e o eugenol e, consequentemente, uma menor quantidade de eugenolato de zinco. Uma menor produção do eugenolato de zinco produz retardo do endurecimento do cimento. Esse fato ocorreu principalmente quando se adicionaram óleo de rícino e o óleo de milho ao eugenol.

Os testes de regressão linear e correlação apontaram r = - 0,7923, significante ao nível de 1% de probabilidade. O sinal negativo de "r" indica tratar-se de uma correlação inversa, ou seja, quanto menor a proporção pó-líqüido, maior será o tempo de endurecimento.

GROSSMAN (1936) adicionou ao eugenol o cloreto de zinco a 4% e, em 1958, substituiu esse agente químico pelo óleo de amêndoas doces com o objetivo de retardar o tempo de endurecimento.

PHILIPS & LOVE (1961) observaram que a adição do ácido o-etoxibenzoico (o-EBA) diminui o tempo de endurecimento. BATCHELOR & WILSON (1969) relataram que a adição de ácidos ao eugenol acelera a reação, uma vez que a taxa de hidrólise depende da concentração do íon hidrogênio.

Ao comparar a mistura do eugenol + óleo de soja com a mistura eugenol + óleo de amêndoas doces, observou-se que estas proporcionavam a obtenção de cimentos com as mesmas relações pó/líqüido. Entretanto, a mistura eugenol + óleo de soja fornece um cimento com menor tempo de endurecimento e esse fato pode ser devido ao pH da mistura (5,6) ser mais ácido que a mistura do eugenol + óleo de amêndoas doces (6,0).

COSTA JUNIOR & BARBOSA (1992) adicionaram ao eugenol um verniz cavitário, e essa mistura possibilitou a diminuição do tempo de endurecimento do cimento Fillcanal .

Vários autores estudaram a influência de outros fatores no tempo de endurecimento, sendo que HYDE (1986) relatou que o tempo de endurecimento de um material obturador depende de algumas variáveis, tais como: espessura da amostra do material, peso da agulha de Gillmore e condições ambientais nas quais os testes são realizados. Baseado nisso, seguiram-se aqui rigirosamente as exigências da Especificação número 57 da ADA, à semelhança de SAVIOLI (1992); SILVA (1992); FIDEL (1993).

BATCHELOR & WILSON (1969) afirmaram que, para qualquer cimento, a consistência e o tempo de endurecimento são relacionadas, sendo ambas medidas do desenvolvimento de forças e são mutuamente afetadas pelos fatores que influem na velocidade da reação de endurecimento, tais como umidade e temperatura. Por esse motivo, estabeleceram nesse estudo, antes da realização dos testes das propriedades físicas dos cimentos obturadores, as relações pó/líqüido necessárias para se atingir a consistência clínica ideal preconizada por GROSSMAN (1974).

O endurecimento do material aferido na placa não guarda relação com o que ocorre clinicamente, onde a temperatura e a umidade da cavidade oral irão interferir no processo. A quantidade de material utilizado nas condições clínicas e laboratoriais são diferentes. Para evitar os efeitos que as variações da umidade e da temperatura poderiam provocar nos resultados dos testes, a ADA preconiza as condições ambientais descritas na sua Especificação 57, ou seja, 37 graus centígrados e umidade relativa do ar de 95 por cento.

SAVIOLI (1992) demonstrou claramente o efeito da resina natural (breu) sobre a reação de endurecimento do óxido de zinco e eugenol, demonstrando que GROSSMAN (1974) estava correto. A adição de resina natural (breu) ao pó do cimento funciona como acelerador. Continuando, esse autor afirma que a resina natural tem em sua composição uma predominância de ácido abiético, capaz de acelerar a reação de endurecimento do óxido de zinco e eugenol. A hidratação do tetraborato de sódio também influi no processo.
 
 

ESPESSURA DO FILME
 
 

Os resultados obtidos após a realização dos testes de espessura do filme estão contidos na Tabela XIII.
 
 

TABELA XIII. Espessura do filme dos cimentos testados (Dados em micrometros).

Cimentos obtidos com os seguintes líqüidos
 
Espessura do filme
 
Média
 
Aproximação
Eugenol  
45 42 44 44 42
 
44
 
45
Eugenol + Óleo de soja  
46 48 47 46 47
 
47
 
50
Eugenol + Óleo de milho  
70 65 69 65 70
 
68
 
70
Eugenol + Óleo de rícino  
71 72 75 73 73
 
73
 
75
Eugenol + Óleo de amêndoas doces  
49 49 50 49 50
 
49
 
50

Pela observação da Tabela XIII, verifica-se que os cimentos obtidos a partir das misturas do eugenol com o óleo de rícino e com óleo de milho apresentam espessura do filme em desacordo com a Especificação Número 57 da ADA, com valores superiores a 50 micrometros

Os dados foram submetidos à análise estatística que apontou não normalidade da amostra. Realizou-se então o teste de Kruskal-Wallis, que indicou valor do  2 para 4 graus de liberdade de 13,52, para probabilidade de H0 para esse valor de 0,90%, evidenciando-se significante ao nível de 1%. Fez-se então a comparação das médias dos postos das amostras, duas a duas (Tabela XIV).
 
 
 

TABELA XIV Espessura do Filme: Comparação entre as médias dos postos das amostras dos cimentos testados.
Amostra comparadas

(duas a duas)

 
Diferenças entre médias
 
Significância
(Eugenol) X (eugenol + óleo de soja)  
5.0000
 
***
(Eugenol) X (eugenol + óleo de milho)  
15.0000
 
***
(Eugenol) X (eugenol + óleo de rícino)  
20.0000
 
***
(Eugenol) X (eugenol + óleo de amêndoas doces)  
10.0000
 
***
(Eugenol + óleo de soja) X (eugenol + óleo de milho)  
10.0000
 
***
(Eugenol + óleo de soja) X (eugenol + óleo de rícino)  
15.0000
 
***
(Eugenol + óleo de soja) X (eugenol + óleo de amêndoas doces)  
5.0000
 
***
(Eugenol + óleo de milho) X (eugenol + óleo de rícino)  
5.0000
 
***
(Eugenol + óleo de milho) X (eugenol + óleo de amêndoas doces)  
5.0000
 
***
(Eugenol + óleo de rícino) X (eugenol + óleo de amêndoas doces)  
10.0000
 
***
Valores críticos   (0,05) = 1.9457 *   (0,01) = 2.6536 **   (0,001) = 3.5910 ***

 

A Tabela XIV mostra que os líqüidos testados forneceram cimentos que apresentaram as suas espessuras com diferenças estatísticas significantes entre si ao nível de 1%. Assim, eles podem ser expressos em ordem crescente, quanto à espessura do filme, ou seja, do menor para o maior valor: Eugenol; eugenol + óleo de soja; eugenol + óleo de amêndoas doces; eugenol + óleo de milho e eugenol + óleo de rícino.

Os cimentos de Grossman obtidos a partir de suas misturas com Eugenol, com eugenol + óleo de soja e eugenol + óleo de amêndoas doces proporcionam espessura de filme dentro dos valores exigidos pela Especificação 57 da ADA, ou seja, inferior a 50 micrometros.

SILVA (1992) constatou que os cimentos Fillcanal  e Endofill  apresentaram espessura de filme dentro das especificações da ADA. Isto parece ser lógico uma vez que se constatou aqui a presença de óleo de soja misturado ao eugenol nos líqüidos desses cimentos.

Aplicou-se um teste de regressão linear e correlação entre as espessuras do filme obtidos na Tabela XIII com os valores do escoamento (Tabela VII). Os resultados apontaram um valor de r = - 0,6046 significante ao nível de 1% de probabilidade. O sinal negativo indica tratar-se de uma correlação inversa.

Assim pode-se expressar que quanto menor o escoamento dos cimentos obtidos com os líqüidos testados, maior será a espessura do filme. Esse achado comprova os de WEISSMAN (1970).

Verificou-se, também, a regressão linear e correlação entre a quantidade de pó incorporado ao líqüido (Tabela V) com os valores da espessura do filme (Tabela XIII). Os resultados indicaram haver relação inversa (r = - 0,8100) ao nível de 1%, o que significa que quanto menos pó é incorporado ao mesmo volume de líqüido, maior a espessura da película obtida.

O Eugenol produz um cimento com a menor espessura do filme do que os cimentos obtidos com a mistura de eugenol com os óleos vegetais.

Em relação à composição do pó, SAVIOLI (1992) conclui que a relação de 42 % de óxido de zinco para 27 % de resina natural (breu) presente nos cimentos do tipo Grossman é necessária para que os cimentos apresentem espessura do filme compatível com as exigências da ADA.

WEISSMAN (1970) e SILVA (1992) verificaram que o aumento das partículas do pó do cimento aumenta a espessura do filme.
 
 

ESTABILIDADE DIMENSIONAL
 
 

Os resultados obtidos a partir da realização dos testes de estabilidade dimensional estão contidos na Tabela XV.
 
 

TABELA XV. Alteração dimensional percentual dos cimentos testados

Cimentos obtidos com os seguintes líqüidos
 
Alteração dimensional
 
Média
Eugenol  
1,6 1,1 1,2 1,4 1,2
 
1,3
Eugenol + Óleo de soja  
1,5 1,5 1,3 1,5 1,3
 
1,4
Eugenol + Óleo de milho  
1,6 1,9 1,8 1,9 1,7
 
1,8
Eugenol + Óleo de rícino  
2,0 1,7 1,8 1,7 1,9
 
1,8
Eugenol + Óleo de amêndoas doces  
1,4 1,5 1,2 1,4 1,4
 
1,4

Para os testes de estabilidade dimensional, a American Dental Association preconiza que nenhum cimento deve apresentar contração superior a 1 %. Portanto, todos os cimentos obtidos a partir de líqüidos diferentes enquadram-se na Especificação seguida, pois apresentaram ligeira expansão.

Com base nos resultados apresentados na Tabela XV, verificou-se a não-normalidade da distribuição amostral. Então aplicou-se o teste de Kruskal-Wallis, que foi significante a nível de 5% ( = 0,05).

A seguir, realizou-se a comparação das médias dos postos das amostras dos cimentos testados, duas a duas (Tabela XVI).
 
 
 

TABELA XVI Estabilidade dimensional: Comparação entre as médias dos postos das amostras dos cimentos.
Amostras comparadas

(duas a duas)

 
Diferenças entre médias
 
Significância
(Eugenol) X (eugenol + óleo de soja)  
3,4000
 
ns
(Eugenol) X (eugenol + óleo de milho)  
13.8000
 
***
(Eugenol) X (eugenol + óleo de rícino)  
14,7000
 
***
(Eugenol) X (eugenol + óleo de amêndoas doces)  
2,1000
 
ns
(Eugenol + óleo de soja) X (eugenol + óleo de milho)  
10,4000
 
***
(Eugenol + óleo de soja) X (eugenol + óleo de rícino)  
11,3000
 
***
(Eugenol + óleo de soja) X (eugenol + óleo de amêndoas doces)  
1.3000
 
ns
(Eugenol + óleo de milho) X (eugenol + óleo de rícino)  
0.9000
 
ns
(Eugenol + óleo de milho) X (eugenol + óleo de amêndoas doces)  
11,7000
 
***
(Eugenol + óleo de rícino) X (eugenol + óleo de amêndoas doces)  
12,6000
 
***
Valores críticos   (0,05) = 5.0151 *   (0,01) = 7.1332 **   (0,001) = 10.5250*** ns= não significante

Pelo exame da Tabela XVI, verifica-se que o Eugenol; eugenol + óleo de amêndoas doces e eugenol + óleo de soja não apresentaram diferenças estatísticas significantes entre si, produzindo ligeira expansão.

Já o eugenol + óleo de milho e o eugenol + óleo de rícino não apresentaram diferenças estatísticas entre si porém, provocaram a maior expansão.

SAVIOLI (1992) realizou testes e verificou que o tipo de resina (breu) empregado na composição dos cimentos do tipo Grossman tem grande influência na expansão do cimento.

Quando são adicionados óleos vegetais (soja, milho, amêndoas doces, rícino) ao eugenol na proporção de 5:1, obtém-se o cimento do tipo Grossman com pouca alteração dimensional preenchendo as especificação da ADA.
 
 

SOLUBILIDADE E DESINTEGRAÇÃO
 
 

Os resultados obtidos a partir dos testes de solubilidade e desintegração estão na Tabela XVII.
 
 

TABELA XVII. Solubilidade e desintegração percentual dos cimentos testados.

Cimentos obtidos com os seguintes líqüidos
 
Variação percentual de peso
 
Média
 
Aproximação
Eugenol   -2,83 -2,80 -2,79 -2,82 -2,85  
-2,82
 
-2,80
Eugenol + Óleo de soja   -4,21 -4,34 -4,19 -4,20 -4,28  
-4,24
 
-4,20
Eugenol + Óleo de milho   -4,95 -4,73 -4,80 -4,84 -4,89  
-4,84
 
-4,80
Eugenol + Óleo de rícino   -5,10 -5,07 -5,11 -5,12 -5,09  
-5,10
 
-5,10
Eugenol + Óleo de amêndoas doces   -4,26 -4,24 -4,25 -4,27 -4,25  
-4,25
 
-4,30

Os testes de normalidade, realizados com os dados originais (massa em miligramas) indicaram tratar-se de uma distribuição não-normal, que conduziu à aplicação do teste de Kruskal-Wallis, o qual indicou significância ao nível de 1% para uma probabilidade de H0 de 0,02%.

A seguir, compararam-se as médias dos postos das amostras dos cimentos testados (Tabela XVIII).
 
 

TABELA XVIII. Solubilidade e desintegração:Comparação entre as médias dos postos das amostras dos cimentos testados.
Amostra comparadas

(duas a duas)

 
Diferenças entre médias
 
Significância
(Eugenol) X (eugenol + óleo de soja)  
7.0000
 
***
(Eugenol) X (eugenol + óleo de milho)  
15.0000
 
***
(Eugenol) X (eugenol + óleo de rícino)  
20.0000
 
***
(Eugenol) X (eugenol + óleo de amêndoas doces)  
8.0000
 
***
(Eugenol + óleo de soja) X (eugenol + óleo de milho)  
8.0000
 
***
(Eugenol + óleo de soja) X (eugenol + óleo de rícino)  
13.0000
 
***
(Eugenol + óleo de soja) X (eugenol + óleo de amêndoas doces)  
1.0000
 
ns
(Eugenol + óleo de milho) X (eugenol + óleo de rícino)  
5.0000
 
**
(Eugenol + óleo de milho) X (eugenol + óleo de amêndoas doces)  
7.0000
 
***
(Eugenol + óleo de rícino) X (eugenol + óleo de amêndoas doces)  
12.0000
 
***
Valores críticos   (0,05) = 3.0870 *   (0,01) = 4.2102**   (0,001) = 5 6975*** ns= não significante

 

Pelo exame da Tabela XVIII, observou-se que a interação entre os cimentos obtidos a partir das misturas do eugenol +óleo de amêndoas e eugenol + óleo de soja mostrou-se com diferença estisticamente não-significante.

O cimento obtido a partir do Eugenol apresentou diferença significante ao nível de 0,1% quando comparado com os cimentos obtidos com o Eugenol misturado com os óleos de amêndoas doces, soja, milho e de rícino.

O cimento cujo líqüido era composto de eugenol + óleo de milho apresentou diferença estatística ao nível de 1% quando comparado com o cimento obtido a partir da mistura eugenol + óleo de rícino.

Um cimento obturador de canal radicular deve promover um selamento hermético da cavidade endodôntica. Assim, ele não deve sofrer solubilidade e desintegração. Esse requisito é um dos mais difíceis de ser alcançado, pois a solubilidade ocorre em maior ou menor grau na maioria dos materiais.

Observou-se, nesse estudo, que o cimento do tipo Grossman obtido com Eugenol apresentou o menor grau de solubilidade e desintegração (2,82%), sendo que a Especificação da ADA estabelece o valor máximo para o material testado.

O eugenol, quando recebe a adição de óleos vegetais na proporção de 5:1, produz cimentos do tipo Grossman com maior grau de solubilidade e desintegração, sempre maior ainda que a máxima permitida pela Especificação 57 da ADA.

Assim, parece lógico contra-indicar a adição de óleos vegetais ao eugenol na formulação dos líqüidos dos cimentos. Como os óleos vegetais não interagem com nenhum dos produtos químicos do pó do cimento e ficam livres na sua massa endurecida, pode ocorrer passagem da água do meio externo para o cimento. O eugenolato de zinco é um composto iônico. A água também o é e tem o poder de substituir o óleo (composto não iônico) pelo menos nas regiões superficiais do corpo de prova, aumentando a solubilidade do cimento. Outro fator que influi na propriedade em pauta é que a água resultante da reação entre o eugenol e o óxido de zinco tem a sua saída da massa dificultada pela presença dos óleos vegetais.

A adição de óleos vegetais reduz a quantidade de pó adicionado ao líqüido para obter a consistência clínica desejada (Tabela V). O teste de regressão linear e correlação indicou haver uma relação inversa (r = - 0,8845) estatística ao nível de 1% entre a solubilidade e a relação pó/líqüido, ou seja, quanto maior a proporção pó-líqüido, menor a solubilidade, ou seja, mais zinco reagirá com o eugenol disponível, proporcionando uma matriz mais homogênea. Esses dados foram constatados por SIMÕES FILHO (1969) que relatou ser a solubilidade de um material inversamente proporcional à sua relação pó/líqüido.

SAVIOLI (1992) constatou que o tetraborato de sódio anidro é o responsável pela solubilidade e desintegração do cimento do tipo Grossman obtido com o Eugenol. O tetraborato de sódio anidro é altamente solúvel em água.

Assim, se adicionarem óleos vegetais ao eugenol, deve-se pensar em remover da formulação do pó do cimento o tetraborato de sódio anidro.

Na fórmula de GROSSMAN (1958), o óleo de amêndoas doces foi adicionado ao eugenol com a finalidade de retardar o tempo de endurecimento. Em 1974, este autor, colocou o tetraborato de sódio anidro ao pó, com intuito de retardar o tempo de endurecimento e remove o óleo de amêndoas doces do líqüido. Os fabricantes do cimento do tipo Grossman no Brasil (Fillcanal , Grosscanal  e Endofill ) utilizam a adição de tetraborato de sódio anidro na composição do pó do cimento e a de óleos de amêndoas doces ao eugenol.

SILVA (1992) observou que nenhum dos cimentos tipo Grossman produzidos no Brasil (FORP-USP, Grosscanal , Fillcanal , Endofil  e Inodon ) preenche a norma 57 da ADA quanto à solubilidade e desintegração, todos com índices superiores a 3%. Esse autor verificou que todos os cimentos estudados, com exceção do FORP-USP, apresentavam óxido de magnésio em sua composição. Este óxido é mais solúvel que o óxido de zinco (BRAUER, 1967).

Quanto à composição do pó, são vários os fatores que podem interferir nas propriedades de solubilidade e desintegração. Os estudos realizados a respeito da influência do tamanho das partículas do pó sobre a solubilidade e desintegração do cimento mostraram que quanto maior o tamanho das partículas, menor será a superfície de contato, resultando em um aumento da solubilidade e desintegração do cimento (NORMAN at al, 1964; FRAGOLA et al 1979).

Devido aos dados obtidos neste trabalho, onde a adição de óleos vegetais favorece a solubilidade e desintegração dos cimentos do tipo Grossman e aos resultados de SAVIOLI (1992), onde constatou que o tetraborato de sódio anidro constituinte do pó do cimento de Grossman (1962 e 1974) é altamente solúvel em água, sugerem-se novos estudos com o intuito de aumentar o tempo de endurecimento sem a adição de componentes indesejáveis tanto no pó como no líqüido.
 
 

ADESIVIDADE

A adesividade dos cimentos obturadores de canais radiculares foi calculada baseando-se na resistência à tensão de tração exercida sobre o corpo de prova.

Assim, para calcular a tensão de tração necessária para o deslocamento do corpo de prova da dentina, aumentava-se a massa do prato da máquina de tração, até obter-se o deslocamento.

Pesou-se a massa necessária para o deslocamento de cada corpo de prova, para cada cimento testado. Os valores obtidos estão listados na tabela XIX.
 
 

TABELA XIX. Massas necessárias para deslocar os cimentos testados da dentina.

Cimentos obtidos com os seguintes líqüidos
 
Massa em Kg
 
Média
Eugenol  
2,157 2,301 2,232 2,250 2,190
 
2,226
Eugenol + Óleo de soja  
1,470 1,398 1,404 1,410 1,420
 
1,420
Eugenol + Óleo de milho  
1,100 0,950 0,839 0,700 0,910
 
0,900
Eugenol + Óleo de rícino  
0,316 0,208 0,306 0,295 0,350
 
0,295
Eugenol + Óleo de amêndoas doces  
1,336 1,326 1,395 1,356 1,370
 
1,357

Para avaliar a força de tração necessária para o deslocamento, aplicou-se a segunda lei de NEWTON: [R] = m. [ ]. Onde [R] é a intensidade da resultante da força; "m"é a massa aplicada ao prato da máquina de tração e [ ] a intensidade de aceleração.

Assim, aplicando-se a referida lei de NEWTON aos valores da Tabela XIX e considerando [ ] a intensidade da aceleração da gravidade constante e igual a 10 m\s2, obtém-se a Tabela XX com os valores de tração exercidos nos corpos de prova. As unidades de medidas estão de acordo com o sistema internacional: força em Newton; aceleração em m\s2.
 
 
 
 

TABELA XX. Força de tração em Newtons necessária para o deslocamento dos cimentos testados da superfície da dentina.
Cimentos obtidos com os seguintes líqüidos
 
Massa em Kg
 
Média
Eugenol  
21,57 23,01 22,32 22,50 21,90
 
22,26
Eugenol + Óleo de soja  
14,70 13,98 14,04 14,10 14,20
 
14,20
Eugenol + Óleo de milho  
11,00 9,50 8,39 7,00 9,10
 
9,00
Eugenol + Óleo de rícino  
3,16 2,08 3,06 2,95 3,50
 
2,95
Eugenol + Óleo de amêndoas doces  
13,36 13,26 13,95 13,56 13,70
 
13,57

 

Como os cilindros que continham os cimentos obturadores testados apresentavam um diâmetro de 6 mm, ou seja, 0.006 metros, calculou-se a sua área de secção transversal, que corresponde à área de contato do cimento com a dentina, por meio da equação (I).

S =  R2 Equação (I)

onde:

S= Área de secção transversal do cilindro que contém o cimento,

R= Raio de secção transversal igual a 0.003 m,
 = 3.1416.

Logo, a área determinada é constante e igual a 2,82 x 10-5 m2.

Para o cálculo da tensão de tração, aplicou-se a equação (II).
  = T/ S Equação (II)

onde:

 = Tensão da tração em Mega-Pascal (MPa),

T= Tração em Newton (N),

S= Área em m2.
 
 

Assim, a Tabela XXI expressa os valores de tensão de tração em Mega-Pascal (MPa). Um Mega-Pascal significa 106 Newton/ m2.
 
 

Valores em Mega Pascal
 
TABELA XXI.Cimentos obtidos com os seguintes líqüidos
 
Tensão de Tração
 
Média
Eugenol  
0,765 0,816 0,791 0,979 0,776
 
0,825
Eugenol + Óleo de soja  
0,521 0,496 0,479 0,500 0,503
 
0,500
Eugenol + Óleo de milho  
0,390 0,337 0,298 0,248 0,323
 
0,319
Eugenol + Óleo de rícino  
0,112 0,074 0,108 0,105 0,124
 
0,105
Eugenol + Óleo de amêndoas doces  
0,474 0,470 0,495 0,481 0,486
 
0,481

 

A força de tração é uma grandeza vetorial composta de intensidade, direção e sentido. A tensão de tração é uma grandeza escalar composta apenas de intensidade.

Considerando que a adesividade do cimento é diretamente proporcional à tensão de tração, pode-se, então, afirmar que a adesão será maior tanto quanto maior for a tensão de tração necessária para o deslocamento do corpo de prova contendo o cimento testado.

Após as determinações das tensões de tração necessárias para deslocar os materiais cimentados na dentina, realizaram-se os estudos dos parâmetros amostrais que evidenciaram ser a distribuição não normal, o que conduziu à aplicação do teste de Kruskal-Wallis. Este indicou significância ao nível de 1% para uma probabilidade de H0 de 0,02%.

Procedeu-se então à realização das comparações das médias dos postos das amostras, analisadas pelo teste de Kruskal-Wallis, que pode ser visto na Tabela XXII.
 
 
 

TABELA XXII. Adesividade: Comparação entre as médias dos postos das amostras dos cimentos
Amostras comparadas

(duas a duas)

 
Diferenças entre médias
 
Significância
(Eugenol) X (eugenol + óleo de soja)  
5.6000
 
***
(Eugenol) X (eugenol + óleo de milho)  
15.0000
 
***
(Eugenol) X (eugenol + óleo de rícino)  
20.0000
 
***
(Eugenol) X (eugenol + óleo de amêndoas doces)  
9.4000
 
***
(Eugenol + óleo de soja) X (eugenol + óleo de milho)  
9.4000
 
***
(Eugenol + óleo de soja) X (eugenol + óleo de rícino)  
14.4000
 
***
(Eugenol + óleo de soja) X (eugenol + óleo de amêndoas doces)  
3.8000
 
**
(Eugenol + óleo de milho) X (eugenol + óleo de rícino)  
5.0000
 
***
(Eugenol + óleo de milho) X (eugenol + óleo de amêndoas doces)  
5.6000
 
***
(Eugenol + óleo de rícino) X (eugenol + óleo de amêndoas doces)  
10.6000
 
***
Valores críticos   (0,05) = 2.5786 *   (0,01) = 3.5168**   (0,001) = 4.7591***

 

Com os resultados obtidos, pode-se observar que o cimento obtido a partir do Eugenol apresentou diferença significante estatística ao nível de 0,1% em relação aos cimentos obtidos a partir do eugenol + óleo de soja, eugenol + óleo de milho, eugenol + óleo de rícino, eugenol + óleo de amêndoas doces.

O eugenol + óleo de soja, quando comparado com eugenol + óleo de amêndoas doces, apresentou diferença estatística ao nível de 1%.

Sabe-se que nenhum teste de adesão de cimento obturador de canais radiculares foi, ainda, aceito para ser aplicado como uma Especificação da American Dental Association.

Alguns pesquisadores têm proposto métodos de avaliação da adesividade dos cimentos endodônticos (GROSSMAN, 1976; KEMPER & KILIAN, 1976; McCOMB & SMITH, 1976; WENNBERG &  RSTAVIK, 1990).

Neste estudo, aplicou-se o método proposto por FIDEL (1993). Trata-se do método proposto por GROSSMAN (1976), com pequenas modificações, já que GROSSMAN colocava o cimento obturador sobre uma lâmina de vidro e nesse trabalho, FIDEL (1993) aplicou o cimento sobre dentina humana.

Os testes de mensuração da adesividade correspondem à tensão de tração necessária para deslocar um material ligado ao outro, por meio de uma força perpendicular à interface entre o material e a superfície. Ou também, poderia ser medido pela força de cizalhamento, que é uma força aplicada paralelamente à interface do material e superfície.

FIDEL (1993) considerou força de adesão como sendo a resultante das forças de atração entre moléculas de materiais diferentes. Essa resultante tem a mesma intensidade (módulo) e direção da força de tração. A única diferença está no sentido, ou seja, para cima. É o caso em seu experimento, onde a força de adesão ocorre entre as moléculas do cimento testado e da dentina, e a força de tração foi aplicada perpendicularmente à interface e para cima.

Como os corpos de prova apresentam a mesma área, esse fator foi constante. Para efeito de cálculo, a intensidade da força resultante da adesão é igual a força de tração.

Fica claro que a adição de óleos vegetais (soja, amêndoas doces, milho e rícino) ao eugenol produz, quando manipulados com o pó do cimento de Grossman, um cimento com menor adesão à dentina, do que quando se obtém um cimento a partir do uso do Eugenol.

Dentre os óleos vegetais, o que menos interfere na adesão é o óleo de soja, seguido do óleo de amêndoas doces. O óleo de rícino favorece a menor adesão entre o cimento e a dentina.

GROSSMAN (1958) adicionou resina vegetal à fórmula de seu cimento com intuito de fornecer a ele a adesão, propriedade necessária para diminuir a interface dentina/material. À medida que se adiciona óleo vegetal ao eugenol, ocorre uma diluição do eugenol e, portanto, há uma menor quantidade de eugenol para reagir com o óxido de zinco. O óleo vegetal fica livre e favorece o isolamento das partículas de breu, que deixa de exercer sua função. Assim, a adição de óleos vegetais desfavorece a adesão do cimento obturador à dentina.

Foi observada a relação entre a adesividade e a proporção pó/líqüido quando se realizou o teste de regressão linear e correlação. Os resultados apontaram r = + 0,9062, significante ao nível de 1% de probabilidade. O sinal positivo de "r" indica tratar-se de uma correlação direta, ou seja, quanto maior a proporção pó/líqüido, maior será a adesividade do cimento.
 
 

CONSIDERAÇÕES FINAIS
 

Os produtos odontológicos industrializados e comercializados no Brasil deveriam passar por um rígido controle de qualidade para que o profissional pudesse receber um bom material.

Os cimentos obturadores de canais radiculares do tipo Grossman, por serem os mais utilizados em nossa região (SAQUY, 1989) receberam mais atenção de nossa parte. No trabalho de SAVIOLI (1992), pôde-se verificar a ação de cada componente químico do pó sobre as propriedades físicas desse cimento. SILVA (1992) verificou que os cimentos do tipo Grossman produzidos no Brasil preenchem em parte as Especificação da ADA.

FIDEL (1993) estudou as propriedades físico-químicas dos cimentos obturadores de canais radiculares contendo hidróxido de cálcio e fez observações importantes: eles apresentaram alta solubilidade e pouca adesão, com exceção do Sealer 26 ; o cimento do tipo Grossman apresentou adesividade maior que os cimentos de hidróxido de cálcio, porém mais baixa que os cimentos à base de resina epóxi.

No presente trabalho, verificou-se que a adição de óleos vegetais interfere na relação pó/líqüido, diminuindo a quantidade de pó que deve ser misturado com uma quantidade pré- estabelecida de líqüido, em relação ao uso do eugenol puro.

Quando o pó do cimento de Grossman é espatulado com o eugenol, a estrutura cimentante é dada pela reação do eugenol com o óxido de zinco numa relação equimolar. Os demais componentes do pó não entram na reação química, eles apenas preenchem os objetivos almejados quando foram adicionados, ou seja: o sulfato de bário e o subcarbonato de bismuto favorecem a radiopacidade; o tetraborato de sódio anidro retarda a reação entre o óxido de zinco e o eugenol por absorção da umidade do meio e o breu (colofônia) confere a adesividade que lhe é inerente ao material.

O uso de eugenol (5 partes) e óleo vegetal (1 parte) foi estabelecido por GROSSMAN (1958) quando esse autor utilizou o óleo de amêndoas doces, com o objetivo retardar o tempo de endurecimento do cimento. Esse retardo se dá por dois modos: a) a adição de óleos vegetais reduz a quantidade de eugenol presente e b) o óleo isola as moléculas do óxido de zinco, dificultando a reação de quelação do eugenol.

Quando GROSSMAN, em 1974, adicionou ao pó do cimento o tetraborato de sódio anidro, com muita propriedade, ele cancelou a adição do óleo de amêndoas doces, pois o novo produto adicionado promovia melhor retardamento que o óleo vegetal. Assim, as indústrias brasileiras deveriam ter, também, modificado suas fórmulas.

A adição de óleos vegetais (soja, amêndoas doces, milho e rícino) ao eugenol foi levada a efeito nesse trabalho, porque a indústria brasileira ainda opera com a adição de óleo, tido como de amêndoas doces, o que não foi detectado nesse trabalho.

O exame cromatográfico em fase gasosa evidenciou que os cimentos Fillcanal e Endofill apresentam óleo de soja em sua composição.

A adição de óleos vegetais ao eugenol provoca o aumento da viscosidade do líqüido e este fator interfere nas propriedades de escoamento e espessura do filme do cimento obturador testado.

O estudo das propriedades físico-químicas dos cimentos do tipo Grossman obtidos a partir de um líqüido composto de eugenol puro (5 partes) e óleos vegetais (1 parte) evidenciou que as propriedades de escoamento, tempo de trabalho, espessura do filme, solubilidade e desintegração e adesividade ficam prejudicadas. A utilização do eugenol puro para preparar o cimento de Grossman favorece a obtenção de um cimento com propriedades físico-químicas bem superiores do que as obtidas pela mistura eugenol + óleos vegetais.

Quanto aos óleos vegetais adicionados ao eugenol, o óleo de soja proporcionou um cimento com propriedades físico-químicas semelhantes àquelas do cimento derivado da adição do óleo de amêndoas doces ao eugenol. Com base nesses dados obtidos, a indústria brasileira não deveria colocar um produto e indicar outro em suas formulações.

Para elucidar melhor os resultados deste trabalho, construiu-se a Tabela XXIII, onde observam-se todos os testes de modo agrupados.

Este trabalho responde às interrogações feitas por SILVA (1992) a respeito de como seria a ação da adição dos óleos vegetais adicionados ao eugenol sobre as propriedades físico- químicas dos cimentos obturadores de canais radiculares à base de óxido de zinco e eugenol.
 
 
 
 
 

TABELA XXIII. Influência da adição de óleos vegetais ao eugenol sobre as propriedades físico-químicas do cimento de Grossman em comparação ao eugenol puro.
 
Escoamento
Tempo de trabalho
Tempo de endurecimento
Espessura do filme
Estabilidade dimensional
Solubili-dade
Adesivi-

dade

Eugenol + óleo de soja
P
P
M
P
=
P
P
Eugenol + óleo de milho
P
=
M
P
P
P
P
Eugenol + óleo de rícino
P
P
M
P
P
P
P
Eugenol + óleo de amêndoas 
P
P
M
P
=
P
P

P Piora; M Melhora; = Igual

Deve-se evitar a adição de óleos vegetais ao eugenol porque obtém-se cimentos do tipo Grossman com piores propriedades físico-químicas do que quando se usa eugenol puro.
 
 

CONCLUSÕES
 
 

1. Os líqüidos dos cimentos Endofill , Fillcanal e Grosscanal analisados neste estudo não contêm óleo de amêndoas doces em suas composições como afirmam os fabricantes.
2. Os líqüidos dos cimentos Endofill e Fillcanal apresentam soja misturada com o eugenol.
3. O pH e a viscosidade das misturas de óleos vegetais com eugenol são diferentes em relação ao Eugenol
  3.1 O pH do eugenol sofre redução com a adição dos óleos de rícino e de óleo de milho e aumenta com a adição do óleo de soja e óleo de amêndoas doces.
  3.2 A viscosidade das misturas de eugenol com óleos vegetais estudados aumenta quando comparado com a do Eugenol.
  3.3 O Eugenol apresenta menor viscosidade que as suas misturas com os óleos de amêndoas doces, milho, soja e rícino.
4. A adição de óleo vegetais (milho, soja, amêndoas doces e rícino) ao eugenol na proporção de 5:1 diminui a quantidade de pó que deve ser incorporada à mesma quantidade de líqüido para se obter a consistência clínica preconizada por GROSSMAN (1958).
5. O uso de Eugenol na espatulação do cimento do tipo Grossman proporciona a obtenção de um cimento com maior escoamento do que os cimentos obtidos com as misturas de eugenol + óleo vegetais.
  5.1 A mistura de eugenol com óleo de soja e amêndoas doces, na proporção 5:1, quando espatulada com o pó do cimento do tipo Grossman, proporciona a obtenção de cimentos com escoamentos estatisticamente semelhantes entre si.
  5.2 A mistura de eugenol com óleo de rícino na proporção de 5:1 espatulada com o pó do cimento Grossman possui o menor escoamento quando comparado com os cimentos obtidos com as demais misturas de eugenol com óleos vegetais
  5.3 A mistura de eugenol com óleo de milho possibilita a obtenção de um cimento do tipo Grossman que apresenta escoamento superior aos obtidos com a mistura de eugenol com os demais óleos vegetais.
  5.4 O escoamento do cimento tipo Grossman está relacionado com a viscosidade do líqüido de modo inversamente proporcional, ou seja, quanto mais viscoso for o líqüido, menor será o escoamento do cimento.
6. A adição de óleos vegetais ao eugenol, quando espatulada com o pó de um cimento do tipo Grossman proporciona menor tempo de trabalho.
  6.1 A mistura eugenol + óleo de milho na proporção 5:1 não acarreta diferença estatística significante em relação ao tempo de trabalho do cimento do tipo de Grossman obtido com o Eugenol.
  6.2 Quanto menor for a relação pó-líqüido, maior será o tempo de endurecimento do cimento tipo Grossman.
7. A adição de óleos vegetais ao eugenol promove retardamento no tempo de endurecimento dos cimentos do tipo Grossman.
  7.1 A ordenação crescente dos líqüidos que promovem o retardamento do tempo de endurecimento é a seguinte: Eugenol, eugenol + óleo de soja,eugenol + óleo de amêndoas doces, eugenol + óleo de rícino e eugenol + óleo de milho.
8. O Eugenol e as misturas de eugenol + óleo de soja e eugenol + óleo de amêndoas doces, na proporção de 5:1, produzem, quando misturadas ao cimento do tipo Grossman, espessuras de filme dentro das normas da ADA.
  8.1  O eugenol, quando misturado com óleo de milho e óleo de rícino na proporção de 5:1, produz cimento com espessura do filme superior a 50 micrometros, o que esta em desacordo com as normas da ADA.
  8.2 A espessura do filme de um cimento tipo Grossman é inversamente proporcional ao escoamento desse cimento
9. Quando adicionam-se ao eugenol óleos vegetais na proporção de 5:1, não ocorrem grandes mudanças na alteração dimensional do cimento obtido; eles sofrem expansão, estando assim dentro dos limites permitido pela ADA.
10. A solubilidade e desintegração aumentam nos cimentos do tipo Grossman obtidos a partir de líqüidos compostos de eugenol + óleos vegetais.
  10.1 Quanto maior a proporção pó-líqüido menor será a solubilidade e desintegração do cimento tipo Grossman
11. A adição de óleos vegetais ao eugenol reduz a capacidade de adesão do cimento do tipo Grossman à dentina.
  11.1 Quanto maior a relação pó-líqüido maior será a adesividade do cimento tipo Grossman à dentina.
12. Deve-se evitar a adição de óleo de amêndoas doces, óleo de soja, óleo de milho e óleo de rícino ao eugenol porque o líqüido resultante ao reagir com o pó do cimento do tipo Grossman, proporciona a obtenção de cimentos obturadores dos canais radiculares que apresentam propriedades físicas inferiores às obtidas com o uso do eugenol.

 

RESUMO
 
 

No presente estudo, foram pesquisados os cimentos nacionais do tipo Grossman a fim de determinar a presença de óleo de amêndoas doces adicionado ao eugenol, ou se este óleo era substituído por algum óleo alternativo. Analisou-se também o efeito da adição de óleos vegetais (amêndoas doces, soja, milho e rícino) ao eugenol sobre as seguintes propriedades físico-químicas: escoamento, tempo de trabalho, tempo de endurecimento, estabilidade dimensional, solubilidade e desintegração, espessura do filme e adesividade.

Os experimentos foram realizados de acordo com a Especificação 57 para materiais obturadores de canais radiculares da American Dental Association (ADA). Para esta análise, foram preparados na proporção de 5:1 os seguintes líqüidos: eugenol + óleo de soja; eugenol + óleo de milho; eugenol + óleo de milho; eugenol + amêndoas doces e eugenol + óleo de rícino.

Observou-se, através do exame cromatográfico em fase gasosa, que os líqüidos dos cimentos Fillcanal e Endofill apresentam óleo de soja em sua composição.

Foram analisados a viscosidade e o pH dos líqüidos que seriam submetidos aos testes das propriedades físicas, verificando-se que a adição de óleos vegetais ao eugenol provoca aumento da viscosidade do líqüido, e este fator interfere nos resultados dos testes de escoamento e espessura do filme do cimento.

A adição de óleos vegetais ao eugenol, na proporção de 5:1, diminui a quantidade de pó que deve ser incorporada à mesma quantidade de líqüido para se obter a consistência clínica preconizada por GROSSMAN (1974)

O estudo das propriedades físico-químicas dos cimentos tipo Grossman obtidos a partir de um líqüido composto de eugenol (5 partes) e óleos vegetais (1 parte) evidenciou que o escoamento, o tempo de trabalho, a espessura do filme e a solubilidade e desintegração apresentam valores acima daqueles aceito pela Especificação 57 da ADA. A utilização apenas do eugenol para o preparo do cimento tipo Grossman favorece a obtenção de um material com propriedades físico-químicas bem superiores àquelas dos cimentos obtidos a partir da mistura de eugenol + óleos vegetais.
 
 

SUMMARY
 
 

In the present study we investigated Brazilian cements of the Grossman type in order to determine the presence of sweet almond oil added to eugenol, or whether some alternative oil was present in its place. We also analyzed the effect of the addition of vegetal oils (sweet almond, soy, corn, and castor oil) to eugenol on the following physicochemical properties: flow, working time, hardening, dimensional stability, solubility and desintegration, film thickness, and adhesiveness.

The experiments were carried out according to Specification 57 for root canal filling materials of the American Dental Association (ADA). The following fluids were prepared at the 5:1 proportion for analysis: eugenol + soy oil; eugenol + corn oil; eugenol + sweet almonds, and eugenol + castor oil.

Analysis by gas phase chromatography showed that the cements Fillcanal and Endofill have soy oil in their composition.

The viscosity and pH of the fluids to be submetted to the physical property test analyzed, and it was found that the addition of vegetal oils to eugenol increases fluid viscosity and that this factor interferes with the results of the flow and cement film thickness.

Yhe addition of vegetal oils to eugenol at the 5:1 proportion reduces the amount of powder to be incorporated into the same amount of fluid to obtain the clinical consistency recommended by GROSSMAN (1974).

The study of the physicochemical properties of cements of the Grossman type obtained from fluid consisting of 5 parts eugenol and 1 party vegetal oil demonstrated that flow, working time, film thickness and solubility and desintegration presented values exceeding those accepted by ADA Specification 57. The use of eugenol alone for the preparation of cement of the Grossman type favors the production of a material with physicochemical properties far superior to the those of the cements obtained from a mixture of eugenol and vegetal oils.
 
 

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